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Cenas dos capítulos anteriores.
Nos dois primeiros comentários deste episódio da história catarinense, comecei o relato de um surpreendente fato ocorrido em Blumenau: a candidatura e a vitória de Vilson Kleinubing na eleição para prefeito em 1988. Ele, nascido no Rio Grande do Sul, criado no Oeste catarinense e, na época, residente em Florianópolis, teve um triunfo memorável em um município que nem conhecia muito bem, somando mais votos do que todos os demais concorrentes – alguns deles políticos de renome naquela localidade. No capítulo de hoje procuro esclarecer como foi montado o projeto destinado a fazer de Kleinubing o improvável, mas vitorioso, candidato da oposição em Blumenau.
Missão: descobrir um candidato.
Foto extraída do livro “Kleinubing, uma trajetória de coerência”, de Moacir Pereira.
O intenso vínculo entre Vilson Kleinubing e a cidade, condição que o levaria a vencer a eleição municipal, havia iniciado dois anos antes quando ele concorreu, como um azarão, a governador do Estado e, embora tendo sido derrotado em praticamente todas as maiores cidades, venceu em Blumenau. E venceu bem. Conquistou a simpatia dos blumenauenses. Em 1987 um grupo de empresários da cidade, buscando um candidato forte e inovador, percebeu aquele afeto ainda escondido na mente da população. Algumas pesquisas depois, ficou claro que Vilson seria um candidato excepcional. Faltava, porém, convencê-lo a enfrentar um desafio dessa envergadura. E lá fui eu, representando um grupo que coordenava esse projeto, falar com ele e, como soubemos logo depois, com outros dois personagens muito importantes.
Três conversas desafiadoras, resultados quase 100% positivos
A concordância de Kleinubing
A conversa com Vilson foi curta e direta. Ele olhou as pesquisas e falou uma palavra: “topo”. A seguir me revelou que compreendia os riscos embutidos num projeto tão ousado. Ele sabia que os adversários iriam explorar o fato dele vir a ser um candidato “importado”. Mas, compreendia também que a política exige, às vezes, decisões arrojadas. A hipótese de governar uma cidade com as características de Blumenau o encantava. E a projeção estadual que sua eleição teria e que sua administração poderia ter, o incentivavam. Mas, disse-me, que para seguir adiante, era preciso ter a concordância de duas pessoas mais: Jorge Bornhausen e Esperidião Amin.
O “sim” com ressalvas de JKB
Foto do Arquivo Público do Estado de SC.
“Doutor Jorge” era Presidente do PFL e, portanto, como Kleinubing deixara claro, nada aconteceria sem a bênção dele. Essa conversa não foi tão difícil como se poderia imaginar, embora a primeira reação tenha sido preocupante. A afirmação inicial dele, logo após ouvir qual era o assunto da conversa, foi mais ou menos essa: “jamais!”. Ele lembrou as características de Blumenau, que conhecia muito bem por já ter morado lá, exercendo a advocacia durante alguns anos. Disse que era impossível os blumenauenses votarem, para Prefeito da sua cidade, em alguém que não tivesse com ela um vínculo muito forte, criado em razão de vínculos familiares, de trabalho, de residência prolongada na cidade, coisas assim. Talvez Jorge estivesse testando nossa convicção. Segundo relato do jornalista Moacir Pereira no seu livro “Kleinubing, uma trajetória de coerência”, Bornhausen já teria dito o mesmo para o próprio Vilson em conversa anterior, deixando, porém, uma porta aberta para a aprovação do projeto. De qualquer forma, argumentamos que Kleinubing já conquistara, por outros meios, os laços a que Jorge se referia. E a inegável certidão estava ali: as pesquisas de opinião: o povo de Blumenau estava disposto a eleger prefeito alguém “de fora” – desde que este alguém fosse Vilson Pedro Kleinubing que, politicamente, já tinha sido adotado pela cidade.
Uma das características de Jorge é a racionalidade. Outra, bem próxima da anterior, é a crença em bons levantamentos estatísticos, feitos por institutos de prestígio. Diante da lógica indiscutível dos números que estavam ali à sua frente, garantiu que, de sua parte e do partido, podíamos garantir o apoio. Ele percebia os riscos da empreitada, mas também enxergava o fato de que, se desse certo, o PFL teria, mais tarde, um candidato a Governador muito forte.
O “não” amigável de Amin
Foto do arquivo pessoal de Paulo Gouvêa, autor desconhecido.
Conversa bem mais complicada aconteceu com Esperidião Amin. Embora amigo pessoal de Vilson (certamente mais do que Jorge), e talvez também por isso, o então ex-Governador não concordou, não admitiu e deixou bem claro que não acreditava naquelas pesquisas e, portanto, não apoiava o projeto de colocar Kleinubing como candidato em Blumenau.
Na época houve quem insinuasse que Amin já vislumbrava um eventual sucesso do seu amigo e que este, na condição de Prefeito, poderia se credenciar à disputa do Governo nas eleições seguintes – posição esta que Esperidião preferiria reservar para si próprio. Ainda assim, e com todas suas veementes objeções, Amin afirmou que, se, apesar de tudo, Vilson fosse candidato a Prefeito, não se oporia a ele.
Os candidatos. O resultado. A percepção do futuro
Sete candidatos foram registrados para concorrer ao cargo de Prefeito de Blumenau em 1988: três pesos-pesados (Kleinubing pelo PFL, o Deputado Federal Constituinte Vilson Souza pelo PSDB, e o ex-Prefeito Renato Vianna pelo MDB), mais um peso médio (Pedro Cascaes pelo PTB, na época Presidente da Confederação Nacional das Micro e Pequenas Empresas) e outros três com chances menores. O resultado foi o que o que o grupo coordenador da campanha esperava, mas, para muita gente graúda da política de Blumenau e do Estado foi um espanto: Vilson Kleinubing fez mais votos do que todos os outros seis candidatos somados. Se naquela época houvesse segundo turno, ele já teria sido eleito no primeiro. Um banho de votos, uma consagração, um feito tão extraordinário que, recém-eleito, já começou a ser falado como um favorito para as eleições de Governador que aconteceriam dois anos mais tarde.
Continua no próximo capítulo
Como isso aconteceu, quais foram as estratégias, como se desenrolou a campanha, eu pretendo contar na próxima coluna