É possível se proteger da desvalorização do real?

Você tem algum ativo que já perdeu mais de 80% de valor? É uma queda grande, e, no primeiro momento, pode-se pensar que você não tem nenhum investimento que caiu essa magnitude. Só que sinto informar, mas todos nós, inclusive eu, temos uma moeda que caiu isso desde sua criação: O real.

No artigo de hoje vou apresentar um pouco da história da moeda brasileira, como ela se compara com o dólar nos últimos 100 anos e como é possível se proteger dessa queda que o real sofreu em 30 anos.

 

Contexto histórico

Como foi dito, o real foi criado no ano de 1994, e foi um dos planos mais engenhosos economicamente falando que o Brasil teve. O Banco Central do Brasil, ou BCB, ilustra o impacto que esse plano teve na inflação brasileira através da imagem abaixo.

Fonte: Banco Central do Brasil

 

Conter a inflação, que ficou descontrolada no final da década de 80 e início de 90 era seu principal plano. E isso ele cumpriu de maneira exemplar. As equipes do Ministério da Fazenda sob o governo de Itamar Franco construíram esse plano, junto com o BCB e a Casa da Moeda.

Ainda assim, mesmo esse feito histórico não foi capaz de segurar a desvalorização do real nas próximas décadas. O gráfico abaixo mostra a quanto uma nota de R$ 100 reais comprava de dólar em 1994 e quanto ela compra em abril de 2024. A desvalorização chega a ser maior que 80% da moeda brasileira comparada com a moeda americana.

Fonte: Bloomberg, Elaboração Avenue

 

O que define o câmbio?

Talvez essa seja uma das variáveis mais difíceis de se prever. Existem dezenas, se não centenas de movimentos e indicadores que influenciam o preço de uma moeda em relação a outra. Usando como exemplo a relação USD/BRL, ou seja, quanto custa 1 dólar em reais, podemos citar balança comercial, fluxo de investimentos, taxa de juros, entre outras.

Agora, existe um desses indicadores que, no longo prazo, acaba se sobressaindo: o diferencial de inflação entre os países. Inflação nada mais é do que o aumento generalizado dos níveis de preços. Porém, pode-se entender também como a perda de poder de compra no decorrer do tempo. Quanto maior a inflação de um país, mais valor essa moeda vai perder.

Se compararmos duas moedas diferentes, a que tem maior inflação, no decorrer do tempo, tenderá a perder valor em relação à outra. É possível ver no gráfico abaixo que, desde 1995, em apenas 2 anos a inflação americana foi maior que a brasileira. Esses anos estão circulados em verde no gráfico, 2006 e 2022.

Ou seja, se considerarmos os últimos 28 anos, o IPCA (principal índice de inflação no Brasil) ficou acima do CPI (principal índice de inflação nos EUA) em 26 anos. E isso é esperado, o Brasil é um país emergente, e, geralmente, eles possuem uma inflação maior que dos países desenvolvidos.

Fonte: IPEA, FED Minneapolis, Elaboração: Avenue

 

Dólar como “Safe Haven”

Esse termo pode ser traduzido como “porto seguro” em uma tradução livre. Vem ano, passa ano, e os EUA continuam sendo considerados essa espécie de lugar que os investidores vão em momentos de tensão. Isso porque não há nada que os investidores gostem menos do que incerteza. E o dólar oferece um grau de certeza relativamente ao seu valor como moeda de reserva. E nessas situações de maior volatilidade nos mercados o dólar continua sendo a moeda escolhida, tanto que perto de 60% das reservas mundiais estão na moeda americana.

Um grande exemplo dessa situação foi em 2008. Os Estados Unidos foram o epicentro da crise financeira, e o mercado acionário do mundo todo sofreu. No Brasil não foi diferente: O Ibovespa (principal índice acionário do país) caiu quase 50% entre março e novembro desse ano. Enquanto isso, o dólar se valorizou mais de 41% frente ao real, ou seja, mesmo nessa situação, o dinheiro fluiu para os EUA, e quem estava alocado apenas em ativos brasileiros, viu tanto o dólar disparar como seus ativos caírem.

 

Considerações finais

Respondendo à pergunta que dá nome a esse artigo, sim. Através da diversificação geográfica, investindo em outra jurisdição, é possível diversificar o risco da perda do poder de compra em relação a moedas mais fortes. Momentos de turbulência sempre existirão, e como se diz, a única certeza que temos é que algum imprevisto irá acontecer. Não se sabe quando, onde, nem qual será a magnitude, mas irão acontecer.

Agora, essa diversificação em outras moedas leva sempre em conta seu perfil de risco, objetivos e preferências, por isso o estudo nesse momento de distribuição de valores em ativos não só de classes diferentes, mas em países diferentes, se faz mais do que necessário.

 

Referências:

Moedas produzidas (bcb.gov.br)

Consumer Price Index, 1913- | Federal Reserve Bank of Minneapolis (minneapolisfed.org)

Ipeadata

Why the U.S. dollar remains a reserve currency leader | Vanguard

Artigo Dilema Doméstico: É hora de os investidores olharem para o mercado internacional | PIMCO (Março 5, 2021)

 

Disclaimers:

A situação de cada investidor é única e você deve considerar seus objetivos de investimento, tolerância ao risco e horizonte de tempo antes de fazer qualquer investimento. Investir envolve risco e você pode incorrer em um lucro ou perda, independentemente da estratégia selecionada. O conteúdo acima não é uma recomendação para comprar ou vender qualquer ativo individual ou qualquer combinação de ativos.

Qualquer informação não é um resumo completo ou declaração de todos os dados disponíveis necessários para tomar uma decisão de investimento e não constitui uma recomendação. Os investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os investidores.

Todo tipo de investimento, incluindo fundos, envolve risco. Risco refere-se à possibilidade de que você perderá dinheiro (tanto principal quanto qualquer ganho) ou não consiga ganhar dinheiro com um investimento. A mudança das condições do mercado pode criar flutuações no valor de um investimento em fundos. Além disso, existem taxas e despesas associadas ao investimento em fundos que geralmente não ocorrem na compra de ativos individuais diretamente

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