Setor de óleo, gás e energia pode impulsionar a evolução energética com menor pegada de carbono

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Assim como a invenção da roda, o domínio do fogo e o advento da agricultura foram marcos essenciais na evolução humana, o setor de petróleo e gás, desde seu surgimento, desempenha um papel crucial na construção do mundo. Durante a Revolução Industrial, impulsionou inovações nos transportes, na eletricidade e viabilizou a produção de derivados essenciais, muitos dos quais ainda são consumidos atualmente.

Isso faz com que a indústria de petróleo, gás e energia seja uma peça fundamental da economia mundial — e também da brasileira. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), hoje o segmento representa 17% do Produto Interno Bruto (PIB) Industrial nacional e é responsável por 45% do fornecimento doméstico de energia primária.

Agora, depois de mais de 200 anos de domínio do petróleo em escala global, o mundo se prepara para uma nova era, com o uso de fontes de energia com menor emissão de carbono e metas ambientais ambiciosas. Isso não significa que o setor perderá sua relevância — muito pelo contrário. Com uma estrutura robusta e políticas públicas direcionadas, o setor de petróleo, gás e energia pode se tornar um protagonista da tão perseguida transição energética.

Em novembro de 2023, na COP 28, realizada nos Emirados Árabes Unidos, cerca de 500 empresas assinaram um compromisso de zerar suas emissões até 2050. A forma como isso será feito, no entanto, ainda é uma incógnita. O que é certo é que o mundo continuará com alta demanda por petróleo por um longo período.

Segundo dados do IBP, 80% da matriz energética mundial ainda é composta de combustíveis fósseis, e 85% dos produtos produzidos no mundo contêm petroquímicos em alguma medida. Luisa Valentim Barros, head de Desenvolvimento de Negócios da WayCarbon, aponta que, mesmo no cenário mais ambicioso em termos de emissões, a projeção é de que haverá uma oferta robusta de combustíveis fósseis até 2050.

Evolução energética

Apesar dos esforços conjuntos para reduzir as emissões de carbono, a transformação da matriz energética não é uma tarefa simples nem rápida.

“A transformação dessa matriz será gradual. Não é uma chave que você muda de uma hora para outra. Ela precisa ser justa, balanceada e eficiente. É necessário desenvolver tecnologias e inovações que façam com que essa transição seja menos onerosa para o consumidor”, aponta Roberto Ardenghy, presidente do IBP. “Não basta disponibilizar uma nova energia; ela tem que ser competitiva.”

Para João Victor Marques, pesquisador da FGV Energia, o momento é uma oportunidade econômica dupla para o setor: desenvolver sua atividade principal com menor emissão de carbono e criar novas soluções e produtos focados no baixo carbono. “Os combustíveis fósseis ainda desempenham um papel relevante na transição energética, garantindo uma substituição ordenada e prevenindo rupturas e desabastecimentos”, explica Marques.

Os especialistas afirmam que as estruturas e a experiência do setor podem facilitar a evolução para combustíveis de baixo carbono, transformando-o em um protagonista da nova geração de energia. “A adaptação e reutilização de infraestruturas para viabilizar o transporte de hidrogênio e gás carbônico é uma dessas estratégias, evitando que os ativos sejam inutilizados precocemente”, destaca Luísa Barros, da WayCarbon.

Ardenghy, do IBP, reitera que, para o sucesso das iniciativas, as empresas precisam buscar uma energia confiável, sustentável e acessível para a população. Com foco no futuro, o IBP mantém parcerias nacionais e internacionais, além de diversos comitês técnicos que trabalham para disseminar e consolidar as melhores práticas nos processos de produção de petróleo e gás.

“Temos 70 anos de história e estamos nos preparando para nos atualizar em relação à agenda de transição energética e contribuir de forma positiva. Estamos nos reinventando para enfrentar o desafio da descarbonização”, explica o executivo. “Não haverá uma transição energética equilibrada sem a participação do setor de óleo e gás. Somos parte da solução”, afirma Ardenghy.

Entre as soluções estudadas pela entidade estão a energia eólica offshore, biocombustíveis e combustível sustentável de aviação (SAF), entre outros.

O custo do futuro

Apesar de já contar com uma estrutura robusta de logística e de pesquisa e desenvolvimento, os especialistas ouvidos pelo JOTA avaliam que são necessárias políticas públicas capazes de fomentar novas alternativas e tecnologias de baixo carbono, com linhas de crédito competitivas.

De acordo com o IBP, dos R$ 3,9 bilhões investidos em pesquisa, desenvolvimento e inovação em 2023, 15% foram destinados a projetos de eficiência energética e fontes de energia renováveis.

Recentemente, o Senado Federal aprovou o projeto de lei do Combustível do Futuro, que aumenta o percentual de mistura de biocombustíveis na gasolina e no diesel. No entanto, a WayCarbon ressalta que ainda existem grandes desafios na redução de emissões do processo de refino e no desenvolvimento de tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS), que precisam ser promovidas e facilitadas.

Se para alguns dos entrevistados são necessárias políticas públicas de impacto econômico e social, considerando o grande peso do setor no PIB e no desenvolvimento regional, outros dizem acreditar que, atualmente, existem políticas públicas sem a devida coordenação em termos de metas globais e visão de longo prazo para o setor de energia brasileiro.

“Políticas públicas requerem ampla participação social e transparência em sua formulação. As medidas precisam endereçar incentivos à oferta — como créditos fiscais, cláusulas de P&D e conteúdo local — e à demanda — como mandatos de redução de emissões e de mistura volumétrica — para evitar ‘peças soltas’ no processo”, disse João Victor Marques, da FGV Energia.

Para Ardenghy, o Brasil tem avançado significativamente em termos de marcos regulatórios que facilitam a evolução da matriz energética, mas ainda há um longo caminho a percorrer para que as novas soluções possam competir de forma justa com os combustíveis tradicionais.

“Não é apenas por meio de subsídios que se consegue manter a indústria viva no longo prazo ou evitar onerar excessivamente o consumidor”, explica o executivo. “Não se destrói uma casa antiga antes de construir uma nova. Trata-se de um processo evolutivo, no qual se transita de uma matriz energética mais emissora para outra com menor impacto de carbono”, completa ela.

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