O que são as habilidades essenciais?

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Certa vez, recebi uma mensagem de um recrutador dizendo que um candidato tinha habilidades técnicas muito boas, mas lacunas importantes nas chamadas soft skills. O candidato estava sendo considerado para uma posição de liderança sênior. O que o recrutador referia como soft skills era, na verdade, a habilidade do candidato de liderar pessoas. Eram suas habilidades de liderança, suas habilidades de gestão de pessoas, algo estratégico para aquela posição.

Refletindo sobre isso, questionei por que as chamamos de soft skills. O termo “soft skills”, na minha opinião, dá a impressão de que essas são habilidades quase opcionais, o que pode ser verdade em alguns contextos e funções. No entanto, quando estamos falando de liderança – liderar uma equipe, definir uma estratégia, engajar pessoas, desenvolver pessoas, conectar – essas não são habilidades opcionais, elas são essenciais.

É possível desenvolvermos esse conceito de “habilidades essenciais” no ambiente corporativo e, sobretudo, no ambiente jurídico? Para você, qual seria uma habilidade essencial para uma função de liderança?

Há muitos artigos sobre estilos, formas e meios eficazes de liderança. Talvez, o mais democrático seja o da liderança situacional, aquela onde o gestor necessita mudar o estilo conforme a pessoa, a situação, a empresa e o resultado que se quer alcançar.

Antes de nos aprofundarmos no conceito das habilidades essenciais, importa compartilhar que o conceito de soft skills, tal qual conhecemos, são habilidades interpessoais ou competências socioemocionais que possuem sua definição a partir de um momento curioso. Tal conceito surgiu a partir de um ambiente de guerra[1].

Trata-se do final da década de 1960. Como sabemos, a corrida espacial estava acirrada – a promessa do presidente dos EUA John F. Kennedy era fazer o homem pisar em solo lunar até os anos 1970. A Guerra Fria com a União Soviética tomava conta dos noticiários e ainda dividia o mundo, que também acompanhava a iminente derrota das tropas americanas na Guerra do Vietnã. E foi nesse contexto que a definição de soft skills surgiu.

Em meio a esse cenário, o Exército dos EUA percebeu que as chamadas “habilidades interpessoais” desempenhavam um papel fundamental na determinação dos resultados dos exercícios militares. Longe de estarem relacionadas à utilização de máquinas ou armamentos, tais habilidades se concentravam no elemento humano: a aptidão social necessária para comandar grupos, inspirar tropas e, por fim, sair vitorioso de potenciais batalhas.

Após essa descoberta, os militares não perderam tempo em se aprofundar nas chamadas soft skills. Reconhecendo sua importância, eles as catalogaram, as estudaram e as desenvolveram. O objetivo, portanto, era consolidar o seu lugar como um componente essencial da estratégia militar e da liderança pessoal. Assim como as táticas de liderança de comando e controle, o conceito de “habilidades interpessoais” chegou ao mundo corporativo.

Houve uma quantidade explosiva de cursos sobre o assunto e, de lá para cá, o mundo dos negócios permanece o mesmo em sua essência. Há cursos de especialização e – ainda bem – uma maior vontade do mundo jurídico de se adaptar a esse contexto, tornando o nosso setor muito mais convidativo do que há alguns anos. Hoje, vivenciamos a era de uma “adaptação forçada”, pois não há tempo a perder. O mundo está se transformando em um ritmo alucinante. Não bastam competências técnicas (hard skills) para lidar com esse ambiente dinâmico, complexo e imprevisível.

A liderança jurídica bem-sucedida é a que investe nas pessoas, servindo à equipe em vez de buscar ser servida. Ela se dedica ao desenvolvimento individual de cada membro, reconhecendo suas características e ambições únicas, ao mesmo tempo em que constrói um time colaborativo, diverso e de alta performance.

Embora essa tarefa possa parecer simples, quem conhece a complexidade do trabalho sabe que o maior desafio, e também a maior satisfação, está em inspirar pessoas. A verdadeira liderança é lembrada por promover o crescimento pessoal e coletivo, fomentando o diálogo com outras áreas e mantendo o foco nas prioridades certas. Ela planeja, executa e se compromete com o desenvolvimento e a carreira de todos, criando um ambiente de segurança psicológica onde pessoas diversas podem ser felizes e bem-sucedidas.

Essa habilidade de construir um futuro melhor e entender que todos merecem um espaço de crescimento é o que fará o líder jurídico ser inesquecível e uma referência em habilidades socioemocionais.

O Fórum Econômico Mundial[2] também teve o seu papel no contexto das soft skills. O órgão destacou a importância crescente das habilidades profissionais na força de trabalho em seu relatório periódico “Future of Jobs Report”, onde identificou o pensamento crítico, a resolução de problemas complexos, a inteligência emocional e a criatividade como habilidades essenciais para o sucesso no futuro local de trabalho.

Talvez nada disso seja “soft”. O relatório enfatiza a necessidade de as organizações investirem no desenvolvimento de habilidades profissionais para permanecerem competitivas no cenário de negócios em constante evolução.

A seguir, finalmente, algumas habilidades essenciais que acredito serem cruciais para qualquer liderança eficaz, principalmente a jurídica:

1. Inteligência emocional: a habilidade de entender e gerenciar suas próprias emoções e as dos outros. Investir em autoconhecimento é essencial para conseguir isso. Como dizem, “nem sempre podemos controlar o que acontece, mas podemos escolher como reagimos aos acontecimentos”.

2. Comunicação: comunicação clara, concisa e eficaz para transmitir ideias, expectativas e feedback. Neste caso, investir em storytelling e buscar meios diversos de se comunicar faz toda a diferença. O Legal Design e outros meios efetivos de passar o recado devem ser experimentados.

3. Empatia: compreender e compartilhar os sentimentos dos outros para construir relacionamentos fortes e de confiança. Trata-se do primeiro passo para ser mais humano e construir um clima organizacional muito mais acolhedor.

4. Adaptabilidade: estar aberto a mudanças e ser capaz de ajustar estratégias conforme necessário em um ambiente dinâmico. Hoje, essa habilidade está entre as mais exigidas pelos recrutadores e é algo extremamente importante para qualquer cargo de gestão.

5. Resolução de conflitos: a habilidade de mediar disputas e encontrar soluções mutuamente benéficas. Você terá áreas que brigam por orçamentos escassos, pessoas que buscam posições de destaque, situações de crise onde todos entendem saber como resolver um problema por diferentes caminhos. Se já não houver um mediador em cenários desafiadores assim, você pode, e deve, assumir esse papel.

6. Pensamento visionário: definir uma visão clara e a estratégia para o futuro que inspire e motive a equipe. É importante destacar para todos que o futuro que se quer é o futuro que se constrói.

7. Mentoria: orientar e desenvolver os membros da equipe para ajudá-los a alcançar seu pleno potencial é uma das formas mais significativas de fazer a diferença no ambiente de trabalho.

8. Tomada de decisão: tomar decisões informadas e oportunas, que estejam alinhadas com os objetivos e valores da organização, é importante para executivos, líderes e para qualquer posição profissional. Aqui, o diferencial é tomar as decisões com base em dados e não somente em opinião pessoal.

9. Responsabilidade: assumir a responsabilidade tanto pelo sucesso quanto pelas falhas, e delegar aos outros de maneira adequada e construtiva. Nesse último ponto, em especial, é importante evitar o microgerenciamento que pode impactar prazos, resultados, o desenvolvimento das pessoas e o clima organizacional.

10. Competência cultural: entender e valorizar a diversidade, promovendo um ambiente inclusivo onde todos se sintam valorizados e ouvidos. É somente promovendo a equidade para as pessoas que conseguimos construir a cultura do pertencimento.

As habilidades essenciais mencionadas acima não são opcionais, e sim, fundamentais para uma liderança eficaz. Para quem ainda não é gestor, mas quer ser um dia, já pode começar, desde hoje, aprender a lidar com essas habilidades em sua rotina. Ao reconhecer e priorizar essas habilidades, podemos preparar melhor os líderes para que eles se sobressaiam em seus papéis e criem ambientes de trabalho mais coesos, produtivos e positivos – e chegar a essa realidade, só depende de você.

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As opiniões deste artigo são pessoais e não representam, necessariamente, os posicionamentos das empresas para as quais o autor trabalha ou trabalhou

[1] Maiores detalhes em <https://www.forbes.com/sites/danpontefract/2023/03/27/its-about-time-we-abandoned-the-term-soft-skills/>. Acesso em 10/08/2024.

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