Brasil x EUA: O potencial do mercado de energia renovável nas operações de M&As

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O setor de energia renovável se consolidou como um dos mais dinâmicos e promissores do século XXI, particularmente em um contexto global que demanda urgentemente a redução das emissões de carbono e o cumprimento de metas de sustentabilidade. Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos têm adotado políticas públicas e medidas estratégicas que favorecem a transição energética, fomentando um aumento significativo nas transações de fusões e aquisições (M&A) e em investimentos neste setor.

A aprovação do Inflation Reduction Act (IRA) em 2022 marcou um avanço sem precedentes para o setor de energia renovável nos Estados Unidos, criando um ambiente fiscal amplamente favorável para investimentos em energia limpa. Esta legislação introduziu um pacote abrangente de incentivos fiscais projetados para acelerar a transição para fontes de energia de baixo carbono. Entre os principais incentivos estão créditos fiscais de investimento e produção para energia solar, eólica, geotérmica e outras fontes renováveis, permitindo que empresas recuperem até 30% de seus investimentos iniciais.

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Um dos aspectos mais inovadores do IRA é o mecanismo de transferibilidade de créditos fiscais. Antes dessa legislação, as empresas que não conseguiam utilizar todos os créditos a que tinham direito — devido a lucros insuficientes, por exemplo — acabavam por perder esses benefícios ou necessitavam estruturar complexas parcerias financeiras para monetizar os créditos. Agora, com o IRA, esses créditos podem ser vendidos diretamente a outras empresas, criando um mercado secundário robusto de créditos fiscais. Esse mercado permite que empresas de diferentes portes e novos investidores acessem incentivos que antes eram restritos, ampliando o alcance dos benefícios fiscais e aumentando a liquidez do setor.

O IRA também estimula a produção de insumos estratégicos para a energia renovável dentro dos Estados Unidos, através de créditos adicionais para empresas que fabriquem painéis solares, turbinas eólicas e baterias no país. Isso visa a reduzir a dependência de cadeias de suprimentos internacionais e fortalecer a indústria de energia limpa nacionalmente. Combinando incentivos fiscais diretos e apoios à produção local, o IRA estabelece uma base sólida para o crescimento da infraestrutura de energia renovável, projetando os Estados Unidos como líderes globais na transição energética.

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Esse novo modelo de incentivos tem gerado um crescimento expressivo de novos projetos. De acordo com o American Council on Renewable Energy, entre 2020 e 2023 foram registradas mais de 150 transações de M&A envolvendo energia renovável nos Estados Unidos, movimentando bilhões de dólares. Essas transações incluem aquisições estratégicas e expansões de empresas que utilizam os incentivos do IRA para fortalecer seus portfólios de energia limpa.

Um exemplo notável foi a aquisição da GridLiance pela NextEra Energy em 2021, avaliada em US$660 milhões. A NextEra, uma das maiores empresas de energia renovável dos Estados Unidos, utilizou os incentivos fiscais para ampliar sua infraestrutura de transmissão de energia renovável, reforçando a relevância do IRA em seu crescimento. Em 2023, a NextEra Energy seguiu com essa estratégia de expansão ao adquirir diversos projetos renováveis, incluindo parques solares e eólicos, com investimentos que superaram US$2 bilhões. Outro exemplo é a fusão entre a Pattern Energy e o Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB) em 2020, avaliada em US$6,1 bilhões, indicando o aumento do interesse de investidores institucionais em ativos de energia renovável.

Outro marco recente foi a aquisição da TerraForm Power pela Brookfield Renewable Partners em 2023, uma transação avaliada em cerca de US$6,8 bilhões. Com essa aquisição, a Brookfield consolidou sua presença no mercado de energia renovável, adicionando ao seu portfólio ativos significativos de energia solar e eólica. Em uma transação semelhante, a dinamarquesa Orsted adquiriu a US Wind por aproximadamente US$1,1 bilhão em 2023, expandindo suas capacidades de geração de energia eólica offshore na costa leste dos Estados Unidos.

No Brasil, o progresso no setor de energias renováveis tem seguido um caminho igualmente expressivo, embora com características próprias em termos de incentivos fiscais e regulatórios. A promulgação da Lei 14.300/2022, que estabelece o Marco Legal da Geração Distribuída e promove o Mercado Livre de Energia, foi um marco regulatório para o setor solar no país. Esta legislação trouxe clareza regulatória e permitiu que empresas e consumidores individuais instalem painéis solares e se beneficiem da geração própria de energia. Entre seus pontos principais está a isenção de tarifas pelo uso da rede elétrica para sistemas instalados até 2045, o que incentivou a instalação de usinas solares em todo o Brasil.

Com o impulso dado por esse novo quadro regulatório, o Brasil tem se tornado um mercado atraente para investimentos estrangeiros. Um exemplo disto foi a aquisição da Omega Energia pela Brookfield Renewable Partners em 2023, concluída em uma transação que ultrapassou os R$30 bilhões. A Brookfield passou a controlar um dos maiores portfólios de energia renovável do país, com mais de 1,8 GW de capacidade instalada em energia eólica e solar. Outra transação significativa foi a compra de uma participação minoritária da Aliança Geração de Energia pela Vale em 2024, em um valor aproximado de US$542 milhões.

Além disso, empresas internacionais continuam a reforçar sua presença no Brasil. A Statkraft, por exemplo, adquiriu dois parques eólicos no Rio Grande do Norte em 2023, o que aumentou sua capacidade instalada para 1,3 GW no país. Este movimento visa aproveitar a crescente demanda por energia limpa no Brasil. Em uma ação semelhante, a Voltalia vendeu seu cluster solar de Arinos para a Gerdau e Newave Energia em 2023, refletindo a estratégia de otimização de operações da Voltalia.

As startups têm desempenhado um papel vital no crescimento do mercado de energia renovável no Brasil. A Solfácil, fintech especializada em financiamento de energia solar fundada em 2018, já levantou mais de R$1 bilhão em rodadas de investimento, facilitando a instalação de sistemas de energia solar em todo o Brasil. Em 2023, foi adquirida por um consórcio liderado pela XP Investimentos e Redpoint eVentures. Outro exemplo é a Moss, plataforma de créditos de carbono, que promove a sustentabilidade e recebeu investimentos significativos de fundos como Valor Capital e SOSV.

O mercado de fusões e aquisições em energias renováveis continua em franca expansão, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Com as legislações e incentivos em evolução, o cenário aponta para novas oportunidades de investimento. De acordo com um relatório da Mergermarket, o setor de energia renovável foi um dos mais ativos em transações de M&A, com um aumento de 22% no número de fusões e aquisições globalmente entre 2022 e 2023.

No Brasil, espera-se que novos projetos de lei fortaleçam o ambiente regulatório e ampliem os incentivos para energias renováveis. A Lei 14.300/2022, ao promover o Mercado Livre de Energia, facilita o acesso a financiamento para projetos de energia renovável, atuando como um catalisador adicional para a atração de capital. Ao mesmo tempo, o aumento do interesse por ativos sustentáveis no Brasil deve atrair ainda mais investidores internacionais em busca de oportunidades de M&A.

Nos Estados Unidos, a continuidade dos incentivos do IRA e a pressão crescente para a descarbonização impulsionam um ambiente favorável para novas transações. Empresas que buscam diversificar seus portfólios energéticos estão explorando oportunidades de fusões e aquisições para expandir sua presença no setor de energia renovável. A expectativa é de que a demanda por tecnologias de energia limpa e soluções sustentáveis continue a crescer, criando um cenário propício para novas transações.

Em suma, o setor de energia renovável no Brasil e nos Estados Unidos segue em expansão acelerada, impulsionado por políticas públicas e incentivos fiscais que desempenham papéis cruciais no desenvolvimento desses mercados. A venda de créditos fiscais no mercado americano e o Marco Legal da Geração Distribuída no Brasil demonstram o potencial desses mercados para atrair capital global, consolidando-os como pilares da transição energética sustentável.

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