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A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas abre um novo cenário político e econômico para o Brasil. Embora a sua presença na Casa Branca não seja novidade, já que ele foi presidente de 2017 a 2021, a imprevisibilidade de Trump deve trazer impasses à economia e à diplomacia brasileira, segundo disseram analistas do JOTA Fabio Graner, Vivian Oswald e Iago Bolívar, em live feita nesta quarta-feira (6/11).
Para o Palácio do Planalto, o resultado do pleito, anunciado na madrugada desta quarta-feira (6/11), é mais importante para o cenário nacional e para 2026 do que a eleição municipal de outubro. A vitória de Trump foi expressiva. Até momento, levou 295 delegados (eram necessários no mínimo 270), e o seu partido também teve a maioria no Senado e segue em vantagem na Câmara.
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A vitória de Trump já se refletiu, no início do dia, no aumento global do dólar. A moeda americana disparou em todo o mundo e pressiona o real. Diante do cenário externo adverso, o governo Lula se vê pressionado a “arrumar a casa” rapidamente, para estabilizar a economia. Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, será importante um pacote fiscal estruturado, que não só traga segurança aos mercados, mas responda à expectativa de crescimento sustentável das despesas para o país.
A eleição de Trump também levanta preocupação nas relações comerciais pela possibilidade do aumento de tarifas. O analista-chefe do JOTA, Fabio Graner, destaca, em especial, o setor do aço, que já foi alvo de medidas protecionistas durante a administração anterior do republicano. O impacto pode reverberar nas indústrias que exportam para os EUA via México, dado o histórico de Trump em incentivar restrições comerciais ao país latino.
Também no front doméstico, o cenário favorece o campo da direita no Brasil para 2026, especialmente figuras associadas à imagem de Bolsonaro, mesmo com a inelegibilidade do ex-presidente.
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A avaliação dos analistas é de que o presidente Lula, que havia declarado apoio à democrata Kamala Harris, reagiu rapidamente ao resultado das eleições e parabenizou Trump logo cedo. Com o retorno do republicano, é esperada uma postura menos favorável ao multilateralismo, uma prioridade para Lula. A vitória de Trump também provoca um questionamento sobre a participação e colaboração dos EUA em acordos e fundos climáticos e econômicos, que sempre foram limitados, mas devem ser ainda mais escassos.
Por outro lado, o Brasil pode se beneficiar de um possível antagonismo entre os Estados Unidos e a União Europeia. O bloco havia manifestado receio de novas tarifas de importação e adiantou que se preparava para possíveis taxações. Uma tensão entre os dois atores pode abrir uma oportunidade para o Brasil estreitar relações com o bloco europeu.
A analista internacional Vivian Oswald aponta que pode haver um favorecimento ao acordo entre Mercosul e União Europeia, já em vias de conclusão. A China também deve ampliar sua presença nas negociações com o bloco e com países da América Latina. Mas isso não deve indicar uma adesão do Brasil ao projeto da Nova Rota da Seda. O país deve manter aceitando investimentos sem uma formalização.
O cenário na América Latina, especialmente na Argentina e Venezuela, deve enfrentar maior instabilidade, mas a inserção do Brasil como líder regional deve perder um pouco de força, avalia a analista. O fortalecimento da direita no Brasil e e no resto da América Latina se alinha com o movimento global impulsionado por Trump e figuras como Javier Milei na Argentina.
No caso venezuelano, a possível presença russa no país de Nicolas Maduro, por meio de movimentação militar ou mesmo a instalação de uma base, pode intensificar um “jogo de narrativas”, segundo Vivian Oswald. O cenário também aumenta a pressão de gastos de defesa em uma região já fragilizada por outras crises. Nesse contexto, embora cresça a necessidade de posicionamento do Brasil como uma força de equilíbrio regional, serão maiores os desafios.