Produtores do RS seguem sem crédito após 5 meses de enchente histórica

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Foto: Prefeitura de Bento Gonçalves

Quase cinco meses após a catástrofe de maio, produtores rurais do Rio Grande do Sul ainda buscam solução para as dívidas. Muitos já estão com restrição no nome em função dos débitos e não conseguem crédito para investir na nova safra. Esse cenário tende a impactar a instalação de lavouras da safra de verão no estado.

Muitas regiões gaúchas receberam quase 1000 milímetros de chuva em poucos dias, o que ainda deixa um rastro de estradas improvisadas, pontes onde só passam veículos leves, estruturas abandonadas e animais de produção vendidos para açougues por falta de dinheiro. Parece que nada mudou, mesmo após cerca de 150 dias da tragédia.

São muitos os desafios da agropecuária gaúcha, que já sofria impacto de três estiagens seguidas e recebeu o “golpe de misericórdia” com a enchente histórica.

Produtores endividados

O produtor Jeferson Scheibler, de Bagé, sudoeste do estado, relata que o pouco de semente que resta para plantar foi salva com sacrifício.

“Não tenho dinheiro para comprar adubo e defensivos, não tenho crédito, [estou com o] nome negativado. Como fazer? O que fazer? Eu planto mais ou menos 400, 450 hectares e não sei se vou conseguir plantar nem metade [dessa área]”.

Diante do desespero das dívidas, que se acumulam, produtores seguem organizados no movimento SOS Agro RS desde junho, cobrando medidas por meio de vários atos de protesto e “tratoraços”.

Durante a Expointer 2024, realizada entre o fim de agosto e o começo de setembro, o ministro da Agricultura e Pecuária (Mapa), Carlos Fávaro, prometeu novas medidas.

“Na medida provisória para o custeio dos bancos, os números mostram que 93% dos produtores estarão contemplados nela e os outros 7% nas outras medidas que tomamos. O diálogo tem que estar sempre aberto, se tem um ponto específico que dá uma dificuldade, vamos trabalhar para mudar esse ponto difícil. A reconstrução [do agro gaúcho] vai chegar no detalhe, fora das Medidas, para que a gente possa avançar e não deixar nenhum produtor e produtora gaúchos para trás”.

Porém, o produtor rural e representante do SOS Agro RS, Paulo Ebbesen, relata que os recursos ainda não chegaram na ponta.

“Há muita propaganda do governo e pouca efetividade porque de nada adianta nós termos linhas de crédito e elas não terem recursos para serem operacionalizadas. A divulgação dessas linhas é muito interessante, a sociedade fica sabendo, mas o produtor vai na agência bancária e o funcionário diz ‘nós não recebemos dinheiro e precisamos dele para fazer a concessão do crédito’”.

Projeções para a safra 24/25

Produtor de Estrela-RS, Jorge Dienstmann. Foto: Reprodução Canal Rural

Mesmo com tantos desafios, as projeções da Emater-RS e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) dão conta de safra recorde de grãos em torno de 36 milhões de toneladas no estado.

O obstáculo, agora, é o de conseguir plantar a safra atual. Contudo, com a renegociação de dívidas ainda incerta, produtores estão sem crédito para investir no ciclo 24/25.

Para a soja, a estimativa dos órgãos é de aproximadamente 8 milhões de hectares de área e produção de cerca de 21 milhões de toneladas. No entanto, para concretizar esses números, muitos produtores não têm os insumos ou como cumprir com os arrendamentos.

“Nós já temos uma área menor de milho a ser plantada, por falta de recursos. As áreas de soja muitas não vão ser plantadas porque as pessoas não vão ter crédito para semear e outras vão abandonar a lavoura. Nas áreas plantadas, a produtividade vai cair naturalmente pela lixiviação da área e pela falta de tempo e recursos para recuperar”, diz o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS), Ireneu Orth.

O produtor rural de Estrela, no Vale do Taquari, Jorge Dienstmann, passou pelas enchentes de setembro e novembro de 2023 e também a de maio deste ano. Em sua propriedade, focada em leite e terminação de frangos, tudo foi perdido.

“Não tem mais estrutura física para manter leite e frago. O que se decidiu é que vamos trabalhar a lavoura de grãos mas temos um grande empecilho. Mesmo passando 150 dias depois da maior enchente, tem lugares que não tem como entrar, com acúmulo de terra e lodo e o trator não entra. Esperamos recursos federais que foram prometidos e não repassados, o mesmo com os recursos estaduais”.

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