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Grupos criminosos ligados ao PCC no Rio Grande do Norte têm usado uma série de artifícios para lavar dinheiro proveniente de atividades ilícitas, como tráfico de drogas. Empresas de fachada, lojas de carros, fazendas e até a abertura de igrejas evangélicas estão entre os mecanismos utilizados para disfarçar a origem dos recursos financeiros. As investigações revelam que o PCC chegou a contratar profissionais especializados em lavagem de dinheiro para gerir o caixa dessas operações.
Esse tipo de atividade não se restringe ao RN e é observado em várias regiões do Brasil. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), destacou que o PCC controla 1.100 postos de gasolina e está adquirindo usinas de etanol no país, o que reforça o desafio de combater a expansão das facções no setor de combustíveis.
Já no RN, a lavagem de dinheiro pelo PCC tem como principal objetivo ocultar a origem ilícita dos recursos, mascarando o caminho do dinheiro para dificultar a ação das autoridades. Além disso, a prática protege os ativos do grupo contra confisco pelas forças de segurança. Entre as técnicas mais usadas estão a estruturação, que consiste em dividir grandes somas de dinheiro em transações menores, e a criação de empresas de fachada.
De acordo com Francisco Augusto Cruz, especialista em Segurança Pública e pesquisador do IFRN e da UAB, o sucesso do PCC na lavagem de dinheiro é facilitado por uma rede de contatos bem estabelecida, incluindo colaboradores que ajudam a movimentar os recursos por diferentes canais. A corrupção também desempenha um papel crucial, permitindo que funcionários públicos corrompidos forneçam proteção e facilitem a ocultação das atividades financeiras ilícitas.
Para combater esse tipo de crime, o MPRN criou em 2021 o Núcleo de Informações Patrimoniais (NIP), com o objetivo aprimorar as investigações de lavagem de dinheiro no Estado, especialmente aquelas ligadas ao crime organizado. O NIP já avaliou R$ 1,4 bilhão e conseguiu o bloqueio de R$ 34 milhões em ativos provenientes de atividades criminosas
Entre as operações mais significativas está a Operação Plata, deflagrada em fevereiro de 2023, que identificou a lavagem de R$ 23 milhões por meio da aquisição de imóveis e fracionamento de depósitos não identificados. Os criminosos utilizavam CNPJs falsos, empresas de fachada e igrejas para dissimular os recursos ilícitos. Um dos investigados, apontado como lavador de dinheiro profissional, chegou a comprar um imóvel em Ponta Negra avaliado em R$ 500 mil, mesmo declarando rendimentos anuais de apenas R$ 19 mil.
Outro exemplo é a Operação Omertà II, que investiga uma organização criminosa na cidade de João Dias, no Alto Oeste potiguar. O grupo utilizava uma loja de carros como fachada para lavar pelo menos R$ 6 milhões em dois anos. A concessionária, localizada em Água Nova, uma cidade de apenas 3.500 habitantes, possuía apenas um veículo registrado, mas movimentava grandes quantias de dinheiro por meio de depósitos fracionados.