O que é a febre do Oropouche, doença com aumento de 800% no número de casos

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Em 2024, já são mais de 7 mil registros no Brasil da febre do Oropouche. Preocupação com saúde durante a gravidez aumenta. Entenda.

A febre do Oropouche é bastante similar à dengue, tanto em relação aos sintomas quanto pela forma de transmissão. Porém, trata-se de uma doença ainda muito pouco estudada – sendo até mesmo classificada como “misteriosa” [1] em importantes publicações científicas – e que teve um aumento mais que expressivo no número de casos este ano em países da América Latina, especialmente no Brasil.

Há no momento o risco de potencial epidemia da Oropouche, o que já preocupa autoridades, tanto aqui quanto em outros países (e até mesmo na Europa). Além disso, pela primeira vez na história, mortes relacionadas à doença foram registradas este ano, tanto em adultos quanto em bebês.

Este, aliás, é outro ponto de extrema atenção, porque já há fortes evidências de que o vírus causador da febre de Oropouche pode resultar em graves malformações e pode ser transmitido da mãe para o feto.

DE ONDE VEM ESSE NOME?

A febre do Oropouche foi identificada pela primeira vez em 1955, no vilarejo que leva o mesmo nome e fica na ilha de Trinidade, que faz parte do país caribenho chamado Trinidade e Tobago. Desde então, cerca de 500 mil casos da doença foram registrados no mundo. Mesmo assim, ainda se sabe muito pouco sobre ela, e medidas preventivas ou tratamentos específicos ainda não existem.

Diante desse cenário, diversos grupos que monitoram a saúde pública global já emitiram alertas e posicionamentos sobre a febre. O Ministério da Saúde brasileiro também está em alerta, amplificando o rastreamento de casos e o diálogo entre especialistas.

Combater uma doença ainda incompreendida e sem tratamentos é difícil, mas há ações que podem ser tomadas a fim de reduzir riscos – especialmente entre as gestantes. Para isso, vamos entender, a seguir, o que é a febre de Oropouche, quais são seus sintomas e os cuidados que podem ajudar na proteção.

 

O que é a febre de Oropouche e como ela é transmitida?

A febre do Oropouche é uma doença viral, com sintomas similares aos da dengue.

O vírus entra no corpo humano via a picada de insetos. Várias espécies já foram identificadas como transmissoras, como pequenas moscas e pernilongos, mas o principal vetor aqui no Brasil é o mosquito Culicoides paraenses, conhecido como maruim ou mosquito-pólvora. Note-se que o pernilongo ‘comum’ também pode transmitir o vírus.

A doença causa sintomas de severidade média, principalmente febre e dores, mas pode ter consequências mais graves em alguns casos, como sintomas neurológicos. Estuda-se no momento o quanto o vírus pode afetar o desenvolvimento de fetos quando a mãe é picada por um mosquito transmissor.

Por que tanto se fala na Oropouche este ano? Isso ocorre porque o número de casos aumentou sobremaneira em 2024 no Brasil, em especial nas regiões Norte e Nordeste. Em 2023, foram menos de mil diagnósticos – este ano, já somam mais de 7 mil. O que assusta as autoridades é essa rápida expansão, a extensão geográfica (casos foram identificados em 20 estados brasileiros) e o potencial da doença se tornar uma epidemia.

 

Quais são os sintomas?

Os sintomas da febre de Oropouche são muito similares aos de outras doenças virais transmitidas por picadas, como a dengue, o Zika vírus e a Chikungunya. Por conta disso, é provável que haja subnotificação do número real de casos. Sintomas comuns são:

 

Febre e mal-estar
Dores musculares ou nas articulações (assim como sentir as articulações ‘duras’)
Em alguns casos, manchas na pele
Náuseas e vômito
Sensibilidade à luz
Diarreia

Os sintomas costumam aparecer de 03 a 10 dias após a picada e duram por aproximadamente uma semana. A pessoa curada não costuma ter sequelas ou sintomas de longa duração.

Em casos bem raros, a doença pode causar meningite e encefalite. O que preocupa os pesquisadores e médicos no momento é que a doença pode causar malformações em fetos.

 

Como é feito o tratamento?

Assim como nos casos de dengue, ainda não há um tratamento específico contra a doença. Também ainda não há vacinas. As equipes médicas têm a missão de manter o paciente nas melhores condições de saúde possíveis, tratando sintomas enquanto o próprio organismo combate a infecção viral. Ao longo da convalescença, o paciente deve descansar e manter-se bem hidratado.

 

Expansão e fatalidades no Brasil acendem o alerta

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) emitiu no início de agosto um alerta epidemiológico sobre a febre, indicando a relevância do aumento do número de casos e seu potencial de se espalhar ainda mais. Bastante atenção é dada à expansão da doença no Brasil.

Até o momento, a Oropouche foi identificada em 20 estados, com pelo menos 02 mortes confirmadas – foram duas mulheres, do estado da Bahia. Foi a primeira vez que foram registradas mortes relacionadas a esse vírus em todo o histórico da literatura médica e científica mundial. O mais preocupante é que nenhuma dessas mulheres tinha comorbidades – ou seja, ambas estavam com boa saúde, mas mesmo assim sucumbiram à infecção.

Mais de 90% dos casos de Oropouche no continente americano são brasileiros. Em um ano, houve um aumento de quase 800% no número de notificações da doença (de 812 diagnósticos em 2023 para mais de 7 mil casos em 2024).

EUROPEUS TAMBÉM EM ALERTA PARA A FEBRE DE OROPOUCHE

Na semana passada, o Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças emitiu um alerta a todos os turistas que estão embarcando para a América do Sul, Central e região do Caribe, avisando sobre o aumento no número de casos da febre de Oropouche.

A Europa já está em atenção com relação ao vírus: em junho e julho deste ano, os primeiros casos da doença foram reportados no continente. Foram 19 pessoas doentes, 12 na Espanha, 05 na Itália e 02 na Alemanha. Destas 19, 18 haviam viajado recentemente para Cuba e 01 para o Brasil.

Segundo pesquisas realizadas aqui no Brasil este ano, o vírus em circulação possui potencial até 100 vezes maior de se replicar no hospedeiro em comparação às cepas anteriores. Foram testados, também, os anticorpos de pessoas que haviam se curado da doença até 2016, e infelizmente eles não foram capazes de fornecer proteção contra a nova variante do vírus.

No início deste mês, o Ministério da Saúde confirmou que houve um caso, registrado no Acre, de um bebê que nasceu com anomalias congênitas e que foram correlacionadas à transmissão de Oropouche pela mãe, que contraiu o vírus no segundo mês de gestação. As anomalias, infelizmente, não permitiram a sobrevivência do bebê. Outros casos similares estão sendo avaliados. O Ministério também confirmou o 1º caso de óbito fetal (isto é, com o feto ainda em gestação) por transmissão da doença pela mãe, que ocorreu em Pernambuco.

 

Como se proteger

Em vista disso, por ora, é importante que gestantes que vivam ou visitem áreas com potencial de risco para a doença se mantenham protegidas de mosquitos, seguindo alguns princípios básicos como:

 

usar repelentes adequados;
vestir roupas que, na medida do possível, cubram o corpo e evitem picadas, passando repelente nas partes descobertas;
evitando a permanência em locais que possam ter muitos pernilongos (como em áreas arborizadas ou de matas, especialmente no final da tarde);
mantendo os quintais de casa sempre limpos e sem água parada, a fim de evitar a proliferação de insetos.

 

Todos os pontos que vimos acima são alertas, isto é, indicam que a febre do Oropouche é um assunto que demanda atenção em termos de saúde pública. Até o momento, não há indícios de epidemia, nem orientações para que se evitem as regiões do país mais afetadas. De qualquer maneira, informar-se sobre este perigo em potencial é sempre útil, especialmente para as futuras mamães. Afinal, quando o assunto é a saúde da próxima geração, vale todo o carinho, cuidado e prevenção.

 

Para saber mais:

Oropouche fever, the mysterious threat. The Lancet Infectious Diseases. Published:August 08, 2024DOI:https://doi.org/10.1016/S1473-3099(24)00516-4. https://www.thelancet.com/journals/laninf/article/PIIS1473-3099(24)00516-4/fulltext
Atualização epidemiológica – Oropouche na Região das Américas – 6 de março de 2024. https://www.paho.org/pt/documentos/atualizacao-epidemiologica-oropouche-na-regiao-das-americas-6-marco-2024
CDC – Traveler´s Health – Oropouche in South America. https://wwwnc.cdc.gov/travel/notices/level1/oropouche-fever-brazil

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