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Não é só Guilherme Boulos. Em algumas das principais capitais com segundo turno, candidatos estão tendo dificuldade de impor a polarização como tema central da campanha, quando adversários fogem dessa moldura.
As pesquisas desta quinta-feira (10) mostram vantagem segura de Ricardo Nunes (MDB), bem acima do potencial de voto previsto para um “candidato bolsonarista” no início da campanha. Boulos tenta trazer o prefeito para essa caixa. Para Nunes, não há nenhuma vantagem nisso: as pesquisas de hoje mostram que cerca de 2/3 dos eleitores de Pablo Marçal (PRTB), Tabata Amaral (PSB), José Luiz Datena (PSDB) e Marina Helena (Novo) vão para ele (MDB), enquanto 1/3 migra para o candidato do PSOL.
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O consenso das pesquisas, consolidado no agregador do JOTA, mostra Nunes com 50% dos votos totais, cálculo que inclui os brancos e nulos. Em votos válidos, representa 58%. Já Guilherme Boulos tem 34% dos votos totais e 42% dos válidos. Esse cenário reflete uma vantagem significativa para Nunes, embora ainda haja espaço para variações, já que cada ponto percentual retirado de um candidato reduz a diferença em dois pontos nas intenções de voto.
Segundo o modelo, a probabilidade de Nunes vencer o confronto contra Boulos é de 94%.
Para Nunes, qualquer mudança de trajetória seria insensata. O prefeito conta ainda com boa notícia de que até agora fracassou a tentativa de Marçal de incentivar voto em Boulos, para forçar uma negociação e um pedido de desculpas. Seria em alguma dificuldade para Nunes que Marçal e Bolsonaro poderiam ampliar sua influência.
Estratégias diferentes
Em geral, a nacionalização tende a ser estratégia do candidato que vê, nas pesquisas qualitativas, potencial de desgaste ao adversário, já que em confronto um contra um a transferência de votos pode ser menos decisiva que a rejeição associada aos polos.
Segundo colocado no primeiro turno em Belo Horizonte, oito pontos atrás de Bruno Engler (PL), o prefeito Fuad Noman (PSD) saltou para a liderança na pesquisa Datafolha, sete pontos à frente. Bolsonarista convicto, Engler se agarra ao ex-presidente e conta com a tropa de choque digital formada pelo deputado Nikolas Ferreira (PL) e pelo senador Cleitinho (Republicanos).
Já Fuad se equilibra. Se recebeu apoio de PT e PDT, que falam em “frente ampla antibolsonarista”, o prefeito evita qualquer identificação ideológica ou nacionalização.
Mesmo em sua aproximação com Lula, Fuad busca o caráter institucional: a visita que está sendo articulada a Brasília deve tratar de obras viárias no entorno da cidade, a fim de mostrar o acesso a recursos e programas federais, não aliança político-ideológica.
Em Goiânia, Fred Rodrigues (PL) não tem opção. Foi impulsionado pelo ex-presidente nas duas semanas finais que ele saiu de um distante quarto lugar para a liderança no primeiro turno, e agora deve aprofundar essa identificação, contra Sandro Mabel (União), candidato do governador Ronaldo Caiado. O foco da campanha é apresentar Fred como o verdadeiro nome da direita, pintando Mabel, um empresário com histórico no centrão, como nome do sistema ou até “comunista”, por ter apoiado Dilma no início da gestão.
Mabel, que aparece em primeiro lugar na primeira pesquisa do segundo turno, ignora esses ataques e tenta fugir da armadilha, em cidade que deu 64% dos votos a Bolsonaro. Ele se liga ao governador e à sua experiência política para pintar o adversário como despreparado, tema relevante após quatro anos de administração ruinosa de um estreante na gestão.
Principal embate direto PT x PL, Fortaleza deve ter segundo turno disputado voto a voto, segundo o DataFolha desta quinta, que mostrou vantagem de dois pontos de André Fernandes (PL) sobre Evandro Leitão (PT). Os dois adotam postura diferente dos próprios históricos.
Fernandes, que despontou como influencer digital bolsonarista, com referências frequentes a Olavo de Carvalho, faz campanha até aqui propositiva, centrada mais na cidade, suavizando a imagem e com poucas menções a Bolsonaro. Já Leitão, que só se filiou ao PT em dezembro, vindo do PDT, se agarrou à imagem do partido, com citações frequentes a Lula, ao governador Elmano de Freitas e, principalmente, ao ministro Camilo Santana.
Agora, queira ou não Fernandes, a polarização vai se impor. Bolsonaro planeja visita à cidade, e Lula, que manteve distância da capital cearense depois do início da campanha, deve estar ao lado de Leitão já nesta sexta-feira (11).
Para o presidente, trata-se mais do que aumentar a principal chance do PT de fazer um prefeito de capital. A pesquisa DataFolha mostra vantagem do candidato do PL entre os mais jovens e também entre os mais pobres da cidade em que ele derrotou Bolsonaro por 58% a 32% há dois anos. O mesmo se repete em São Paulo. Não se trata, para ele, de polarização, mas de tentar, nas duas cidades, conter a tendência de perda de um eleitor que foi chave para suas próprias vitórias.