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Quase um século após o direito ao voto feminino no Brasil, as escolhas das mulheres continuam sendo analisadas sob lentes que ignoram sua realidade. No Brasil e nos Estados Unidos, onde Donald Trump tomou posse no último dia 20 de janeiro, as condições econômicas e sociais moldam as decisões eleitorais femininas, o que demonstra que votar é, muitas vezes, uma questão de sobrevivência.
Historicamente, o voto feminino está associado à sensibilidade em relação às políticas públicas, especialmente nas áreas de saúde e educação. Segundo a socióloga e fundadora do Instituto Patrícia Galvão, Fátima Jordão, pesquisas eleitorais realizadas desde 2010 indicam que mulheres priorizam soluções que afetam diretamente sua qualidade de vida, enquanto homens demonstram maior inclinação por alianças políticas e disputas partidárias.
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Essas diferenças refletem vulnerabilidades que atingem mais intensamente as mulheres, como jornadas triplas (mulheres dedicam o dobro do tempo dos homens nas tarefas domésticas, segundo o IBGE), maiores taxas de desemprego (45,3% maior do que os homens, de acordo com a PNAD), menor remuneração (22% a menos que os homens, segundo o Dieese) e o medo constante de violência (segundo os institutos Locomotiva e Patrícia Galvão, 68% têm muito medo de andar sozinhas à noite ).
De acordo com José Álvaro Moisés, professor de ciência política da Universidade de São Paulo (USP), o voto feminino apresentaria mais criticidade do que o masculino, e não necessariamente se encontraria atrelado a uma opção ideológica pela esquerda ou direita: “O que pareceria central seria a percepção de impacto de políticas públicas e seus resultados” .
Nas eleições de 2024 em São Paulo, os dados revelaram um distanciamento significativo entre votos femininos e masculinos, principalmente em relação ao candidato Pablo Marçal (um distanciamento que chegou a 13,7%!). Embora o ex-presidente Jair Bolsonaro tenha declarado timidamente apoio ao atual prefeito, Ricardo Nunes, eleitores de direita e extrema direita identificaram em Marçal o “verdadeiro” voto dos valores tradicionalmente associados ao bolsonarismo.
A rejeição feminina a Marçal evidenciou uma preocupação com as propostas conservadoras e seu impacto direto no cotidiano das mulheres. A depender da classe social e da orientação ideológica do eleitorado, as preocupações das mulheres mudam consideravelmente.
As pesquisas realizadas na academia, principalmente por intermédio de grupos focais realizados para entender as preocupações dos públicos “progressistas” e “conservadores”, pelo menos nos últimos 10 anos mostram uma evolução diferenciada por classes: enquanto mulheres de baixa renda se preocupam com violência doméstica ou com gravidez na adolescência, questões ausentes nos discursos mais conservadores, as mulheres de mais alta renda se preocupam com a condição feminina no mercado de trabalho, igualdade de salários, assédio sexual e direitos reprodutivos.
O que as une é uma situação de permanente assimetria e violência, bem como a desconsideração de suas principais inquietações.
Em relação à violência, os dados são expressivos: após o episódio da cadeirada, em que Marçal foi vítima da agressão, ficou claro que suas provocações constantes geraram um clima de tensão insuportável. Isso gerou uma diferença de 16 pontos percentuais entre as intenções de voto de mulheres e homens para o candidato. Entre as eleitoras, a intenção de votar em Marçal oscilou de 13% para 12%, enquanto entre os homens foi de 26% para 28%, indicando concordância total ou parcial com a postura de Marçal no episódio.
Um outro ponto importante em relação ao discurso mais conservador é que o flerte com ideias que reforçam o papel “natural” das mulheres em trabalhos de cuidado, enquanto aos homens caberia o de provedor, reflete uma visão reacionária que não passou despercebido às mulheres. Essas eleitoras, cientes da violência doméstica e das desigualdades estruturais, rejeitaram candidaturas alinhadas a essas perspectivas.
Antes de seguirmos, é importante recordar que o padrinho ideológico de Marçal, Jair Bolsonaro, também enfrentou grande rejeição feminina, por sua postura reacionária à pauta de costumes e falta de empatia diante das calamidades e mortes causadas pela pandemia. É preciso lembrar ainda que a economia conta e conta muito. Tão grande, a ponto de lhe custar a eleição presidencial.
Vamos aos dados: no governo Bolsonaro (2019-2022), o crescimento médio foi de apenas 1,12%, inferior à média mundial de 1,95%, e o salário mínimo caiu 2%. Esses números mostram o impacto direto das políticas econômicas sobre as mulheres, que muitas vezes são as principais responsáveis pelo sustento familiar.
Contudo, as dificuldades econômicas atuais, como o aumento da inflação e a queda no poder de compra, expõem limitações preocupantes no modelo econômico do governo e podem influenciar decisivamente nas próximas eleições. Vale reconhecer que, embora as políticas públicas inclusivas dos governos Lula tenham gerado avanços importantes na redução da pobreza e da desigualdade, os desafios recentes ressaltam a falta de respostas estruturais para proteger a população mais vulnerável.
Pesquisas apontam que 48% das mulheres brasileiras estão em situação restrita financeiramente, 36% endividadas e 4% temem a fome, segundo o relatório Esgotadas, da consultoria Think Olga. Muitas delas dependem de uma economia estável para garantir segurança pessoal e familiar.
No Brasil, 29% dos lares chefiados por mulheres são compostos por mães solo, segundo o Censo 2022. Isso equivale a mais de 10 milhões de domicílios, número muito superior aos chefiados por homens nessas condições, que somam apenas 4,4% dos lares. A falta de políticas públicas eficazes torna o voto pragmático uma escolha de sobrevivência.
Agora, vamos traçar um paralelo com a situação nos Estados Unidos. Desde os anos 1980, as mulheres são maioria no eleitorado, e, a partir de 1996, preferem votar em candidatos democratas. Em 2020, as mulheres foram cruciais para a vitória de Joe Biden, que conquistou 57% do voto feminino.
Porém, em 2024, apesar de Kamala Harris ter conquistado 54% do voto feminino, isso não foi suficiente para garantir sua vitória contra Donald Trump, que obteve 55% dos votos masculinos. Entre as mulheres negras, Harris alcançou expressivos 90% de apoio, mas esse grupo representa apenas 8% do eleitorado, limitando o impacto eleitoral.
Por outro lado, as mulheres brancas mantiveram a tendência de votar nos republicanos, refletindo preocupações com demandas econômicas que apontam uma percepção de degradação das condições de vida, principalmente em relação às altas taxas de inflação herdadas pelo governo Biden
O resultado também evidencia que Trump utilizou uma retórica semelhante à de Bolsonaro e Marçal em relação às mulheres, reforçada por acusações de assédio sexual e declarações infames, como “grab’em by the pussy”. Embora Harris tenha contado com o apoio feminino, sua vantagem foi menor do que a de seus antecessores democratas. Pesquisa da Edison aponta que, em 2024, a economia foi a principal preocupação para 31% das mulheres, enquanto apenas 14% destacaram o aborto como prioridade.
A discussão sobre o voto pragmático precisa ser compreendida sem culpabilizar as mulheres. A pressão por escolhas que parecem menos ideológicas não significa falta de comprometimento com pautas feministas. Pelo contrário, reflete as condições reais em que muitas delas vivem, nas quais a sobrevivência e a segurança pessoal são prioridades absolutas. Em um sistema que historicamente as coloca em situações de maior vulnerabilidade, o pragmatismo eleitoral é uma ferramenta de resistência.
Além disso, o impacto das políticas públicas deve ser constantemente avaliado. Enquanto avanços históricos no salário mínimo e na redução da pobreza marcaram gestões anteriores, os desafios atuais expõem as limitações dessas políticas em atender às necessidades de longo prazo das mulheres. Essa reflexão também evidencia a necessidade de lideranças que reconheçam a importância de equilibrar melhorias econômicas e oportunidades iguais, o que a campanha de Harris, por exemplo, não conseguiu emplacar.
Ao longo da história, a luta por independência financeira tem sido um pilar da emancipação feminina. O voto feminino pragmático, ao priorizar soluções econômicas imediatas, não é menos feminista. Representa uma forma de resistência e sobrevivência em um contexto de desigualdades estruturais. O reconhecimento dessa realidade deve inspirar debates mais profundos sobre como transformar as condições que perpetuam a desigualdade de gênero.
De acordo com a teoria de Linda Mayoux, a participação plena das mulheres na política depende de segurança no âmbito individual e familiar. Enquanto essa base não for garantida, o voto pragmático continua sendo, também, um voto feminista por sobrevivência. Políticas públicas eficazes, sustentadas por lideranças conscientes, transformam o pragmatismo em uma escolha genuína e emancipadora. Reconhecer essa força é essencial para que a igualdade de gênero deixe de ser uma meta e se torne uma realidade.