Os avós na vida dos netos

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Escola de ternura e espiritualidade

O Papa Francisco nos exorta a que “Rezemos pelos idosos, para que se tornem mestres da ternura, para que a sua experiência e sabedoria ajudem os mais jovens a olhar para o futuro com esperança e responsabilidade”. Minha mãe é uma avó que soube ser para os netos essa mestre de ternura. Vejo nitidamente o efeito que isso causa nos meus filhos. O carinho e zelo com que ela trata os netos provoca neles respostas de compaixão e empatia, e, claro, uma resposta primeiramente a ela mesma: eles a têm como uma espécie de herói, uma conselheira privilegiada.

Quando ela fala, eles escutam com muito mais atenção e acolhida, e ela obtém deles retornos muito positivos. Mas não é uma resposta só para ela, eles passam a agir com mais ternura também com os demais, com os amigos, com o mundo. Além disso, os avós podem contribuir muito com essa visão própria da velhice. Uma visão que permite saborear cada momento, vivenciar cada encontro e experiência com mais profundidade e sentido.

O poder da ternura

Vejo que, na prática, minha mãe nos proporciona essa visão rica de sentido quando nos conta suas histórias… histórias de um tempo onde as coisas eram diferentes, os jovens tinham outros valores e tudo permeado pela sabedoria que ela foi adquirindo ao longo dos anos. Por isso, sempre que estamos juntos, proporcionamos esses momentos de partilha.

Créditos: PeopleImages / GettyImagens

O versículo 15 do Salmo 92 que diz: “Até na velhice continuarão a dar frutos”. Parece-me que nem todos que estão nessa idade tão notável, não reconhecem a riqueza desse momento e suas possibilidades. Impactou-me a seguinte frase do Papa: “As sociedades mais desenvolvidas gastam muito para essa idade da vida, mas não ajudam a interpretá-la: proporcionam planos de assistência, mas não projetos de existência”. Os próprios idosos podem refletir sobre projetos de existência, sobre como podem contribuir com a sociedade. Mesmo tendo suas capacidades físicas reduzidas, há uma contribuição única e própria dessa idade, uma  contribuição única que só pode ser oferecida pela sabedoria e visão de mundo alcançados apenas com a experiência da vida.

Superando limitações e encontrando propósito na velhice

É compreensível que o declínio das forças e o aparecimento de doenças possam provocar dúvidas a respeito da capacidade de produzir algo. Citando ainda Papa Francisco, que tem nos relembrado as potencialidades dessa idade, é possível “Aprender a viver uma velhice ativa”. A aposentadoria, a independência dos filhos e o descompasso com o ritmo acelerado do mundo não podem nos levar a interiorizar a cultura do descarte, levando à falsa crença que não há lugar para os mais velhos. A velhice não é um tempo inútil, há uma nova missão e uma nova forma de produzir.

Partilho, particularmente, que mesmo sofrendo um AVC aos 50 anos e tendo ficado com severas sequelas, tenho descoberto e vivido uma velhice cheia de existência e atividade. Tive que me adaptar às novas condições físicas, mas percebi que o que me faltava em vigor eu me superava com experiências e uma visão mais profunda. Uma partilha mais completa você pode conferir no livro ‘POR QUE (NÃO) EU’ da editora Canção Nova. Escrever um livro, atender pessoas e orar foram os meios que se concretizaram para que eu continuasse ativa na missão de evangelizar na minha nova condição de saúde e idade. Mas o ser avó e avô pode ser um meio excelente não só para a família de cada um, bem como para a consolidação de valores na sociedade.

Um olhar de amor para as novas gerações

Impossível deixar de citar novamente o Papa Francisco: “A nossa sensibilidade especial de idosos, da idade anciã às atenções, pensamentos e afetos que nos tornam humanos deve voltar a ser uma vocação para muitos. E será uma escolha de amor dos idosos para com as novas gerações”. Ele encerra convocando os avós a ensinar a toda essa geração atual a contemplar os outros com o mesmo olhar compreensivo e terno que tem para com os netos.

 

Edvânia Duarte Eleutério – Missionária da comunidade Canção Nova desde 1997, formadora de namorados, e casais da Comunidade, além de outras funções .Tem especialização em gestão de pessoas, counseling e bioética, autora do livro POR QUE (NÃO) EU.

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