Líderes na inovação: ingredientes de sucesso no Global Innovation Index

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O Índice Global de Inovação (GII, na sigla em inglês) 2024, divulgado em 26 de setembro pela Organização Mundial da Propriedade Industrial (OMPI), traz a avaliação de 78 indicadores técnicos, os quais servem como base para mensurar pontos fortes e fragilidades na área de inovação de 133 economias no último ano.

No primeiro artigo desta série dedicada ao GII 2024, abordamos detalhadamente a avaliação do Brasil pela entidade e debulhamos as posições do país para os 5 pilares que avaliam os inputs e os 2 pilares que privilegiam os outputs da inovação. Como informamos, o Brasil caiu uma posição se comparado com 2023. Atualmente, segundo o ranking, ocupa a 50ª posição de país mais inovador do mundo, liderando entre os demais da América Latina.

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Se, por um lado, a OMPI enfatiza que variações entre as posições no GII são esperadas de um ano para o outro, fato é que algumas economias que se mantêm solidamente no primeiro escalão da inovação. Em alguns casos, por mais de uma década.

Os campeões da inovação e as razões para liderança

Inadvertidamente, seria possível pensar que a liderança no GII está necessária e diretamente vinculada a economias que se destacam por resultados mais expressivos em indicadores econômicos, como o produto interno bruto. Se esta fosse a regra, países como Estados Unidos, China e Alemanha manteriam o pódio do índice de inovação, seguidos por Japão, Índia, Reino Unido, França, Brasil, Itália e Canadá. Afinal, estas são as 10 maiores economias globais.

Entretanto, a relação não é direta e inafastável, ao contrário. Como fica claro no gráfico abaixo, as 10 economias mais inovadoras não são (necessariamente) as maiores do planeta.

Consistentemente, o que se percebe ao longo dos anos no GII é um descompasso entre a lista das economias com maior PIB (ou mesmo maior mercado interno) e a relação das mais inovadoras. A Suíça, que se mantém na 1ª posição do GII há 14 anos consecutivos, é exemplo disso: registra PIB de pouco menos de US$ 1 trilhão (20ª posição global) e sua população tem aproximadamente 9 milhões de pessoas – o equivalente à população de Pernambuco, para efeito de comparação.

Há outros exemplos: a Suécia, que se mantém alternando entre 2ª e 3ª posições no GII desde 2019, com PIB de US$ 716 bilhões e população de 10,6 milhões de habitantes. Já Singapura, que avança continuamente rumo ao topo do GII e chegou à 4ª posição em 2024 (estava em 8º em 2020), tem PIB de US$ 753 bilhões e população de pouco mais de 6 milhões de pessoas (equivalente à cidade do Rio de Janeiro).

Os Estados Unidos são “exceção” no ranking. O país detém a liderança econômica mundial, além da posição sólida entre os três primeiros colocados no GII nos últimos cinco anos.

As lições da ‘campeã’

Ao esmiuçar os dados do GII 2024, vale dedicar especial atenção à Suíça, que parece deter uma “receita de sucesso da inovação”, pela consistente manutenção no primeiro lugar do ranking.

Considerando os diferentes indicadores dos inputs e dos outputs avaliados pela OMPI, o país se destaca nos produtos de inovação e consegue a primeira colocação tanto em “produtos de conhecimento e tecnologia” (destaque para número de patentes PCT[1] e receitas decorrentes de ativos de propriedade intelectual) como em “produtos criativos” (com destaque para serviços e produtos criativos – filmes e entretenimento).

Quanto ao ambiente inovador, a Suíça é líder mundial no que se refere à colaboração para pesquisa e desenvolvimento (P&D) entre indústria e academia. Também é destaque a 3ª posição no quesito “Instituições”, com liderança entre os países do mesmo nível de renda.

Para além dos números, vale lembrar a declaração da ministra da Justiça, Karin Keller Sutter, no lançamento do GII 2021. Em vídeo, ela listou três ingredientes que justificariam a liderança suíça: (i) mercado interno reduzido, que obriga empreendedores locais a competirem globalmente e buscarem meios inovadores para se destacar; (ii) ausência de recursos naturais – o país depende das mentes gestadas por excelente sistema de educação e ensino superior aberto a startups; e (iii) os 26 cantões em constante competição para oferecer melhores condições para empresas inovadoras em suas regiões. Ou seja, seriam as “fragilidades” da Suíça os reais motores da sua capacidade inovadora?

O fator consistência

Quanto aos demais países no topo da inovação mundial, o GII indica alguns padrões, mais facilmente identificados no mapa de calor disponível no relatório e parcialmente replicado abaixo.

É visualmente perceptível que, dentre as 10 economias mais bem posicionadas, todas alcançaram níveis altos para os 7 pilares[2] criados pela OMPI (entendendo-se nível alto posição até as 33 melhores notas dos 133 países). Entre as 15 economias subsequentes, a tolerância é para um ou dois pilares, cuja nota está entre as economias 34 e 67, na comparação geral (com exceção da Bélgica).

Em suma, estar posicionado entre as 25 economias mais inovadoras do GII requer consistência de avaliação em praticamente todos os pilares julgados pela OMPI. Em outras palavras, um único pilar de alto desempenho não garante espaço no topo.

A importância da consistência parece mais evidente quando se avaliam os países nórdicos. Desde 2021, Finlândia, Dinamarca, Noruega, Islândia e Suécia estão entre as 25 economias mais inovadoras do mundo, com 98,6% de notas de alto nível para todos os pilares.

Por fim, a própria OMPI afirma que manter boas pontuações em todos os pilares é importante para alcançar sucesso no ranking, embora não pareça ser o suficiente para almejar estar entre os três países mais inovadores do mundo. O pódio requer, além de um ambiente favorável para inovação, que o ecossistema apresente resultados concretos. Exemplo maior é Singapura: apesar de avançar consistentemente nos inputs, segue com pouca relevância nos produtos inovadores, em especial os criativos.

Pilar Instituições: dificuldades de diferentes economias

Se os dados parecem indicar que boas notas em todos os pilares são ingredientes de sucesso para alçar às mais altas posições do índice, o mesmo mapa de calor sugere boas pistas para frisar a importância do pilar Instituições[3].

No artigo dedicado a avaliar a posição do Brasil, identificamos que este pilar é a maior fraqueza do país (estamos na 103ª posição). Uma melhor nota neste quesito poderia elevar substancialmente nossa posição no GII. Ocorre que esse aspecto se mostra a maior dificuldade no ranking também para outras economias.

A China se destaca nesse quesito, pois é a economia mais bem colocada no GII 2024 que tem como vulnerabilidade o pilar “Instituições”. O país ocupa a 11ª posição geral, mas está em 44º neste quesito. No grupo das 50 economias mais inovadoras, 10 países padecem da mesma condição: Itália, Espanha, Turquia, Bulgária, Polônia, Tailândia, Croácia, Romênia e Brasil. Veja-se: 20% das 50 economias mais inovadoras pecam nessa avaliação.

Dentre os países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), apenas a Índia não tem sua pior nota no pilar Instituições. China (44ª), Índia (54ª), África do Sul (91ª), Brasil (103ª) e Rússia (126ª) repetem o padrão.

Da lista apresentada, é evidente que existem múltiplos desafios para melhorar a pontuação neste pilar, em países de diferentes condições políticas, jurídicas, econômicas e culturais. Estudos mais aprofundados das particularidades destes contextos poderiam trazer à tona elementos de avaliação e os motivos pelos quais tais países ainda não têm melhores indicadores neste pilar, suas similitudes e diferenças. Tal avaliação seria fundamental para que o Brasil pudesse formular ações para aprimorar o indicador e almejar melhores posições no GII dos próximos anos.

[1] O Tratado de Cooperação de Patentes (PCT) acelera a busca de proteção internacional para patentes. “Mediante a apresentação de um pedido de patente internacional sob o PCT, os candidatos podem procurar simultaneamente a proteção de uma invenção na maioria dos países do mundo.” Vide: https://www.wipo.int/pct/pt/

[2] Em tradução livre: Pilar I. Instituições, Pilar II. Capital Humano e Pesquisa, Pilar III. Infraestrutura, Pilar IV. Sofisticação de Mercado, Pilar V. Sofisticação de Empresas, Pilar VI. Produtos de Conhecimento e Tecnologia e Pilar VII. Produtos Criativos.

[3] O pilar Instituições mede: (i) ambiente institucional – a estabilidade no ambiente de negócios e a eficiência governamental (em aspectos políticos, jurídicos, operacionais e de segurança); (ii) ambiente regulatório – a qualidade regulatória do Estado na sua habilidade de formular e implementar políticas públicas e, também, de fazer valer as normas (rule of law); e (iii) ambiente de negócios – em que medida o governo garante bom ambiente para a iniciativa privada e qual a percepção quanto à política e cultura empreendedora.

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