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A operação que prendeu oficiais do Exército na terça-feira (19/11) sinaliza que o esperado indiciamento de Jair Bolsonaro por ligação com a suposta tentativa de golpe de Estado, deve ir além da conexão lógica e de indícios circunstanciais e avance para provas que liguem ao menos o entorno imediato do ex-presidente à direção dos preparativos.
Diante disso, direita e centrão pensam como se posicionar politicamente. Há uma visão da liderança de partidos como PP e PL de que o enredo dá mais disposição para o ex-presidente da República, mesmo inelegível, ir até o limite no registro da candidatura presidencial em 2026.
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A aposta na ficção de que é candidato, impedindo o crescimento de alternativas, é agravada na ideia transmitida por Bolsonaro, em conversa com aliados, de que gostaria de indicar para a vice-presidência um dos filhos como meio de manter o controle sobre a sua base.
Seis anos depois de o deputado Eduardo Bolsonaro dizer que um cabo e um soldado seriam suficientes para fechar o Supremo Tribunal Federal, seu irmão senador, Flávio Bolsonaro, defendeu nesta terça o general, o tenente-coronel e os dois majores que teriam planejado matar o ministro Alexandre de Moraes e o presidente Lula. O argumento: pensar em matar alguém não é crime.
Esse “pensamento” só foi captado pelos investigadores porque levou à impressão de um plano no Palácio do Planalto, ao monitoramento do ministro e do então presidente eleito e a trocas de mensagem com o ajudante de ordens do presidente Bolsonaro.
Batizado pelos articuladores de “Punhal Verde Amarelo”, o plano que previa homicídio de autoridades não é em si a “arma do crime”, uma prova inegável de que o ex-presidente conhecia ou dirigia os preparativos de um golpe. E a falta de execução final é o argumento central para enfraquecê-lo desde já. Mas é um elemento concreto de que aliados próximos do então presidente foram além da irresignação e do incentivo aos acampamentos em frente aos quartéis, que culminaram nos ataques de 8 de janeiro.
Segundo a Polícia Federal, o plano para matar Lula, Moraes e também o vice Geraldo Alckmin foi discutido no fim de 2022 no bloco em que morava o general da reserva Walter Braga Netto.
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Seis dias depois da reunião, o general, vice da chapa derrotada de Bolsonaro, foi filmado em frente ao Palácio da Alvorada por bolsonaristas que cobravam reação do presidente aos apelos em frente aos quartéis: “Vocês, não percam a fé. É só o que eu posso falar agora…tem que dar um tempo, tá bom?”.
Nas redes bolsonaristas, o fato de Braga Netto estar em liberdade é usado como argumento para a fragilidade das alegações. Se houve uma tentativa de golpe de Estado, como os líderes estão soltos?
E também ecoam nos grupos de direita os argumentos de Flávio Bolsonaro de que nenhum ato ilegal foi feito na prática pelos suspeitos e que, por isso, ilegal seria a ordem de prisão determinada por Alexandre de Moraes. “Digo o seguinte para o ministro Alexandre de Moraes. Ou a gente aprova a anistia aqui, ampla, geral e irrestrita —e algum parlamentar faça a emenda para incluir ele, porque ele cometeu crimes ao longo desse processo—, ou quando a gente tiver a maioria para aprovar a anistia, a gente vai cassar o Alexandre de Moraes. Ele vai ser impedido pelos crimes que ele, reiteradamente, está cometendo, desgraçando a vida de famílias brasileiras”.
Narrativas à parte, o roteiro parece favorecer o governo Lula. A retomada da ideia de que o bolsonarismo representa uma ameaça à democracia, peça crucial para a montagem da frente ampla em 2022, ocorre em um momento em que o Planalto discute formas de atrair siglas de centro para o palanque na próxima eleição. E nesse sentido, a trama golpista dos últimos dias pode facilitar o caminho.
E tudo indica que o andamento das investigações na esfera judicial deve se alongar, dando margem para o assunto não sair de pauta no ano que antecede a disputa.
Embora a Polícia Federal caminhe para concluir nesta semana o inquérito sobre a trama golpista, a operação desta terça-feira evidencia que ainda há poucos elementos de prova conhecidos que possam levar a Procuradoria-Geral da República a apresentar uma denúncia formal contra Jair Bolsonaro.
O atentado da semana passada, em frente ao STF, que culminou na morte do próprio perpetrador, já intensificava a percepção de que o Supremo caminha para uma condenação em razão do clima de ameaça às instituições, cujo ápice foi o ataque aos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023. As revelações mais recentes mostram que a Polícia Federal e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) têm produzido, ao longo dos meses, um conjunto robusto de provas que oferece, além de uma narrativa coerente, elementos concretos para embasar uma denúncia contra Bolsonaro.
O STF já tinha conhecimento do plano para assassinar Lula, Alckmin e Moraes há cerca de dois meses. As ações e discursos do tribunal, em parte, já estavam informados por essas descobertas, que agora dominaram as manchetes.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, deve receber o relatório final da Polícia Federal nos próximos dias e apresentará a denúncia contra Bolsonaro e outros envolvidos, possivelmente em fevereiro do próximo ano. Esse tempo será necessário para alinhar todas as investigações conduzidas pela PF e pela Abin, além de consolidar uma denúncia robusta ao STF que vá além de uma narrativa, reunindo indícios e provas sólidas relacionadas à tentativa de golpe de 8 de janeiro, assim como do envolvimento direto do ex-presidente, de seu então candidato a vice na chapa, Braga Netto, e de outros assessores.
A discussão sobre anistia, que já vinha perdendo força após o atentado da semana passada, teve seu espaço reduzido ainda mais com as revelações recentes. No Supremo, a convicção é de que nem o ex-presidente nem seus aliados diretos escaparão da responsabilização pelos atos que culminaram na invasão e destruição das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.