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O setor de saneamento, crucial para o desenvolvimento sustentável e a saúde pública, enfrenta desafios complexos que demandam soluções inovadoras e inclusivas. Nesse contexto, a diversidade em cargos de liderança emerge não apenas como um imperativo ético, mas como um componente essencial para a resiliência e eficácia organizacional, impulsionando a inovação, aumentando a eficiência operacional e promovendo a inclusão social.
A diversidade de gênero, etnia, cultura e experiências promove um ambiente rico em perspectivas variadas, fundamental para a inovação. No setor de saneamento, onde os desafios variam grandemente de uma região para outra[1], a capacidade de abordar problemas complexos através de diferentes ângulos é vital. Líderes com trajetórias diversas podem trazer novas soluções para questões sociais, técnicas e financeiras. A inovação fomentada pela diversidade não se limita a produtos e serviços, mas também engloba modelos de negócios e estratégias de engajamento comunitário.
Equipes com lideranças diversificadas tendem a ser mais eficientes na tomada de decisão e na gestão de recursos[2]. Isso ocorre porque a diversidade minimiza o “pensamento de grupo” (groupthink), incentivando uma análise crítica e abrangente das operações e políticas. Além disso, líderes com diferentes experiências de vida podem oferecer insights valiosos sobre as necessidades e expectativas de variadas demografias da população servida, garantindo que os serviços de saneamento sejam acessíveis e adequados a todos, como pregam os princípios do novo Marco Legal do Saneamento[3].
A diversidade nas posições de liderança também fortalece a confiança entre as empresas de saneamento e as comunidades atendidas. Quando os usuários veem sua identidade e valores refletidos na direção das empresas, a cooperação e o diálogo entre as partes tende a melhorar, facilitando a implementação de projetos, a adoção de práticas sustentáveis e o alcance da licença social[4], através da qual a sociedade pode conceder ou recusar o apoio a um empreendimento.
A inclusão de líderes de grupos historicamente sub-representados, como mulheres, minorias étnicas e pessoas com deficiência, nas empresas de saneamento pode ter um impacto profundo na promoção da igualdade social. Além de oferecer modelos positivos, a diversidade na liderança pode assegurar que as políticas e iniciativas da empresa considerem as barreiras específicas enfrentadas por esses grupos. Isso é particularmente relevante no setor de saneamento, onde desigualdades sociais e econômicas podem limitar o acesso a serviços básicos.
Promover a diversidade na direção de empresas de saneamento exige um compromisso contínuo com a mudança organizacional. Isso pode incluir a revisão de práticas de recrutamento e promoção, o desenvolvimento de programas de mentoria e a implementação de políticas de inclusão e equidade. Além disso, a educação continuada sobre diversidade e inclusão é fundamental para criar uma cultura organizacional que valorize e apoie a diversidade em todos os níveis.
O setor de saneamento ainda é dominado pelas Companhias Estaduais de Saneamento (CESBS) que contam com a presença majoritária masculina em seus cargos de direção. Não foram encontradas pesquisas sobre este tema, mas basta acessar as redes sociais das CESBS para confirmar que a diversidade ainda é um tema distante da realidade.
Por exemplo, há apenas uma mulher na mais alta liderança das dez maiores companhias estaduais[5]: Samanta Takimi, a primeira mulher no comando da Corsan desde a sua criação, há quase 60 anos. Esse cenário tende a melhorar com a abertura do mercado de saneamento promovida em 2020 e a crescente concorrência no setor.
Segundo o panorama anual da Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Água e Esgoto, a Abcon, a participação privada no setor de saneamento básico subiu de 9,1% dos municípios brasileiros, em 2022, para 15,3% em 2023. Interessante notar que a única empresa do setor de saneamento na América Latina a fazer uma emissão caracterizada como Sustainability-Linked Bonds (SLB), e a primeira companhia do Brasil a emitir um SLB com meta de ampliação da diversidade e inclusão racial em cargos de liderança é a empresa privada Aegea.
Já do lado das agências reguladoras de saneamento, a adoção de regras ESG e a preocupação com a diversidade parece ser um movimento sem volta. Para exemplificar, a Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA) vem dando bom exemplo ao contar com 2 diretorias entre as 5 existentes sendo ocupadas por mulheres.
A diversidade na liderança das empresas de saneamento é essencial para enfrentar os desafios do século 21, promovendo a universalização, a inovação, a eficiência e a inclusão social. Ao cultivar ambientes de trabalho inclusivos e representativos, essas empresas podem melhor servir suas comunidades, contribuindo significativamente para o desenvolvimento sustentável e a justiça social.
O caminho para a diversidade na direção das empresas de saneamento exige esforço e comprometimento, mas os benefícios são imensuráveis para toda a sociedade brasileira.
[1] Os estados do Norte e do Nordeste possuem os piores indicadores de saneamento, conforme dados do SNIS e do Ranking do Saneamento, do Instituto Trata Brasil, disponíveis em: https://www.gov.br/cidades/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/saneamento/snis e https://tratabrasil.org.br/ranking-do-saneamento-2023/
[2] Sobre o tema, vide relatório denominado Diversity Matters de uma consultoria internacional especializada disponível em: https://www.mckinsey.com/featured-insights/diversity-and-inclusion/diversity-wins-how-inclusion-matters
[4] Sobre o tema: https://www.monografias.ufop.br/bitstream/35400000/1615/1/MONOGRAFIA_Licen%C3%A7aSocialOpera%C3%A7%C3%A3o.pdf
[5] São elas: Sabesp (São Paulo), Cedae (Rio de Janeiro), Copasa (Minas Gerais), Sanepar (Paraná), Corsan (Rio Grande do Sul), Embasa (Bahia), Compesa (Pernambuco), Saneago (Goiás), Caesb (Distrito Federal) e Cagece (Ceará).