No mundo atual, a percepção das dificuldades não pode mais se dissociar do remanejamento dos quadros funcionais.
Pensando mais a longo prazo, a percepção das dificuldades possibilita uma melhor visão global dos métodos utilizados na avaliação de resultados.

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Assim mesmo, a complexidade dos estudos efetuados ainda não demonstrou convincentemente que vai participar na mudança dos métodos utilizados na avaliação de resultados.

Como elaborar um programa de gerenciamento de riscos da área de suprimentos

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Pouco tem se discutido sobre o gerenciamento de riscos do principal “calcanhar de aquiles” de toda e qualquer organização, independentemente do tamanho e setor de atuação: a gestão da cadeia de suprimentos/fornecimento ou, em inglês, Supply Chain.

Gerir esta cadeia é complexo, justamente por envolver uma quantidade enorme de players que podem influenciar (in)diretamente o negócio de qualquer empresa que os contratam. Por isso, há grande necessidade de serem frequentemente monitorados e engajados para evitar exposição da empresa contratante a riscos jurídicos, operacionais, financeiros e reputacionais.

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Como se sabe, a área de Suprimentos/Compras é, tradicionalmente, responsável por garantir o fornecimento de bens e serviços de forma eficiente, o que a faz desempenhar um papel ainda mais estratégico nas empresas.

Além de gerenciar a cadeia de suprimentos, essa área deve estar alinhada às exigências de compliance e governança corporativa, contribuindo ativamente para a conformidade legal e ética nas relações com terceiros e ainda, provavelmente trabalhando para mitigar os riscos de responsabilidade solidária da empresa junto a seus terceiros.

Em uma cadeia de suprimentos complexa e globalizada, os fornecedores (seja de serviços e/ou de bens) muitas vezes representam significativos riscos, como problemas financeiros ou até o envolvimento em práticas ilícitas, como corrupção ou violações de direitos humanos.

A negligência em identificar esses riscos pode resultar em severas consequências jurídicas e reputacionais para a empresa, incluindo multas, processos judiciais ou, no mínimo, a necessidade de nova contratação em razão da incompletude dos serviços que deveriam ter sido prestados ou outros.

Nesse sentido, a área de suprimentos deve estar preparada para realizar uma diligência rigorosa e contínua sobre os terceiros com os quais a empresa se relaciona, sobretudo com as recentes regulamentações, entre elas a europeia Diretiva de Devida Diligência de Sustentabilidade Corporativa (CSDDD), aprovada em abril passado pelo Parlamento Europeu, que vem liderando esforços para assegurar que as operações comerciais transnacionais respeitem padrões socioambientais e de direitos humanos mais robustos.

Paralelamente à aprovação continental, alguns países da União Europeia iniciaram processos legislativos para aprovação de leis que, dentre outros objetivos, visavam adotar critérios de devida diligência, como o Reino Unido, França e Alemanha com requisitos de devida diligência variáveis em suas legislações.

Nesta linha, a identificação de possíveis riscos no negócio gerado pelo parceiro a ser contratado não é apenas um objetivo da área de compliance e governança, mas, também um objetivo da área de suprimentos que essa análise visa mitigar os riscos associados ao seu próprio trabalho.

Identificar o fornecedor adequado e entender seus desafios e os riscos inerentes à sua contratação permite que o processo de seleção não se resuma a atender às exigências da área solicitante, mas que ocorra de forma estratégica. Isso inclui avaliar as competências do fornecedor, identificar oportunidades de redução de custos, verificar se o seguro da empresa é adequado, determinar a duração da contratação — se o fornecedor pode prestar serviços a longo prazo ou se a opção temporária seria mais vantajosa.

Além disso, é fundamental considerar a necessidade de um seguro adicional e os riscos associados a adiantamentos financeiros. A área de suprimentos pode ser surpreendida pela atuação desse fornecedor; se isso ocorrer, de que maneira isso impactaria a operação?

Portanto, uma análise detalhada do fornecedor não apenas mitiga riscos de compliance e atende requisitos de governança, mas também contribui significativamente para a redução de riscos operacionais, além de indicar a área jurídica elementos que auxiliarão ainda mais a área a elaborar um contrato direcionado e que cubra todos os pontos necessários.

Diante deste cenário complexo e repleto de riscos, passamos a expor o passo a passo para a construção de um programa de avaliação de riscos relacionados a fornecedores e outros parceiros comerciais.

Primeiro, verificar os antecedentes legais: Investigar o histórico de litígios, processos trabalhistas e pendências fiscais do fornecedor; segundo, avaliar a capacidade financeira: analisar a saúde financeira da empresa fornecedora, a fim de evitar que problemas de liquidez ou insolvência interrompam o fornecimento de bens e serviços.

Terceiro, avaliar a conformidade ambiental, trabalhista e regulatória: garantir que o fornecedor cumpre com todas as normas aplicáveis, especialmente em setores sujeitos a maior regulamentação, como as ambientais, trabalhistas, LGPD, segurança da informação, financeiras entre outras.

Quarto, avaliar as práticas de integridade: verificar se o fornecedor adota práticas éticas e está em conformidade com legislações anticorrupção e normas internas de empresas que já tem se tornado padrão no mercado.

Além disso, a implementação de uma política clara de diligência de terceiros, com critérios objetivos e procedimentos bem definidos, é essencial para garantir a segurança e a conformidade das operações, sem contar a adoção de ferramentas tecnológicas para o monitoramento automatizado de fornecedores, tornando-o mais ágil e eficiente.

Não se pode esquecer as necessidades internas da área de suprimentos, que atende os questionamentos das mais diversas áreas de negócio, que podem e devem ser acrescidas junto a diligência de compliance, tais como questão de faturamento, medição, renovações contratuais.

Por fim, o monitoramento e  avaliação dos fornecedores e parceiros comerciais, passa pelo engajamento da área de suprimentos, o que requer a adoção de uma série de boas práticas:

  • Treinamento contínuo, a equipe de suprimentos deve receber treinamento constante sobre os requisitos legais e regulatórios aplicáveis, além das políticas internas de compliance e governança da empresa;
  • Definição de metas e indicadores de conformidade e de performance (KPIs), como forma eficaz de garantir o compromisso da equipe com a diligência de terceiros;
  • Integração interdepartamental, uma vez que o departamento de suprimentos deve trabalhar em estreita colaboração com as áreas jurídica e de compliance, de modo a garantir que todos os riscos potenciais sejam devidamente monitorados e mitigados;
  • Adoção de soluções tecnológicas com o uso de softwares de gestão de fornecedores, que permitem o monitoramento contínuo e a verificação de conformidade, facilitando o processo e reduzindo a carga de trabalho manual.

Por último, o mais importante deles: o reconhecimento do sucesso desse programa junto a área de suprimentos. Isso porque é comum que tais medidas sejam vendidas internamente e externamente como o sucesso da área de compliance ou de governança corporativa e até mesmo de controles internos e/ou auditoria.

Entretanto, como mencionado anteriormente, a área de suprimentos também possui necessidades intrínsecas, não devendo ser vista como uma área de mero suporte, o departamento possui também suas necessidades, seus objetivos e suas metas e portanto, para estar realmente engajada ela precisa ser colocada como protagonista.

Somente assim, saindo do papel de coadjuvante que a área de suprimentos se sentirá engajada, vista e celebrada como uma área que também traz resultados e mitiga os riscos da companhia.

Para que isso ocorra, é essencial que a equipe de suprimentos receba treinamento contínuo, tenha metas claras e indicadores de performance, e trabalhe em estreita colaboração com os departamentos de compliance e jurídico.

Além disso, a adoção de tecnologias de monitoramento e a promoção de uma cultura de reconhecimento são cruciais para valorizar o papel da área, transformando-a de coadjuvante em protagonista, sendo devidamente celebrada por sua contribuição significativa aos resultados da empresa e à sustentabilidade de suas operações, garantindo que todas as contratações sejam realizadas com responsabilidade e visão estratégica.

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