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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aproveitou um evento que coincidiu com o primeiro dia da reunião do Copom para mandar um novo recado sobre a importância de o colegiado do Banco Central prosseguir em uma trajetória consistente de queda dos juros. A fala do chefe da economia destacando que o BC precisa olhar as “necessidades e crescimento do país” claramente mira menos a decisão desta quarta-feira (20), que cortou em 0,5 ponto a Selic (para 10,75% ao ano), e mais a sinalização e a trajetória da taxa básica para as próximas reuniões.
A variável juro é fundamental para a estratégia econômica (especialmente na dimensão fiscal) de Haddad por dois canais: o custo da dívida pública, que em janeiro voltou a ter mais da metade de sua composição atrelada à taxa Selic (51,4%, segundo o BC) e o crescimento econômico, que tem impactos múltiplos na equação, via aumento de receitas e pelo aumento do denominador da relação entre dívida e PIB.
O relatório de projeções fiscais do Tesouro divulgado recentemente evidencia a importância da variável dos juros no processo de estabilização da dívida. O órgão considera em seu cenário de referência que a carga de juros vai cair de 6,6% do PIB no ano passado (tendo subido para 6,8% em janeiro) para 5,6% em 2026, último ano desse governo, prosseguindo em trajetória descendente nos períodos seguintes.
Para tanto, considera a grade de parâmetros econômicos da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda, que considera uma taxa Selic acumulada passando de 13,2% no ano passado para 9,6% em 2024, 8,2% em 2025 e 7,1% no último período do atual governo.
É um cenário bem mais otimista que o do mercado para os juros básicos, dado que a pesquisa Focus aponta que o juro vai chegar a 8,5% no fim de 2025 e desse patamar não baixará. Além disso, a estimativa considerada pela Fazenda para a Selic pressupõe que o BC coloque a política monetária no terreno estimulativo (ou seja, que incentive o crescimento) entre 2025 e 2026.
Atualmente, a Selic está no campo contracionista e o BC tem sinalizado (e o mercado espera) mantê-la nesse campo por um bom tempo, mesmo com a continuidade dos cortes.
Não cabe aqui neste espaço entrar na discussão sobre qual é o juro neutro do país hoje, que, para além de ser uma variável não observável, é repleta de subjetividades por parte de quem a calcula.
Mesmo assim, é inegável que o cenário fiscal do Tesouro, que sinaliza uma estabilização da dívida a partir de 2026, considera uma hipótese de um BC mais pró-crescimento do que hoje o mercado espera.
Como é de se esperar que o governo disponha de mais informações do que os analistas financeiros, o relatório do Tesouro não deve ser lido como só um mero cenário. Cabe olhá-lo como uma sinalização, ainda que não determinística, de como o governo enxerga (ou gostaria de ver) a política monetária para os próximos anos, especialmente porque a partir de janeiro de 2025 a composição do Banco Central será majoritariamente de indicados pelo presidente Lula.