Entenda como as substâncias psicoativas agem para causar dependência

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As substâncias psicoativas estão mais presentes no nosso cotidiano do que parece. Seja no café que tomamos para despertar, no cigarro para quem fuma ou em bebidas alcoólicas, todas têm em comum o fato de agirem diretamente no sistema nervoso central. Por isso, alteram o funcionamento do cérebro e causam mudanças no humor, comportamento e sensações.

Mas por que elas têm tanto efeito sobre o nosso cérebro? A resposta está na forma como elas interagem com neurotransmissores, que são responsáveis pela comunicação entre as células nervosas. Com o uso contínuo, elas geram mudanças profundas no cérebro, e isso leva ao desenvolvimento de dependência.

Ao longo deste post, você vai entender o que são substâncias psicoativas, quais são as mais comuns e como agem no sistema nervoso com o psicólogo do Hospital Santa Mônica, Marcelo Padilla. Acompanhe!

O que são substâncias psicoativas?

Substâncias psicoativas são compostos químicos que modificam o funcionamento do sistema nervoso central, isto é, alteram o estado natural da pessoa. Então, ao serem consumidas, modificam a percepção, o humor, o comportamento e até as emoções. Elas podem ser tanto lícitas, como o álcool e a cafeína, quanto drogas ilícitas, como a cocaína e o ecstasy. 

O grande impacto das substâncias psicoativas está na sua capacidade de interferir diretamente nos neurotransmissores, criando artificialmente sensações de prazer ou alívio. Com o uso contínuo, isso geralmente leva à dependência e à dificuldade de controlar o consumo.

Quais são as mais comuns?

Elas estão presentes em muitos produtos do cotidiano, além de serem utilizadas como drogas recreativas. Entre as mais comuns, temos:

álcool — amplamente consumido e socialmente aceito, altera o humor e a coordenação motora;

nicotina — presente nos cigarros, estimula o sistema nervoso e causa forte dependência;

cafeína — encontrada em cafés, chás e energéticos, aumenta a concentração e a energia momentânea;

analgésicos opioides — usados no tratamento da dor, têm alto potencial de abuso e dependência;

cocaína — um estimulante potente que aumenta a euforia, mas causa sérios riscos à saúde física e mental;

anfetaminas — usadas em tratamentos médicos, também são consumidas ilegalmente para aumentar a energia e foco;

LSD — uma droga alucinógena que altera drasticamente a percepção de realidade;

MDMA (Ecstasy) — usada principalmente em festas, provoca sensação de euforia e aumento da empatia;

benzodiazepínicos — medicamentos ansiolíticos, têm um efeito calmante, mas geram dependência com o uso prolongado.

Como as substâncias psicoativas agem no sistema nervoso?

Essas substâncias podem tanto estimular quanto inibir a liberação de certos químicos no cérebro, o que resulta em mudanças no humor, comportamento e percepção da realidade. 

No início, os efeitos são prazerosos, mas, com o uso prolongado, o cérebro se adapta, exigindo doses maiores para obter os mesmos efeitos — um caminho que leva à dependência.

A seguir, explicaremos com mais detalhes como essas substâncias interagem com os neurotransmissores e afetam o sistema de recompensa cerebral, fatores centrais para o desenvolvimento da dependência.

Interação com neurotransmissores

Esses compostos conseguem afetar de forma direta ou indireta os neurotransmissores, que são os responsáveis por transmitir sinais entre os neurônios. Drogas como a cocaína, por exemplo, interferem na dopamina, um neurotransmissor ligado ao prazer e à motivação. Isso faz com que o cérebro receba estímulos intensos de recompensa, o que cria uma sensação momentânea de bem-estar.

Com o uso contínuo, o cérebro passa a produzir menos neurotransmissores naturalmente, levando a uma dependência crescente da substância para que a pessoa sinta prazer ou até para se sentir normal.

Mudanças neurais

É possível afirmar que essas substâncias provocam mudanças bioquímicas profundas no cérebro. O uso repetido dessas drogas altera a plasticidade sináptica, ou seja, a capacidade das conexões entre os neurônios de se adaptarem.

As substâncias interferem no equilíbrio de neurotransmissores como a dopamina e o glutamato, o que reforça os circuitos que associam o consumo da droga ao prazer. Com o tempo, o cérebro “aprende” a depender dessas substâncias, o que torna difícil abandonar o hábito sem tratamento especializado.

Sistema de recompensa

O núcleo de accumbens, região anatômica no cérebro responsável por controlar o prazer e a motivação, é fundamental no sistema de recompensa. Ao consumir substâncias psicoativas, ocorre uma liberação de dopamina que gera euforia e satisfação.

Esse sistema, que originalmente recompensa comportamentos essenciais como alimentação e interação social, é “sequestrado” pelas drogas. O cérebro passa a associar o uso da substância a uma recompensa exagerada, levando à busca constante pelo consumo, mesmo quando isso traz prejuízos.

Reforço negativo

O reforço negativo acontece quando o uso de substâncias psicoativas se torna uma forma de aliviar sensações desconfortáveis, como ansiedade, estresse ou sintomas de abstinência. Em vez de buscar a droga para obter prazer, o indivíduo passa a consumi-la para evitar o sofrimento causado pela falta dela.

Esse mecanismo cria um ciclo: a pessoa utiliza a substância para reduzir sensações ruins, mas com o tempo, o corpo se adapta e a droga se torna menos adequada, o que exige doses maiores para o mesmo alívio. Isso reforça a dependência, e torna o uso mais frequente e difícil de controlar.

Desenvolvimento de tolerância

É realmente difícil encontrar uma situação em que o corpo humano não se adapte ao longo do tempo. Com substâncias psicoativas, esse processo resulta no desenvolvimento de tolerância. Ou seja, o organismo se ajusta à presença da substância e assim exige doses maiores para os efeitos serem sentidos. 

Essa adaptação costuma ocorrer de várias maneiras, como o aumento da capacidade de metabolizar a droga ou a redução de sua eficácia nos receptores. Com o passar do tempo, isso leva os indivíduos a consumirem quantidades cada vez mais altas, aumentando o risco de dependência e outros problemas de saúde.

Quem está mais propenso a ser dependente de substâncias psicoativas?

Quando falamos sobre dependência de substâncias psicoativas, é importante lembrar que não existe uma fórmula mágica. Algumas pessoas costumam ser mais vulneráveis a essa situação, e isso está ligado a uma combinação de fatores.

A genética, por exemplo, influencia como o corpo responde a essas substâncias. Além disso, o ambiente em que a pessoa vive, experiências de vida e até questões psicológicas têm relações fortes com o consumo dessas substâncias.

A presença das substâncias psicoativas em nossa rotina é mais comum do que imaginamos, mas a dependência que elas podem causar não deve ser encarada como algo distante. O desequilíbrio químico no cérebro e o impacto na vida cotidiana são sinais que merecem atenção imediata. Quando o uso começa a interferir na sua qualidade de vida ou nas suas relações, é hora de agir antes que o problema se agrave.

Se você ou alguém que conhece precisa de apoio em relação ao consumo de psicoestimulantes, entre em contato. Não é necessário passar por este momento sozinho. Estamos aqui para ajudar.

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