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O apagão que deixou São Paulo no escuro, desde a última sexta-feira (11/10), se tornou não só um problema em que ninguém quer assumir a responsabilidade, como também está sendo usado para tentar causar danos políticos aos adversários, com múltiplos objetivos.
Além do impacto evidente da eleição municipal de São Paulo, que deve ter esse tópico como o principal tema do debate desta segunda na Band, o drama de milhões de paulistanos está sendo usado como insumo político mirando o pleito presidencial de 2026 e também como elemento de disputa de narrativas sobre privatização e na queda de braço entre o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e a Aneel.
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Pelo lado do governo federal, Silveira capitaneou o ataque em diversas frentes durante o fim de semana, sendo hoje reforçado pelo ministro da Secom, Paulo Pimenta. Silveira trocou ataques com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e com o prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes.
O chefe do MME acusou o prefeito de São Paulo de propagar fake news em publicações sobre uma possível renovação do contrato com a Enel, cuja concessão é federal. Silveira também aproveitou a oportunidade para apontar o dedo para um problema de gestão municipal e que tem grande influência no setor elétrico da cidade: a poda de árvores.
Com Tarcísio, que usou o episódio para dizer que há um problema em uma concessão federal que deveria ter a caducidade anunciada, aproveitou para lembrar que a agência regulatória do setor, a Aneel, com quem o ministro vive às turras, é composta de maioria de indicados do governo passado, do qual Tarcísio fez parte.
Silveira também aproveitou para subir o tom e manifestar insatisfação com a atuação da Aneel. Ao longo do fim de semana, Ministério de Minas e Energia e agência reguladora travaram uma disputa para se apresentarem como protagonistas na solução do problema da cidade mais importante do país.
Nesta segunda-feira, o ministro repetiu que vem denunciando “boicotes” da agência reguladora em relação à implementação de políticas públicas no governo ao falar sobre a demora da agência em abrir um processo de caducidade contra a Enel em São Paulo.
O apagão é só mais um episódio da desavença entre o Executivo e a agência reguladora, em uma briga que já se arrasta há meses em Brasília, e que ganhará novos contornos com a auditoria da CGU.
O potencial de destruição de imagem do problema em São Paulo é grande. A questão é quem vai pagar a fatura do desgaste político. Por enquanto, isso está em aberto.
Em 2020, por exemplo, a crise energética no Amapá foi determinante para Josiel Alcolumbre perder a corrida eleitoral pela prefeitura da cidade de Macapá (AP). À época, o próprio irmão, o poderoso senador Davi Alcolumbre, atribuiu a derrota do irmão, que tinha chances de levar a disputa no primeiro turno, ao apagão.
Na disputa pela prefeitura de São Paulo, o episódio tende a ajudar Guilherme Boulos a ganhar terreno contra Ricardo Nunes, mas não muda o favoritismo do atual prefeito da capital paulista.
O próprio governo federal tem essa leitura. A estratégia do Planalto é atuar “menos” para salvar Boulos de uma derrota provável e mais pensando que na frente essa conta pode chegar para o Executivo federal. O temor é que Tarcísio, possível adversário de Lula em 2026, consiga colocar a responsabilização no Executivo federal.
Uma fonte do governo lembra que o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, que em tese estava derrotado politicamente depois das chuvas no Rio Grande do Sul, quase ganhou o pleito na primeira rodada, embora ainda tenha que disputar o segundo turno contra a petista Maria do Rosário.
Há quem veja, no governo federal, riscos de que Nunes, com o auxílio de Tarcísio, consiga colocar a responsabilidade na União, pelo fato de a concessão ser federal. Para quem aposta que o desgaste ficará com o prefeito, por enquanto os dados dos bastidores não corroboram essa leitura, embora isso possa mudar com os debates.
Em novembro de 2023, durante episódios de falta de energia na capital paulista, pesquisas de avaliação das gestões de Nunes e Tarcísio, realizadas antes e depois do apagão, mostraram que a rejeição ao prefeito subiu 7 pontos percentuais em 45 dias, enquanto a rejeição ao governador aumentou 3 pontos no mesmo período. Mesmo que o maior dano seja sobre Nunes e Tarcísio, a vantagem do atual prefeito em relação a Boulos é tão grande que dificilmente será superada em um espaço tão curto de tempo.
Dados do agregador do JOTA mostram que Nunes tem 50% dos votos totais, incluindo brancos e nulos, o que corresponde a 58% dos votos válidos. Guilherme Boulos tem 35% dos votos totais e 42% dos válidos. Se essa diferença se mantiver nas próximas duas semanas, Nunes poderá garantir uma vantagem de cerca de 900 mil votos sobre Boulos. Um número muito maior que os 25 mil votos que os separaram no primeiro turno.