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Além de trazer um ranking de 133 economias com relação ao seu ambiente de inovação, a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) incluiu no Índice da Inovação Global 2024 (GII, em inglês) a lista dos 100 maiores clusters de ciência e tecnologia (clusters C&T) no último ano. Enquanto os artigos anteriores trataram do ranking de economias do GII 2024 e dos rumos da inovação global (disponíveis aqui, aqui e aqui), este vai abordar as particularidades destes centros.
Para contextualização, são considerados clusters C&T as regiões geográficas nas quais a OMPI localizou um maior número de inventores listados nos depósitos de patentes feitos por meio do Tratado PCT[1] (2019 a 2023), além de uma concentração de autores de artigos científicos originais publicados entre 2018 e 2022. Nesse caso, o parâmetro é o índice SCIE (Science’s Citation Index Expanded), que inclui as mais relevantes revistas acadêmicas do mundo (desconsiderados artigos das áreas sociais e de humanidades).
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Segundo a OMPI, os centros de C&T são a espinha dorsal do sistema de inovação, pois reúnem em um mesmo perímetro faculdades de ponta, cientistas renomados, empresas que investem substancialmente em P&D e inventores profícuos. A proximidade destes atores resulta em estreita colaboração, possibilitando o fomento de avanços científicos e invenções que moldarão a região, o país ou mesmo todo o planeta.
Os maiores clusters: onde moram cientistas e inventores
Desde 2016, a OMPI identifica quais são os maiores centros de C&T do mundo por entender que as economias mais inovadoras se beneficiam destes ecossistemas. Ou seja, mapeá-los poderia ajudar a compreender onde e como processos e produtos inovadores florescem.
Ao mesmo tempo, a organização avalia que os clusters não necessariamente respeitam fronteiras geográficas. São frequentes os centros com alta densidade de cientistas e inventores que combinam diferentes regiões ou cidades, por vezes em mais de um país. Exemplos são os clusters São Francisco-São José (EUA), Tel Aviv-Jerusalém (Israel), Bruxelas-Antuérpia (Bélgica) ou a Basiléia (fronteiras de Suíça, Alemanha e França).
Dado que as métricas para identificação estão relacionadas a outputs de inovação (artigos científicos e patentes), não é surpresa que os cinco maiores clusters de 2024 não estejam localizados nos 5 primeiros países do ranking do GII (Suíça, Suécia, EUA, Singapura e Reino Unido).
Aqui, lembramos que as notas para o ranking das economias, no quesito ecossistema de inovação, consideram tanto inputs quanto outputs, com objetivo de mensurar quão favorável é o ambiente de determinado país e, também, quais os resultados concretos obtidos.
Na verdade, os cinco maiores centros de C&T estão localizados na Ásia, sendo 3 deles na China. O primeiro colocado é o cluster Tóquio-Yokohama, bastante em razão das patentes depositadas pela Mitsubishi Eletric. Já o segundo colocado é o cluster Shenzhen-Hong Kong-Guangzhou, dependente das patentes depositadas pela Huawei. É incrível pensar que 20% das patentes depositadas internacionalmente são provenientes de um destes centros.
Em que pese a liderança do Japão, fato é que a China realmente se destaca pelo número de centros de C&T: são 26 no total, dos quais três aparecem no ranking pela primeira vez em 2024. Nanchang e Kunming ganharam espaço na lista em razão do número de publicações científicas pelas universidades locais. O centro de Macao SAR-Zhuhai contou com elevado número de depósitos de patentes feitos pela empresa GREE Eletric Applicances.
Outros dois clusters chineses se destacaram no GII 2024 por demonstrarem maior crescimento se comparado: Hefei e Zhengzhou (22,7% e 18,9%, respectivamente). Além da China, merecem menção os 4 centros da Coreia do Sul.
Geograficamente, os centros de C&T chineses, japoneses, sul-coreanos e indianos colocam a Ásia como líder entre os 100 maiores clusters listados pela OMPI. Como em outras edições, América do Norte e Europa completam o pódio:
Quanto ao recorte de renda, a conclusão do GII 2024 é que centros de C&T das economias de alta renda desempenharam em níveis menores este ano. Em 37 dos 63 clusters destes países, houve output negativo no período (Seul, Londres, Paris, Munique, Amsterdã-RoterdãRoterdã, Teerã, Estocolmo, Madri, Toronto, Copenhagen), muito em decorrência da diminuição do número de publicações científicas, conforme identificamos no artigo anterior da série (aqui).
Na direção oposta, houve substancial crescimento no último ano nos centros de Daejeon e Seul (6,9% e 4,1%, ambos sul-coreanos), São Diego (EUA, 4,2%) e Varsóvia (Polônia, 3,1%).
Contudo, se foi possível perceber taxas de crescimento menores de boa parte dos clusters dos países de alta renda, frente a taxas maiores dos países de renda média, foram poucas as modificações verificadas nas posições de liderança em comparação ao GII 2023. Vale menção para o cluster de Sydney, que ultrapassou o centro de Melbourne e se tornou líder na Austrália – com destaque para as publicações da Universidade de Sydney e para os depósitos da empresa Cochlear.
Importante pontuar também que, pela primeira vez, um cluster africano está na lista dos 100 maiores do GII. O centro de C&T do Cairo (Egito) ocupa o 95º lugar do ranking, subindo 8 posições.
Olhar para a América Latina, infelizmente, revela mais uma vez certa estagnação. O único cluster da região a integrar a lista dos 100 maiores é o da cidade de São Paulo – 73ª posição. A região caiu duas posições em comparação ao GII 2023, dependendo mais das publicações científicas do que das patentes depositadas. Dentre os principais responsáveis pela liderança da cidade estão a Universidade de São Paulo e a Braskem.
Para além dos 100 maiores clusters, a OMPI criou outra lista estendida, considerando mais 132 centros de C&T, sob as mesmas métricas. Nesse ranking, Buenos Aires e Cidade do México representam a América Latina. Mais uma vez é curioso notar a discrepância se considerarmos o desempenho dos países: Chile, que é o 2º país mais inovador da região, não possui nenhum centro de C&T.
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E onde a proporção de cientistas e inventores é maior?
Outra métrica desenvolvida para contextualizar a localização dos clusters de inovação é a intensidade de atividade destes centros, considerada a população local. A proposta dessa abordagem é considerar a relação entre a atividade do centro em si, frente à população do mesmo território. Tal proporção permite avaliar a preponderância das atividades científicas e inventivas no local.
Por essa comparação, conclui-se que há geografias distintas entre os top 10 clusters na lista geral versus no quesito intensidade. A discrepância entre Ásia e Europa se acentua. Cambridge é o centro de maior intensidade em C&T do ranking, considerada sua população de pouco menos de 500 mil pessoas. Outros representantes europeus que apenas entram no ranking por intensidade são Eindhoven (Holanda), Oxford (Reino Unido) e Munique (Alemanha).
Os Estados Unidos se mantêm bem-posicionados nos dois rankings da OMPI, com os centros de São José-São Francisco, Boston-Cambridge e São Diego nas duas listas.
Vale destacar que não há nenhum representante da China entre os 10 centros de maior intensidade em C&T. Nessa relação, o cluster chinês mais bem colocado é o de Beijing, na 11ª posição, cuja população é de 19,4 milhões de habitantes. Na Ásia, apenas a Coreia do Sul aparece em ambas as listas, embora com centros diferentes: enquanto o de Seul representa os sul-coreanos no ranking geral (população de 26,3 milhões), Daejeon é o mais intensivo em C&T (população de aproximadamente 2,8 milhões de pessoas).
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Conclusão
A análise dos parâmetros utilizados pela OMPI para mapear as regiões do planeta que contam com maior índice de outputs de inovação traz elementos que confirmam liderança da China como reduto de diferentes polos de ciência e tecnologia, seguida pelos Estados Unidos já há alguns anos. Ao mesmo tempo, frente à gigantesca população dos centros asiáticos, é interessante notar localidades que se destacam na razão cientistas e inventores por habitante.
Sob um olhar de planejamento para fomento da inovação, parece relevante a concentração em mesma região geográfica dos diferentes atores do ecossistema: universidades, empresas e capital humano qualificado. Mesmo que possuir clusters de inovação não pareça ser requisito fundamental para estar bem qualificado no GII, a prevalência de alguns países nesta lista tem suportado boas posições dentre outras economias.
[1] O Tratado PCT em matéria de Cooperação em patentes é administrado pela OMPI e permite depósitos internacionais em diferentes países, incluindo o Brasil. Para esta listagem foram consideradas aproximadamente 1.3 milhões de depósitos de patentes.