Com Datena, PSDB aposta no populismo para recompor centro político

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Inicialmente polarizada entre a centro-esquerda e a direita com o apoio bolsonarista, a disputa pela Prefeitura de São Paulo ganhou um componente de forte incerteza com a permanência de José Luiz Datena na disputa como candidato pelo PSDB.

Imaginava-se que Tabata Amaral (PSB) seria a terceira via com viabilidade para desbancar a dualidade representada por Guilherme Boulos (PSOL), candidato apoiado por Lula (PT), e Ricardo Nunes (MDB), que conta com o apoio de Jair Bolsonaro (PL) em sua busca pela reeleição.

No entanto, Datena — que estava cotado para ser vice de Tabata e com um histórico de desistir de suas candidaturas a cargos eletivos na última hora — é o nome a ser observado na disputa, pois está num empate triplo com Boulos e Nunes, segundo a mais recente pesquisa Quaest.

Cada um teria cerca de 20% das intenções de voto. Datena conseguiu encarnar na prática o que estudiosos da extrema direita dizem ser necessário para desmobilizá-la: ser populista, no sentido de estabelecer conexões com as massas, mas sem descambar para o ódio fascista encarnado na xenofobia, racismo e misoginia.

Com seu histórico à frente de programas policialescos, Datena encarna a legítima demanda por mais segurança e menos violência numa cidade como São Paulo. Tendo sido filiado ao PT, imagina-se que o agora candidato a prefeito da maior metrópole brasileira tenha alguma sensibilidade social que falta ao bolsonarismo.

O centro tucano-datenista, sem dúvida, pende mais para a direita, mas isso resulta menos da oferta do que da demanda. Reiteradas pesquisas de opinião indicam que a população brasileira é, em média, conservadora nos costumes.

Para se reinventar após o declínio dos tucanos históricos, o PSDB apostou, sob a liderança do agora vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), em João Doria, que parecia trilhar uma carreira política meteórica. Primeiro, em 2016, sendo eleito prefeito de São Paulo já no primeiro turno contra o candidato à reeleição Fernando Haddad (PT). Depois, na disputa pelo Governo de São Paulo em 2018, quando se aliou informalmente a Bolsonaro, que concorria ao Planalto.

Diferentemente de Datena, faltou a Doria um apelo populista no sentido de ser capaz de se conectar às massas e, assim, assegurar apoio político quando, corretamente, rompeu com Bolsonaro por conta do negacionismo da extrema direita em relação à pandemia.

No Brasil, parece haver certa ojeriza com aqueles que, como Doria, são ricos e se lançam na política. Da mesma forma, perfis intelectuais têm poucas chances em corridas majoritárias. O sociólogo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) é a exceção — jamais teria virado presidente sem a combinação única propiciada pelo sucesso do Plano Real entre as elites e, claro, os mais pobres.

Formada em Harvard, Tabata padece da mesma maldição. Tem origem popular, vem da periferia paulistana, mas a narrativa que prevalece é a formação acadêmica que, em vez de sinalizar competência, pode ser visto por muitos como arrogância. Desconfio que o mesmo processo está na raiz da decadência política do tucano José Serra, que tentou chegar à Presidência duas vezes sem sucesso, embora muitos o vissem predestinado ao cargo. Nas últimas eleições, nem sequer conseguiu se eleger deputado federal, a despeito de seu histórico na posição à época da Constituinte de 1988.

Bolsonaro tem o apoio da elite, mas jamais cometeu o erro de ser elitista. Bebeu da fonte que irrigou o fenômeno Jânio Quadros, o primeiro populista de direita a chegar à Presidência. Apresente-se como alguém simples ou preocupado com o povo. Eis a receita para chegar ao poder.

Lula que também o diga, já que há muito tempo deixou as vestes de metalúrgico, muito embora siga capaz de fazer como ninguém conexão com as massas. Acima de tudo, essa é a causa de sua ressurreição pós-Lava Jato. A ânsia de Sergio Moro e companhia por justiça e ascensão política a todo custo nos devolveu o populismo, seja à direita, à esquerda e até mesmo no centro.

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