Colorismo: a herança que ainda nos fere

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Neste mês de novembro, enquanto celebramos a história e a cultura negra, somos convidados a refletir sobre as lutas e heranças que moldaram nossas experiências, muitas vezes marcadas pela dor e resiliência. Este ano, com o Dia da Consciência Negra como feriado nacional pela primeira vez, avançamos no reconhecimento dos legados que exigem nossa atenção e compreensão.

Dentro desse contexto, o colorismo surge como uma questão essencial, que precisa ser discutida e compreendida. Embora alguns ainda desconheçam o termo, ele revela profundas raízes históricas e impactos duradouros que afetam diretamente a autoestima, as oportunidades e as relações sociais de muitas pessoas negras.

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Historicamente, o colorismo começou a se formar no período colonial e escravocrata. Durante a escravidão, pessoas negras de pele mais clara – muitas vezes, resultado de relações forçadas entre senhores e escravizadas – recebiam um tratamento relativamente menos brutal, sendo destinadas ao trabalho doméstico, enquanto pessoas de pele mais escura eram enviadas para o trabalho pesado nas plantações, em condições desumanas. Esse padrão de discriminação interna continuou após a abolição da escravatura, infiltrando-se nas estruturas sociais e econômicas de várias sociedades – racismo estrutural. No século XX, o termo “colorismo” foi cunhado pela escritora afro-americana Alice Walker, que o definiu como o tratamento preferencial ou prejudicial entre pessoas da mesma raça com base unicamente na cor da pele.

Hoje, o colorismo vai além do passado escravocrata; é um critério de aceitação ou exclusão que impacta no tratamento das pessoas negras na sociedade. Como pontua a ativista e influencer Nina Chrispim, o colorismo “é sobre a forma como a sociedade vai te tratar a depender do seu tom de pele. Quanto mais escuro, menos aceitação em ambientes e menos recebimento de afetos”. Negros, porém não tão pretos!

O preconceito baseado no tom da pele negra se estende por diversas esferas: desde o mercado de trabalho até o setor de cosméticos, onde produtos de maquiagem frequentemente ignoram a diversidade dos tons de pele negra, refletindo uma visão limitada e eurocêntrica do que é considerado “belo” ou “aceitável”.

A socióloga Laíse Neres ressalta a importância do autoconhecimento na luta contra o racismo e o colorismo. Para ela, reconhecer as diferentes fisionomias e tons de pele dentro da própria comunidade negra é essencial para a construção de uma autoestima sólida. “Uma vez que reconhecemos quem somos, temos capacidade de enfrentar a sociedade racista de um ponto de vista mais ético, ideológico e também com maior autoestima”, diz Neres.

Os impactos psicológicos do colorismo são profundos e dolorosos. Muitas pessoas que sofrem discriminação baseada no tom de pele enfrentam baixa autoestima, sentimentos de inadequação e vergonha da própria aparência. A busca por um padrão estético eurocêntrico — muitas vezes inatingível — pode levar a distúrbios alimentares, ansiedade e depressão, evidenciando as graves consequências dessa forma de discriminação.

Lideranças e intelectuais como Angela Davis, Audre Lorde e Malcolm X lembraram que a luta por igualdade passa também pelo combate às divisões internas causadas pelo colorismo. Quando enfrentamos o colorismo, honramos a resistência de líderes históricos e damos voz a quem foi silenciado, buscando construir um futuro no qual cada pessoa negra, em cada tom, seja respeitada, representada e valorizada.

O colorismo não pode e não vai nos dividir. Cada tom de pele negra, do mais claro ao mais retinto, carrega em si a força e a dignidade de uma ancestralidade rica e indestrutível. Ser negro é carregar uma história que transcende a quantidade de melanina. Não importa o que digam – “você é quase branco”, “só tem o cabelo, só tem a boca” – nenhuma dessas tentativas de silenciar nossas raízes apaga a verdade.

A nossa herança está cravada em nós, ainda que desconectada de suas origens por uma história brutal que tentou apagar de onde viemos. Mas estamos aqui, inteiros, e nossa negritude não é definida nem diminuída pela tonalidade de nossa pele. Nossa identidade, nossa cultura, nossa luta por justiça são o que nos une, e é nossa união que desmantela as divisões que o racismo e o colorismo tentaram criar. Somos negros e negras em toda a nossa diversidade e beleza, e essa beleza é revolucionária.

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Nas redes sociais, diversas personalidades discutem o colorismo de maneira informativa e reflexiva. Destacam-se a filósofa e autora Djamila Ribeiro, que aborda o colorismo no movimento negro; a jornalista Maíra Azevedo, conhecida como Tia Má; além de influenciadores como Nátaly Neri (canal Afros e Afins), Gabi Oliveira (canal De Pretas), Sá Ollebar (Preta Pariu), Rayza Nicácio e Spartakus Santiago. Essas vozes contribuem para uma sociedade mais consciente e inclusiva.

Que este mês de novembro nos inspire a celebrar a beleza negra em todas as suas, comprometendo-nos a construir uma sociedade em que cada pessoa, independentemente de seu tom de pele, seja honrada em sua diversidade e singularidade.

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