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“O primeiro vinho fino do Nordeste nasceu na Bahia”, revela o escritor José Figueiredo em novo livro

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Por Paula Theotonio

Do jornal Correio

Sabia que o primeiro vinho fino do Nordeste nasceu na Bahia? Essas e outras curiosidades sobre a produção vínica no Vale do São Francisco estão no livro Velho Chico – Vinhos Regados de Histórias, do sommelier, escritor, documentarista e produtor de vinhos José Figueiredo.

Lançado 13 anos após Ensolarado Sertão, Magníficos Vinhos (2011), a nova publicação mescla imagens e documentos com uma narrativa histórica e envolvente sobre a vitivinicultura no Sertão. Fruto de décadas de pesquisas e entrevistas com personagens-chave, o material conecta os vinhos da região a eventos como a Segunda Guerra Mundial; e traça desde a chegada da primeira videira em solo brasileiro até os dias atuais.

“Nem todo mundo sabe, mas a videira chegou ao Brasil pelo Litoral Norte de Pernambuco, nos atuais municípios de Itapissuma, Igarassu e Itamaracá. O vinho se estendeu pelo Nordeste e Sudeste até chegar, séculos depois, no Sul do Brasil; para então retornar ao Nordeste pelo Sertão. Tivemos a primeira vinícola sertaneja em 1964 e o primeiro vinho fino, de uvas Vitis vinifera, produzido em Casa Nova (BA)”, revela o escritor.

Em bate-papo com esta colunista, José Figueiredo cruzou passado e futuro, compartilhando outros fatos históricos pouco conhecidos sobre a região e suas apostas para o Vale do São Francisco nos próximos anos. Confira:

Quando você escreveu seu primeiro livro, Ensolarado Sertão, Magnífico Vinhos, era um sommelier e documentarista. Hoje, é também produtor de vinhos na região pela qual se apaixonou. Essa experiência e vivência estão presentes, de alguma maneira, nesse novo livro?

Sim. Na verdade, a minha chegada no Vale de São Francisco já foi exatamente para a elaboração do meu próprio vinho. Naquela oportunidade, em 2003, convenci meus dois sócios a produzirmos uva para exportação. O grupo Tanino, hoje aqui no Vale de São Francisco. Porém, quando quis retomar a ideia de produzir grandes vinhos, meus sócios optaram em permanecer com as uvas de mesa, com uva de exportação, como até hoje fazem; então saí da sociedade e só retomei esse sonho quando criei o meu próprio projeto. Hoje eu acredito que meu vinho VSB – o Vinum Sancti Benedictus ou o Vinho São Benedito – só ratifica todo o conteúdo desse novo livro e as minhas convicções sobre esta região.

Que aspectos dos vinhos da região você acha que ainda são pouco conhecidos e que o livro busca destacar?

É comum se falar muito só dos espumantes, ou: “Ah, são vinhos de entrada, são vinhos jovens, são vinhos leves”. E o que dizer dos vinhos amadeirados, dos vinhos robustos, com uma qualidade ímpar? O que dizer, por exemplo, de um vinho nesse estilo ser eleito o melhor vinho tinto nacional numa feira de reputação do tamanho da Expovinis, em 2012? Os tamanhos prêmios de outros vinhos amadeirados? Nós temos um potencial já consagrado de vinhos maduros, inclusive devemos migrar para isso, haja vista o lançamento de um vinho elaborado com videiras que já chegaram à centésima safra no Grupo Tropical Vitivinícola.

Tendo acompanhado o despertar do Vale do São Francisco enquanto região e conhecendo tão bem sua história, como você enxerga o posicionamento atual dos vinhos do Vale do São Francisco no mercado brasileiro e internacional?

As grandes premiações nos mais diferentes concursos, quer no Brasil ou no exterior, ratificam em definitivo a qualidade superior dos vinhos do Vale do São Francisco. Essa qualidade é reafirmada com a Indicação Geográfica de Procedência (IP) Vale do São Francisco. Uma normatização rígida, muito semelhante às da União Europeia. Então, eu vejo tudo com um olhar muito otimista, não só nos vinhos, mas também no enoturismo. Acredito que nós vamos conseguir números elevadíssimos nos próximos cinco anos. E o que vai contribuir para que esse enoturismo realmente desabroche e faça jus a essa expectativa é essa qualidade validada em premiações para os vinhos do Vale de São Francisco. São outras vinícolas chegando, existem terrenos comprados esperando o início das atividades. Eu tenho uma expectativa muito grande e inclusive trago isso nas últimas páginas do livro.

Você acredita que o consumidor brasileiro valoriza suficientemente os vinhos produzidos no Nordeste? Como mudar essa percepção, caso ainda haja resistência?

É uma quebra de paradigma diário. A grande oferta hídrica do Rio São Francisco, as mais modernas tecnologias de irrigação, fazem com que tenhamos uma condição ímpar, enologicamente falando. Os grandes vinhos precisam de verões quentes e secos; e quando isso acontece, fala-se que é uma safra excepcional e seus vinhos são valorizados em detrimento a outras safras não tão boas. E o que é essa safra tão boa? É quando o limite hídrico aconteceu, quando a água chegou na quantidade exata para que a videira não murchasse e também os cachos não murchassem. Aqui sempre temos safras espetaculares; onde, da poda à colheita, não cai uma gota do céu e toda a oferta de água é tecnologicamente suprida pela irrigação.

O que você espera que os leitores levem consigo após conhecer mais sobre os vinhos dessa do Vale do São Francisco?

Eu acredito muito que esta obra vai chegar nos quatro cantos do Brasil. E as pessoas que tiverem acesso à obra perceberão o quanto diferente e especial é a nossa região. Eu ainda fico encantado quando vejo as pessoas impactadas quando nos vêm visitar e dizem abertamente: “Eu não sabia que era assim, eu não acreditava que era assim”. E agora o livro O Velho Chico, Vinhos Regados de Histórias, vai ajudar um pouco mais essas pessoas a terem vontade de beber e de conhecer o nosso ensolarado vale.

SERVIÇO – Publicado pela Editora Oxente, ‘Velho Chico – Vinhos Regados de Histórias’ tem 178 páginas e pode ser adquirido através do telefone (74) 99160-1427.

Do jornal Correio.

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