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Empresas em todo o mundo investiram em 2022 cerca de US$ 9,4 bilhões em iniciativas de DEI. Essas três letras (“D” de diversidade, “E” de equidade e “I” de inclusão) representam, portanto, muito mais que conceitos abstratos: além de promover justiça social e igualdade de oportunidades, estão no cerne de estratégias de negócios concretas que podem impulsionar a inovação e incrementar o desempenho das organizações.
O DEI se tornou uma necessidade ética e uma grande vantagem competitiva. Consumidores e parceiros de negócios estão cada vez mais atentos às práticas adotadas pelas marcas e tendem a preferir aquelas que demonstram um compromisso social genuíno. A população hoje enxerga a desigualdade tal qual ela existe e é afetada pelo que vê. A construção de reputação está, assim, intrinsecamente ligada à sua capacidade de promover um ambiente inclusivo e diversificado.
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Esse tipo de compromisso público, mais do que melhorar a imagem de uma empresa, exerce uma pressão positiva para que outras adotem iniciativas semelhantes. No Brasil, um levantamento realizado pelo Instituto Ethos com 169 grandes empresas revelou que 58% delas estabeleceram metas para aumentar a presença de mulheres em posições de liderança, enquanto 39% têm políticas específicas para o recrutamento e seleção de profissionais negros.
Um famoso levantamento da McKinsey, de 2015, chegou a alegar que instituições com altos índices de diversidade étnica e racial têm 35% mais chance de apresentar desempenho financeiro superior ao da concorrência. No entanto, novas pesquisas questionam a metodologia utilizada, apontando que, embora os benefícios sociais e de inovação sejam inúmeros, a conexão com a lucratividade não é tão direta quanto se pensava.
Nos últimos meses, a imprensa internacional vem destacando uma tendência preocupante: a redução de investimentos e o encolhimento das equipes dedicadas a programas de DEI em grandes empresas, especialmente no setor de tecnologia.
Um levantamento da Paradigm revelou que, entre 2022 e 2023, o número de organizações nos Estados Unidos com uma estratégia formal de DEI caiu nove pontos percentuais. Não é pouca coisa. O que pode estar acontecendo é que muitas organizações olham para o DEI pensando em retorno econômico de curto prazo. O verdadeiro valor, por outro lado, surge quando a diversidade cria um ambiente interno que favorece o aprendizado e o crescimento coletivo.
Um estudo conduzido por pesquisadores das universidades de Harvard e da Flórida, que analisou mais de 490 agências bancárias norte-americanas, revelou que a diversidade racial nas equipes está diretamente ligada a melhores resultados financeiros. No entanto, esse benefício só se materializa quando todos os funcionários percebem o ambiente de trabalho como propício ao aprendizado e à colaboração.
Um lugar onde as pessoas pensam diferente, questionam umas às outras e expõem uma ampla variedade de pontos de vista e realidades estimula a curiosidade e a busca por conhecimento – características essenciais para qualquer profissional do século 21, época marcada por incertezas e a necessidade de rápida adaptação.
Em outras palavras, ao incentivar um ambiente onde a diversidade e o aprendizado contínuo são valorizados, uma organização se torna mais preparada para enfrentar os desafios e oportunidades de um mercado em constante e acelerada transformação. Como registrou o Fórum Econômico Mundial em seu relatório de 2023, 44% das nossas habilidades estarão desatualizadas num prazo de cinco anos. Precisamos, sempre, aprender a aprender.
Pesquisas indicam ainda que, quando políticas de DEI enfatizam excessivamente os benefícios econômicos, indivíduos de grupos sub-representados questionam se aquela organização realmente é o lugar onde elas deveriam estar. Outro ponto é que, no momento que essas iniciativas mostram que não vão entregar os ganhos prometidos, os colaboradores tendem a deixar de acreditar na importância da diversidade, da equidade e da inclusão.
Não basta contratar, é necessário garantir espaços seguros para que as pessoas explorem suas ideias e construam ações concretas, alterando a maneira como as organizações operam atualmente. Isso, para além de qualquer tipo de ganho econômico, é fundamental: representa uma oportunidade única de atuar ativamente na redefinição da lógica da história. Só vamos reduzir as desigualdades a partir de um esforço coletivo.
Ninguém pode continuar fingindo ser normal viver num mundo – e, especialmente, num país – tão desigual. Pessoas pretas e pardas, por exemplo, ainda somam, de acordo com o IBGE, mais de 70% dos pobres e extremamente pobres no Brasil. O fato de termos essa enorme parcela da população com a vida limitada pela pobreza e pela miséria por causa de uma política escravocrata que nunca foi devidamente compensada é uma das várias distorções que precisam incomodar.
Se a ausência de uma reparação histórica torna essa realidade ainda mais difícil, também reforça a importância de que todos, incluindo qualquer organização, façam parte da mudança.