Você já pensou nas principais diferenças entre o mercado financeiro brasileiro e o americano? A princípio, pode-se lembrar do tamanho, das empresas ou da moeda. Todas essas são diferenças válidas, mas existem muitas outras. Neste artigo, vou abordar essas principais diferenças, mostrando as vantagens e desvantagens de cada mercado.
Regulatórias
O primeiro ponto de diferença são as agências regulatórias. No Brasil, existe a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula os ativos financeiros negociados dentro do país, como ações, fundos e títulos de renda fixa. O paralelo com os EUA seria a Securities and Exchange Commission (SEC), que além de ser responsável por regular os ativos financeiros negociados nos Estados Unidos, similar à CVM, também desempenha um papel investigativo em casos de corrupção, podendo encaminhá-los ao judiciário para julgamento.
Outros órgãos importantes são a ANBIMA no Brasil e a FINRA nos EUA. A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) exerce um papel de autorregulação dentro do mercado brasileiro, estabelecendo regras e normas de conduta para os seus associados. Fazem também parte do seu escopo promover boas práticas e supervisionar as atividades dos participantes.
Agora, a Financial Industry Regulatory Authority (FINRA) é uma agência autorreguladora que supervisiona a atividade das corretoras de valores mobiliários nos EUA. Um dos seus princípios é proteger os investidores, auxiliando no melhor funcionamento do mercado de capitais.
Uma similaridade entre elas é que ambas cuidam da parte de certificações que permitem os profissionais atuarem em certas posições no mercado de cada país. Por outro lado, uma diferença importante reside na entidade americana, que possui poder regulatório, podendo assim impor sanções e medidas corretivas, dependendo do caso.
Infraestrutura
No Brasil, em 2024, (Brasil, Bolsa, Balcão), onde quase todos os ativos financeiros são negociados. Quando vamos para os EUA, existem várias bolsas, 13 pra ser mais preciso, mas as principais são a New York Stock Exchange (NYSE) e a National Association of Securities Dealers Automated Quotations (NASDAQ). A gama de produtos negociados nelas é muito superior à do Brasil, principalmente por conta do tamanho, assunto que tratarei em breve.
Ainda sobre infraestrutura, uma grande diferença está nos custodiantes. No Brasil, essa custódia é feita de forma centralizada, com a B3 realizando esse processo para todos os participantes do mercado. Nos EUA, existem dezenas de custodiantes, tornando o mercado mais descentralizado e sem um monopólio.
Tamanho
Talvez aqui seja o primeiro choque entre os dois países. Enquanto nos EUA estamos falando de um mercado acionário de mais de US$ 100 trilhões, o Brasil beira US$ 1 trilhão. Estamos falando de praticamente 100 vezes maior. A imagem abaixo evidencia essa disparidade ainda mais. O valor de mercado da maior empresa do mundo enquanto escrevo este artigo é de US$ 3,5 trilhões, enquanto a maior empresa brasileira chega próximo de US$ 100 bilhões.
Fonte: Companies Market Cap, jul/24
Logo, a maior empresa americana é mais de 3 vezes maior que todo o mercado brasileiro somado. Essa é uma diferença crucial quando se comparam os dois países. Essa diferença de escala tende também a oferecer mais liquidez, e um mercado mais arbitrado pelo envolvimento de um enorme número de players.
Moedas
Investir no Brasil entre as décadas de 60 e 90 foi uma montanha-russa no âmbito monetário. Isso porque houve quase 10 moedas diferentes durante esse período. Em contraponto, o dólar existe desde 1792, com mais de 200 anos sem nenhuma troca monetária. Abaixo é possível ter uma dimensão de diversas moedas brasileiras que existiram, enquanto a americana é a mesma ao longo desses anos. Isso gera também bastante volatilidade cambial e acaba afastando investidores internacionais do mercado local no Brasil.
Fonte: BCB, The U.S Currency Education Program
Cultura de Investimento
Enquanto mais de 60% da população americana possui uma ação em seu portfólio de investimentos, no Brasil esse número fica um pouco acima dos 4% até o final de 2023, como é possível visualizar no gráfico abaixo.
Fonte: B3, Gallup
A forma como os brasileiros e os americanos entendem investimentos também contribui para essa diferença. Enquanto na América do Norte a poupança é frequentemente feita através da renda variável, com famílias comprando ações para seus filhos ao nascerem para ajudar no pagamento da faculdade, no Brasil ainda existe uma percepção de que a bolsa de valores é um investimento muito arriscado, onde se coloca apenas uma pequena parte do capital. Existe também pouca cultura de olhar para investimento em renda variável como um investimento de longo prazo, acumulador de poupança e gerador de riqueza.
Diversificação
Pela parte do tamanho, citada anteriormente, já era possível ter uma dimensão da capacidade de diversificação que o mercado americano permite em comparação com o brasileiro. Nos EUA, quando olhamos para o S&P 500, principal índice americano, o setor de maior preponderância é o de tecnologia com cerca de 34% do total. Ele é seguido pelos setores financeiro, de saúde, consumo discricionário e telecomunicações (com 12%, 12%, 10% e 9% respetivamente). No Brasil o Ibovespa é bastante mais concentrado, com os dois maiores setores (commodities e financeiro) juntos representando mais de 66%.
Isso demonstra que os EUA estão avançando de acordo com o desenvolvimento da sociedade, enquanto o Brasil mantém uma economia baseada no setor primário e financeiro, consequentemente com pouco valor agregado. Isso também se reflete, consequentemente, na possibilidade de investir em setores com maior crescimento e com baixa intensidade, resultando em empresas com maiores retornos. Há também empresas de todo mundo listadas na bolsa americana, permitindo uma exposição global.
Tributação
A tributação dependerá, primordialmente, de onde o investidor possui residência fiscal. Ou seja, um residente fiscal brasileiro deve declarar seus investimentos, seja no Brasil, seja nos EUA, na sua Declaração de Imposto de Renda da Pessoa Física (DIRPF). Existem regras diferentes para cada tipo de investimento, seja ele renda fixa ou variável brasileira, ou proveniente de um ativo no exterior.
No entanto, caso o investidor seja residente fiscal nos EUA, as regras e deveres tributários são todos com a Internal Revenue Service (IRS), não havendo relação com o fisco brasileiro
Considerações Finais
É importante entender que os mercados não deveriam ser excludentes, mas sim complementares. Suas diferenças trazem pontos de atenção: em mercados menores, como o brasileiro, se espera um risco maior e, consequentemente, um potencial de retorno maior também. Ainda assim, não tem conseguido entregar os maiores retornos que refletem os riscos mais elevados. Já em mercados maiores e mais eficientes, como o americano, existe uma maior previsibilidade, resultando potencial de retorno menor.
Para exemplificar, basta pegar os títulos de dívida dos dois países e ver qual oferece uma taxa de retorno maior. Naturalmente, será aquele que tem mais risco. Consequentemente, o Brasil e as suas empresas tendem a ter um prêmio de risco mais elevado que os EUA ou que as empresas americanas.
Em suma, o objetivo deste artigo é refletir sobre as diferenças entre os mercados e sugerir que talvez não faça sentido estar totalmente alocado em apenas um deles, sendo a diversificação o último almoço grátis do mercado.
Referências
Companies ranked by Market Cap – CompaniesMarketCap.com
Moedas produzidas (bcb.gov.br)
History of U.S. Currency | U.S. Currency Education Program (uscurrency.gov)
What Are All of the Major US Stock Exchanges? (investopedia.com)
Página Inicial — Comissão de Valores Mobiliários (www.gov.br)
How Many Americans Own Stock? More Than You Think | The Motley Fool
Top 25 Stocks in the S&P 500 By Index Weight for July 2024 (investopedia.com)
Guide to the Markets | J.P. Morgan Asset Management (jpmorgan.com)
List of the Major US Stock Exchanges | Fi Money
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