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Para o bem e para o mal, transito constantemente entre dois mundos. O da administração pública e o da cultura. E acreditem, é possível traçar um paralelo entre estes setores quando a questão é o estado da arte em que nos encontramos.
Estes dois mundos vivem entre os extremos.
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De um lado, a esquerda dos saraus movidos à Chico, Vinícius e Tom tocados por músicos propositadamente vestidos de maneira despojada em caras roupas de linho e descalços. Nos intervalos, discussões sobre o SUS, o Estado e o artista da moda – tudo regado aos melhores vinhos.
Do outro, a direita, reacionária, ouvindo o bom sertanejo universitário, recitando coaches da internet pseudo bem-sucedidos. Queimando a alma de Paulo Freire, negando a arte em sua manifestação cultural de transformação social e enaltecendo Olavo de Carvalho. Na cerveja, um esforço populista de se aproximarem da população.
No meio disso, o cidadão que é, por um extremo e pelo outro, reivindicado como um inimputável para chamar de seu. Merecedor de pequenas migalhas e conteúdo direcionado oferecido na exata medida para que jamais possam pensar de maneira autônoma, organizada e… livre. Mas o livre pensar, já adianto, não é o livre ofender.
Nesta sociedade não é permitido pensar. Melhor dizendo, não é preciso pensar. Basta escolher um lado, abrir a rede social e escolher, dentro do lado escolhido, o pacote cultural e social e até mesmo artístico posto gratuitamente à disposição dos inimputáveis, pelos extremos.
Pacote saúde? Temos. Pacote intervenção estatal maior ou menor na economia? Temos também. Basta escolher o lado. Não é preciso pensar. Os extremos pensam por você para que você escolha um lado e o replique.
As palavras estado e arte possuem uma encantadora flexibilidade axiológica.
Estado, por exemplo, é utilizado para definirmos a limitação de um território, a estrutura organizacional de um território ou, de maneira corriqueira, a qualidade em que as coisas estão.
A palavra arte pode ser utilizada para dividir o que é belo em um contexto histórico e social. Mas pode ser usada para definir o que é técnico.
Juntas representam o nível maior de técnica ou de um processo de conhecimento. É o tal do “estado da arte”.
Me permitam brincar com as palavras. Não é por acaso que o atual estado do Estado e da arte na nossa sociedade beiram a mediocridade intelectual. É a mediocridade intelectual o ponto de convergência destes dois extremos que estimulam, cada um à sua forma, a desinformação; e que estimulam a informação superficial de conteúdos prontos e práticos, embalados para evitar o livre pensamento do cidadão.
Não é por acaso que os extremos da esquerda e da direita deixam de investir em conteúdos e produções culturais e artísticas – senão porque vivem muito bem e se retroalimentam desta divisão.
É este o nosso atual estado da arte.