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Advogado é um profissional liberal, graduado em Direito e autorizado pelas instituições competentes de cada país a exercer o jus postulandi, ou seja, a representação dos legítimos interesses das pessoas físicas ou jurídicas em juízo ou fora dele, quer entre si, quer ante o Estado.
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A Lei Pelé, nome popular da Lei nº 9.615/1998, é o marco jurídico do esporte brasileiro. Criada para modernizar as relações no cenário esportivo, essa legislação regula as atividades das entidades de prática desportiva, os contratos de trabalho de atletas profissionais, a gestão financeira de clubes, os direitos de transmissão e imagem, a formação de atletas e o papel do poder público no desenvolvimento do desporto.
Aprovada em 1998, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, a Lei Pelé recebeu esse nome em homenagem a Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, que foi Ministro dos Esportes à época e teve participação ativa na elaboração da norma. Desde então, a lei passou por diversas alterações, visando se adaptar à realidade prática e às exigências internacionais do esporte, sobretudo do futebol.
Neste artigo completo, vamos explicar o que é a Lei Pelé, sua origem, os pontos principais da legislação, os tipos de desporto que ela abrange, os direitos dos atletas profissionais, a relação entre clubes e federações, o papel da formação esportiva, o impacto nas transferências e contratos, e como essa lei transformou o cenário jurídico do esporte no Brasil.
O que é a Lei Pelé
A Lei Pelé é a norma jurídica que regula o desporto no Brasil. Seu objetivo é garantir o ordenamento legal das atividades esportivas, promover a transparência na gestão dos clubes e entidades, proteger os direitos dos atletas e modernizar a estrutura de governança esportiva. Ela revogou a antiga Lei Zico (Lei nº 8.672/1993), trazendo avanços importantes nas áreas de trabalho, tributação, contratos e incentivo ao esporte.
A Lei Pelé tem aplicação ampla, abrangendo:
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O desporto profissional e amador
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A relação entre atletas e clubes
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A organização das entidades de administração do desporto (confederações e federações)
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A gestão financeira e administrativa de clubes
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A remuneração de atletas
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A formação de atletas nas categorias de base
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Os direitos de imagem e arena
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As obrigações trabalhistas no esporte profissional
O texto legal é extenso e complexo, com mais de uma centena de artigos, mas seus fundamentos giram em torno da autonomia esportiva, da proteção ao atleta e da profissionalização do esporte.
Principais objetivos da Lei Pelé
A Lei Pelé foi criada com os seguintes objetivos:
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Modernizar a legislação esportiva brasileira, alinhando-a às práticas internacionais
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Assegurar direitos trabalhistas aos atletas profissionais, com contratos registrados, recolhimento de INSS e FGTS, férias, 13º e cláusula penal
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Estabelecer regras para a formação de atletas, com incentivo à base e indenizações por formação
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Regulamentar a relação entre clubes, federações e confederações, respeitando a autonomia das entidades
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Disciplinar o uso de recursos públicos e o controle financeiro dos clubes
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Garantir a liberdade do atleta ao fim do contrato (fim do passe)
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Promover o acesso ao esporte e sua função educacional e social
Com isso, a lei promove uma visão mais profissional da atividade esportiva, sem deixar de lado a função social e cultural do desporto.
O contrato especial de trabalho desportivo
Um dos maiores avanços trazidos pela Lei Pelé foi a criação do contrato especial de trabalho desportivo, que é a base legal do vínculo entre o atleta profissional e o clube. Esse contrato:
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Deve ser feito por escrito
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Possui prazo determinado, com mínimo de 90 dias e máximo de 5 anos
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Deve conter cláusula penal para rescisão sem justa causa
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Deve ser registrado na entidade nacional de administração do desporto (por exemplo, a CBF, no caso do futebol)
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Garante todos os direitos trabalhistas previstos na CLT
Esse contrato é diferente dos contratos comuns da CLT porque reflete a realidade peculiar do esporte, como a curta carreira dos atletas, as exigências físicas e o risco de lesões. A cláusula penal protege tanto o clube quanto o jogador em caso de rescisão antecipada.
Além disso, o atleta também tem direito a:
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13º salário
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Férias com 1/3 constitucional
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FGTS
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Contribuição previdenciária
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Premiações e bônus por desempenho
O fim do passe e a liberdade do atleta
Antes da Lei Pelé, os atletas eram “propriedade” dos clubes, por meio do chamado passe. Mesmo após o fim do contrato, o jogador só poderia mudar de clube se o clube anterior permitisse ou recebesse pagamento.
A Lei Pelé acabou com o passe e consagrou a liberdade do atleta após o término do contrato. Agora, quando o contrato expira, o jogador pode assinar com outro clube livremente, sem pagamento de indenização ao clube anterior. Esse é o chamado “jogador livre”.
A única exceção são as indenizações por formação, devidas quando o atleta é transferido antes dos 23 anos e passou por categorias de base.
Direitos e deveres dos atletas profissionais
A Lei Pelé garante direitos importantes aos atletas profissionais, que podem ser cobrados judicialmente em caso de descumprimento por parte do clube. Entre os principais direitos estão:
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Receber salário mensal conforme contrato
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Ter a carteira de trabalho assinada
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Receber premiações, luvas e gratificações conforme pactuado
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Ter direito à assistência médica e cobertura previdenciária
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Participar de competições e treinos com regularidade
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Ter direito a férias, FGTS, INSS, e outras garantias da CLT
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Estabilidade em caso de acidente de trabalho (como lesão grave)
Em contrapartida, os atletas têm deveres, como:
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Cumprir regras de conduta e disciplina
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Comparecer a treinos, partidas e concentrações
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Zelar pela forma física e desempenho
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Respeitar o regulamento interno do clube
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Não se envolver em atos lesivos à imagem da entidade
A desobediência grave ou reiterada pode gerar rescisão por justa causa, conforme os termos da CLT.
Formação de atletas e contratos de base
Outro ponto relevante da Lei Pelé é a regulamentação da formação de atletas. Os clubes que investem na formação de jovens atletas têm direito a uma indenização por formação, se o atleta for transferido antes dos 23 anos.
Esse valor é calculado com base no número de anos que o atleta passou no clube, sua idade e o valor do novo contrato ou transferência. Essa regra estimula os clubes a manter categorias de base e formar novos talentos.
Para jovens atletas entre 14 e 20 anos, o clube pode firmar um contrato de formação esportiva, que deve:
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Ter como objetivo o ensino técnico, ético e esportivo
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Garantir acesso à educação e saúde
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Não gerar vínculo empregatício
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Respeitar os limites da legislação do menor
A profissionalização só é permitida a partir dos 16 anos, com autorização dos responsáveis legais.
Cláusula penal e rescisão de contrato
A cláusula penal é obrigatória no contrato de trabalho desportivo e protege as partes em caso de rompimento antecipado. A Lei Pelé determina que:
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A cláusula penal pode ser de até 400 vezes o salário do atleta nas transferências nacionais
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Nas transferências internacionais, não há limite, valendo o que for pactuado, conforme regras da FIFA
Se o clube demitir o atleta sem justa causa antes do fim do contrato, deve pagar a cláusula penal. Se o atleta romper o contrato injustificadamente, ele deverá pagar a multa ao clube. A cláusula penal visa compensar investimentos e evitar perdas abruptas.
Transferência de atletas e o papel das entidades desportivas
A Lei Pelé define as regras para a transferência de atletas entre clubes. As transferências podem ser:
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Definitivas, com extinção do contrato antigo e assinatura de novo vínculo
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Temporárias, por meio de empréstimo com aditivo contratual
Toda transferência deve ser registrada na entidade nacional de administração do desporto, como a CBF, no caso do futebol, e no sistema internacional da FIFA, para transferências entre países.
O atleta tem direito a ser informado sobre as negociações e manifestar seu consentimento. Ninguém pode ser transferido contra a vontade.
As entidades desportivas também devem garantir:
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Registro do atleta nas competições
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Pagamento de taxas e tributos
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Respeito às normas de fair play financeiro
Direitos de imagem e arena
A Lei Pelé separa a remuneração do atleta em:
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Salário (regido pela CLT)
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Direito de imagem (regido pelo Código Civil)
O direito de imagem é a autorização para que o clube use a imagem, nome, voz ou figura do atleta para fins comerciais ou promocionais. Esse pagamento é feito por fora do contrato de trabalho, mas não pode ultrapassar 40% da remuneração total. Caso contrário, a Justiça do Trabalho pode reconhecer como salário disfarçado.
O direito de arena é um valor pago pelas emissoras aos clubes pela transmissão das partidas. A Lei Pelé garante que 5% do valor recebido pelo clube seja repartido entre os atletas que participaram da partida, proporcionalmente.
Esses valores são direitos autônomos e não substituem o salário.
Responsabilidade dos clubes e gestão esportiva
A Lei Pelé também trouxe avanços na responsabilidade da gestão esportiva. Os dirigentes de clubes podem ser responsabilizados civil e criminalmente por má gestão, desvios ou uso indevido de recursos.
A lei exige:
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Prestação de contas
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Publicidade de balanços financeiros
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Responsabilidade fiscal e tributária
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Cumprimento de obrigações trabalhistas
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Profissionalização da administração
Clube que não cumpre essas exigências pode ser impedido de receber recursos públicos e de participar de competições oficiais.
Papel do poder público e incentivo ao esporte
A Lei Pelé também estabelece as atribuições do Estado no desenvolvimento do esporte, dividindo competências entre União, estados e municípios. O poder público deve:
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Promover o acesso ao esporte educacional e de participação
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Apoiar o esporte de rendimento
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Financiar programas de formação de atletas
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Estimular a inclusão social por meio do esporte
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Incentivar a prática esportiva entre crianças, jovens e pessoas com deficiência
A lei também regula a aplicação de verbas de loterias, patrocínios e incentivos fiscais.
Fiscalização, sanções e Justiça Desportiva
O cumprimento da Lei Pelé é fiscalizado por:
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Ministério do Esporte (ou equivalente)
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Entidades de administração do desporto
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Ministério Público
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Justiça do Trabalho, no que se refere aos direitos dos atletas
Além disso, a Lei Pelé reconhece a existência da Justiça Desportiva, que julga infrações disciplinares em competições esportivas (expulsões, doping, irregularidades em jogos). Ela não pode julgar questões trabalhistas ou civis.
Perguntas e respostas
O que é a Lei Pelé?
É a Lei nº 9.615/1998, que regula o desporto no Brasil, tratando de contratos de atletas, gestão de clubes, direitos de imagem e estrutura das entidades esportivas.
A Lei Pelé substitui a CLT?
Não. Ela complementa a CLT com regras específicas para o esporte profissional.
Todo atleta profissional tem contrato com base na Lei Pelé?
Sim. O contrato especial de trabalho desportivo é obrigatório para atletas profissionais.
Existe vínculo empregatício na base?
Não. O contrato de formação esportiva não gera vínculo, desde que siga as regras legais.
O atleta pode romper o contrato sem pagar multa?
Somente em casos de rescisão indireta ou justa causa do clube. Do contrário, a cláusula penal é devida.
O jogador pode ser transferido contra a vontade?
Não. Toda transferência deve ter consentimento do atleta.
O clube pode pagar mais em imagem do que em salário?
Não. A imagem pode ser até 40% da remuneração. Exceder isso pode configurar fraude trabalhista.
A Justiça do Trabalho pode anular contratos baseados na Lei Pelé?
Sim, se houver desrespeito a direitos trabalhistas ou fraude nos contratos.
Conclusão
A Lei Pelé representou um divisor de águas no esporte brasileiro, trazendo uma nova era de profissionalismo, segurança jurídica e valorização dos direitos dos atletas. Ela transformou o modelo antigo, baseado no passe e na dependência do clube, em um sistema moderno, onde o atleta tem garantias trabalhistas, liberdade de contratação e acesso à Justiça.
Além disso, a Lei Pelé fortaleceu a formação de atletas, promoveu a transparência nos clubes, incentivou o esporte educacional e estabeleceu critérios de responsabilidade na gestão esportiva. Hoje, ela continua sendo a base legal do esporte no Brasil, especialmente no futebol, e serve de referência para atletas, clubes, empresários e advogados que atuam na área.
Conhecer a Lei Pelé é fundamental para compreender o funcionamento jurídico do esporte e garantir relações mais justas, éticas e equilibradas entre atletas e entidades esportivas.