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O protagonismo humano em xeque: o impacto da IA na cultura
A sociedade contemporânea vive, em polvorosa, a ascensão das inteligências artificiais e seu impacto na vida e no comportamento humano. Sobretudo, no campo da produção intelectual, muitos se questionam se este é o fim do protagonismo humano na cultura, se passaremos a ser simples consumidores de textos, áudios e vídeos produzidos automaticamente por robôs.
A cultura como espelho da humanidade
A cultura é reflexo do estado da sociedade humana, seus hábitos, costumes, religiões entre vários outros aspectos, assim como a estrutura familiar, política e a realidade econômica. Dessa maneira, não há como a cultura refletir outra coisa, senão o próprio estado do ser humano no tempo. Logo, a cultura é a expressão de valores e sentidos, próprios à realidade no tempo em que a sociedade está inserida. Assim, podemos definir que a cultura é a pegada do homem no tempo.
A cultura de massas: a cultura enlatada
A cultura de massas é um fenômeno marcante que teve seu início no século XX, e este é definido por Edgar Morin como o processo pelo qual a alta cultura é resumida e simplificada, figurativamente enlatada para ser consumida pelo público em geral. Diferente da alta cultura, a cultura de massas é pensada de forma a depender muito menos de que o público alvo tenha uma base cultural e intelectual. Ela é pensada de maneira a fomentar valores, pensamentos e comportamento, em especial de forma a atender interesses mercadológicos.
A história da humanidade em constante reinvenção
Em suas diversas eras, a humanidade deparou-se com realidades em que se viu obrigada a ressignificar a maneira como entende seu próprio papel. Esse processo se deu, sobretudo, no contexto na qual a tecnologia, mais especificamente o conforto provido pela tecnologia, lhe permitia transcender atividades que antes demandavam muito mais tempo e esforço.
O desafio da IA para a criatividade humana
A tecnologia da informação não só forçou o ser humano a repensar seus hábitos, mas o desafia a voltar a pensar em seu papel. Há pensamentos fatalistas que profetizam, de maneira quase apocalíptica, que as inteligências artificiais formarão seres humanos incapazes de pensar, logo, incapazes de produzir a cultura em suas diversas expressões.
Nesse contexto, textos, imagens, músicas e vídeos são gerados em escala massiva por um vasto leque de ferramentas baseadas em inteligência artificial. A produção de conteúdo abraçou o uso dessas ferramentas e projeta-se que o uso delas não irá retroceder. Logo, tudo o que consumimos, em breve, será produzido por inteligência artificial?
A adaptação à tecnologia
O encantamento da novidade, os comportamentos por vezes inconsequentes na utilização dessa tecnologia etc. podem parecer confirmar as suspeitas de um pensamento fatalista. Mas, assim como outras tecnologias, essa se saturará e se tornará tão banal na rotina humana, que o homem voltará a encontrar seu lugar e seu papel, a sociedade e o comportamento se adaptarão e logo esta será mais uma na miríade de tecnologias que fazem parte do cotidiano ordinário.
A IA como ferramenta, não como substituto
Ao pensarmos na IA como algo que poderia suplantar o homem com agente ativo na cultura, estaríamos supondo ser ela algo muito maior do que uma ferramenta criada pelo próprio homem. Poderia o homem criar algo que não fosse reflexo dele próprio? Poderia o homem criar algo maior do que ele mesmo? Não, a IA não é senão uma nova ramificação da cultura, talvez muito mais enlatada, automatizada e colocada em linha de produção. Mas mesmo a mais sofisticada linha de produção autônoma precisa de alguém que a programe e lhe dê os parâmetros pelos quais trabalhar.
A cultura como expressão humana: presente e futuro
Portanto, a cultura é e continuará a ser uma multiplicidade de expressões do ser humano. Este, direta e indiretamente, deixará rastros de sua presença no tempo. Tal como Deus o criou, a imagem e semelhança d’Ele, dotado por Ele de inteligência, habilidade e inventividade, protagonista na criação. Ainda que grandes coisas possam ser criadas pelo homem, suas criações e sua cultura são e sempre serão apenas reflexo daquilo que o homem é, com suas capacidades e limitações.
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Jonatas Passos é natural de Cruzeiro (SP), marido, pai e colaborador da Fundação João Paulo II. Formado em Tecnologia, Informática e História. Pós-Graduado em Jornalismo e História do Brasil, com extensão em História da Religião.
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