Acesso e melhorias de políticas de saúde são fundamentais para controle da asma grave

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Atualmente, cerca de cinco a seis pacientes com asma morrem por dia no Brasil[1]. O desconhecimento sobre os principais sintomas, gravidade e cronicidade da doença, bem como sobre o tratamento, fazem com que se tenha um alto subdiagnóstico de asma[2].

A situação fica ainda pior se tratando do perfil de pacientes que convivem com a asma grave, também pouco conhecido, principalmente em relação às características clínicas e tipos de tratamento utilizados para controle, fazendo com que essa população se torne um desafio de saúde pública, até então, com altas taxas de internação e mortalidade[3].

O estudo brasileiro Registro Brasileiro de Asma Grave (REBRAG), conduzido pelo Grupo Brasileiro de Asma Grave (Grupo BraSA), realizou pela primeira vez a análise do perfil de pacientes com asma grave no país, trazendo insights relevantes para um olhar mais cuidadoso e especializado no controle efetivo da asma grave, garantindo que os pacientes recebam terapias mais eficazes e adequadas às suas necessidades específicas, além de propiciar melhorias nas políticas de saúde[4].

Atualmente, mais de 20 milhões de pessoas convivem com asma no Brasil, entre crianças e adultos. Cerca de 5% a 10% têm a condição grave da doença, vivenciada por crises recorrentes, com qualidade de vida reduzida e maiores taxas de hospitalizações[5]. Esse cenário desafiador se deve principalmente pela falta de controle da doença. Segundo o estudo REBRAG, 60% dos pacientes ainda não têm a asma grave controlada e, 69% dos pacientes maiores de 18 anos têm histórico de internação.

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O impacto econômico da asma no sistema de saúde brasileiro também tem sido alarmante. Um outro estudo demostrou que o custo médio de internação desse perfil de paciente chega a ser de R$ 9.307 e, quando necessita de UTI, o valor sobe para R$ 75.252 reais[6].

Por ser uma doença crônica, a asma grave necessita de tratamento individualizado e contínuo a partir da identificação de seu fenótipo específico. Os mais comuns em todas as faixas etárias são a asma grave alérgica e asma grave eosinofílica[7].

Pelo estudo REBRAG, foi possível constatar que, dentre a população adulta, 28% dos pacientes utilizam terapia tripla, combinando corticosteroide inalatório, broncodilatador de longa ação e antagonista muscarínico, em que a remissão clínica, ou seja, redução ou desaparecimento dos sintomas, ocorre em 9% dos casos. Já em relação aos 40% dos pacientes que utilizam produtos biológicos, a remissão clínica ocorre em 22% dos casos.

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A introdução de tratamentos biológicos, que têm como alvo os principais mediadores da inflamação, são uma oportunidade para melhorar o controle dos sintomas, ao mesmo tempo em que reduzem o risco de exacerbação e a dependência de corticóide oral em pacientes com asma grave[8], visto que o uso de corticosteroides orais, de forma intermitente ou crônico no tratamento da asma, pode trazer risco de eventos adversos importantes, como diabetes, hipertensão, catarata, osteoporose, entre outros.

Entretanto, apesar de vários tratamentos biológicos, com mecanismos de ação variados, estarem disponíveis para o tratamento de pacientes com asma grave, dados mostram que cerca de 60% dos pacientes elegíveis a imunobiológico apresentavam sintomas não controlados ou controlados de forma subótima, destacando um benefício potencial não alcançado.

A asma é uma doença heterogênea, por isso, conhecer o fenótipo específico, características clínicas do paciente – problemas de saúde associados, como obesidade, refluxo, ansiedade e depressão, comuns em pacientes com asma grave –, fatores de risco, evolução da função pulmonar, resposta aos tratamentos e padrões de remissão clínica são essenciais para melhorias no diagnóstico, prognóstico e tratamento da doença, devendo ser levados em consideração para o manejo correto da doença, por meio do acesso a tratamentos disponíveis.

No Sistema Único de Saúde (SUS), somente 40% dos adultos com indicação têm acesso aos imunobiológicos. Esse número evidencia a necessidade de ampliar o acesso a essas terapias avançadas, garantindo que mais pacientes possam se beneficiar dos avanços no tratamento da asma grave no Brasil, com o objetivo de reduzir taxas de exacerbações, hospitalizações, melhorar a função pulmonar de forma rápida e sustentada, eliminando o uso de corticosteroides orais e reduzindo corticosteroides inalatórios, para o controle efetivo da doença e possível mudança do seu cenário no Brasil.


[1] Plataforma IVIS. Ministério da Saúde, Brasil. Painel de Monitoramento da Mortalidade CID-10, CID-J45 utilizado. Acessado em outubro/2024.

[2] Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia para o manejo da asma ‑ 2012. J Bras Pneumol. 2012;38(Suppl 1):S1 ‑S46.

[3] Ministério da Saúde. PCDT Asma Grave, 2023.

[4] ATS Journals. Impact of Disease, Use of Biologics and Clinical Remission in Severe Asthma: Insights From a Multicenter Longitudinal Real-life Registry in Brazil. Disponível em: https://www.atsjournals.org/doi/abs/10.1164/ajrccm-conference.2024.209.1_MeetingAbstracts.A5366

[5] Global Initiative for Asthma (GINA) [homepage on the Internet]. Bethesda: GINA; c2022 [cited 2023 Jan 25]. Global Strategy for Asthma Management and Prevention (Updated 2022). Available from: https://ginasthma.org/ginareports/

[6] Nascimento AO et al. The economic impact of asthma on private healthcare system in Brazil: Economic impact of asthma in Brazil. Medicine (Baltimore). 2023 Mar 24;102(12):e33077.

[7] Athanazio R, et al. Prevalence of the eosinophilic phenotype among severe asthma patients in Brazil: the BRAEOS study. J Bras Pneumol. 2022 Jul 8;48(3):e20210367. doi: 10.36416/1806-3756/e20210367. PMID: 35830052; PMCID: PMC9262440.

[8] Jackson DJ, Pelaia G, Emmanuel B, Tran TN, Cohen D, Shih VH, Shavit A, Arbetter D, Katial R, Rabe APJ, Garcia Gil E, Pardal M, Nuevo J, Watt M, Boarino S, Kayaniyil S, Chaves Loureiro C, Padilla-Galo A, Nair P. Benralizumab in severe eosinophilic asthma by previous biologic use and key clinical subgroups: real-world XALOC-1 programme. Eur Respir J. 2024 Jul 11;64(1):2301521. doi: 10.1183/13993003.01521-2023. PMID: 38575162; PMCID: PMC11237372.

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