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Beto Richa sabe que a primeira coisa de que muitos lembram ao ouvir seu nome é a sua prisão por suspeita de corrupção, às vésperas da eleição de 2018, que fez naufragar sua campanha ao Senado. E sabe que muitos ignoram que as investigações e processos foram anulados, pelo ministro Dias Toffoli, em março deste ano. Nesta entrevista ao JOTA, o deputado federal conta como o acaso ajudou a encerrar a negociação para que ele disputasse a prefeitura de Curitiba pelo PL e garante que será candidato pelo PSDB.
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Ex-prefeito com alta aprovação e ex-governador do Paraná com mandato conturbado politicamente, Richa defende seu legado e acena à direita em uma disputa que parece tratar como a chance de voltar ao protagonismo que já teve no estado.
Esta entrevista faz parte de uma série com pré-candidatos à prefeitura de Curitiba.
A sua mulher, Fernanda Richa, recentemente se filiou ao PSDB, e por isso circulou o rumor de que ela poderia concorrer à prefeitura. O pré-candidato é o senhor ou ela?
Sou pré-candidato pelo PSDB. A filiação da Fernanda gerou uma expectativa grande, mas ela sempre foi do PSDB. Ela saiu depois da perseguição que aconteceu [prisão em 2018, em investigação de corrupção no governo de Richa no PR]. Foram muito cruéis com ela. Ficou muito magoada e abalada emocionalmente com o que aprontaram. Prenderam ela, e depois não virou ré. Nem denúncia apresentaram. Mas por que, Santo Cristo, submeter uma pessoa, ainda mais uma mulher, a um trauma desse se não tem nada?! Mas ela já está tranquila. Existe um clamor muito forte do nome dela nos bairros, nas lideranças, pelo bom trabalho. Era presente, atendia as comunidades mais carentes. Por isso a especulação, e alguns adversários veem com apreensão. Então, eu consegui a filiação dela, mas ela não quer ser candidata.
Nem a vereadora?
Em princípio, não. Ainda tem a convenção, não sei. Mas o candidato para a prefeitura sou eu. Ela acompanha com toda a intensidade que ela sempre fez. Ela é muito bem recebida nos bairros. Porque foram programas referência para o Brasil. Segundo o IPEA, na minha gestão de prefeito, Curitiba teve a maior redução de pobreza e miséria do Brasil. Os programas da Fernanda! Como governador, foi a maior redução de pobreza e miséria do sul e sudeste.
Então, o senhor agora é pré-candidato pelo PSDB, mas participou de uma negociação para ir para o PL…
Mais ou menos.
Por que mais ou menos?
Na condição de pré-candidato, eu procurei partidos para formalização de uma aliança, de uma coligação que fortaleça o meu projeto. E quem demonstrou interesse foi o PL. Eu tenho bom entrosamento com toda a classe política. Mas o PL tem deputados que foram do PSDB, que são meus amigos, tem deputado que militou com o meu pai [o ex-senador José Richa] lá atrás. E eles têm respeito por mim. Eles estavam sem candidato, se interessaram em caminhar comigo. Consegui manter em sigilo a conversa, porque eu tenho que cuidar aqui com cada passo que eu dou, porque tem uma máquina poderosa ali e outra aqui. O Palácio do Iguaçu e o Palácio 29 de Março [sedes do governo do PR e da prefeitura].
Unidos.
Unidos! Estou enfrentando duas máquinas que estão operando a todo vapor. Então, consegui manter em sigilo, um mês e meio de conversa. E foi evoluindo. “Só que tem um detalhe: você tem que se filiar, vamos lá na sede do PL”. Fui muito bem recebido pelo presidente nacional [Valdemar Costa Neto]. Cheguei lá, fizeram um vídeo, fizeram fotografia. Eu não esperava tudo isso. O Valdemar me saudou na frente do pessoal todo: “Há muito tempo eu convido o Beto para estar conosco”. E fez o convite.
O senhor esteve com Bolsonaro?
Eu resolvi com as duas principais lideranças, o Bolsonaro e ele. Fui no outro bloco [do prédio]. Falei com o Bolsonaro, que reafirmou o convite. Falei: “Não divulguem nada, que eu tenho que conversar com o meu partido. Eu devo essa satisfação”. A primeira reunião, com o Aécio, seria 14h. Posteriormente com o Marconi [Perillo, presidente nacional do PSDB], por telefone, pois ele não estava em Brasília. E depois eu tinha uma série de pessoas para dar satisfação: Tasso [Jereissati], Pimenta [da Veiga], que fundaram o partido com o meu pai.
E o que deu errado?
Foi uma coincidência. Na saída do PL, o [deputado federal pelo PL-PR] Filipe Barros falou pra irmos logo, porque estava chegando o [deputado estadual do PL, Ricardo] Arruda. É um cara bem agressivo, bem radical. Pois abre a porta do elevador, e o Arruda estava chegando, com 6 ou 7 pessoas. O Filipe Barros disse a ele que os dois conversariam logo depois, mas tinha um cara filmando. Eu falei: “Pode filmar, não tem nada a esconder”. E ele disparou nas redes. Esse cara apoiou o meu governo, um dos mais entusiasmados. Mas ele viu ali a pretensão dele [de ser candidato a prefeito] derreter. Cheguei no PSDB, já tinha nota do PSDB na Folha de S.Paulo, que não ia dar anuência para nenhum deputado mais. Já tinham dado para o Carlos Sampaio [deputado federal de SP] uma semana antes. Cheguei a falar com o Aécio, que apelou pra eu ficar, pelo histórico no partido. Ele ligou para o Valdemar: “Pô, apoia o Beto no PSDB. Não precisa sair”. Não que eu aceitei o convite. Conversamos… E aquela situação toda armada, com foto e vídeo, melou tudo. Já tinha nota proibindo a saída genérica. Não foi pontual para mim. Mas eu fui o causador: ninguém mais sai do partido. E acharam que pelo meu histórico podia também representar uma debandada nacional.
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Uma debandada que está acontecendo, não é?
Está? Saiu um senador, o Izalci [Lucas, do DF].
O PSDB perdeu até sala de liderança no Senado, porque ficaram só com um senador. Houve a saída de todos os vereadores em São Paulo…
É um problema local. Por causa do apoio à eleição do prefeito. A gente tem visto isso.
Voltando a Curitiba: melou, nas suas palavras, a ida para o PL. Mas melou uma aliança?
Eu acho que dificultou. O governador esteve lá em Brasília com o Bolsonaro. Portas fechadas. Parece que resolveram a situação. A gente estava em conversa. O PL eu queria comigo, lógico. Tendo televisão, estrutura. Seria um espetáculo.
E como fazer a campanha sem o PL e com duas estruturas, da prefeitura e do governo, que apoiam o vice-prefeito Pimentel?
Ele era meu assessor. Eu fiz ele vice-prefeito. Quando o Greca não queria. Ele estava comigo há tempo, militava na juventude do PSDB, com o meu filho. Na época que eu fui prefeito ele trabalhou comigo na Fundação Cultural. Depois no governo coloquei ele na CEASA. Depois comigo direto, no gabinete, meu assessor pessoal.
E agora ele está com essas duas máquinas. Como convencer a população de Curitiba, que aprova o prefeito e aprova o governador, de que ela tem de mudar de rumo?
Esse é um desafio que eu estou disposto a enfrentar. Eu vou fazer a diferença com o trabalho. Eu sempre fui um político de estar no bairro, sempre fui acessível, de abraçar as pessoas, olhar nos olhos, ouvir os seus problemas, me sensibilizar com ele. E fiz grandes programas em Curitiba. Eu fui o melhor prefeito do Brasil em todas as 10 pesquisas realizadas. Na última, inclusive, da Folha de S.Paulo, eu me distanciei do segundo colocado. E nas urnas eu tive a maior votação da história: 77,27% dos votos. Em 100% das urnas eu venci, quase 3.500 urnas. Venci em todas! Então, as pessoas se lembram da prefeitura que a gente fez. E a presença e a liderança da Fernanda vão ajudar bastante. Porque não basta apenas ter apoio de máquinas, ter personalidades apoiando, vai muito dos atributos pessoais do candidato também. Vai muito disso. Eu acredito que, nesse aspecto, eu faça a diferença.
O senhor acha que os seus atributos pessoais batem os do Pimentel? Eu percebi que o senhor estava com uma certa mágoa dele.
Não. Situação legítima dele. Veja: eu fiz ele vice, e todo mundo sabe. Contra a vontade do Greca. O rapaz foi meu assessor pessoal. Está sendo levado pelas máquinas. Não que ele não tenha atributos. Ele tem atributos. É uma pessoa gentil, educada, boa família e tudo mais. Mas isso tudo não basta. Os programas, os números. Se for pesquisar os números verdadeiros da atual gestão, não há comparação.
Como assim os números verdadeiros?
Eu fiz 10 mil vagas em creche, a maior abertura de vagas da história de Curitiba. Armazéns da família funcionavam bem. Passagem de ônibus era barata, hoje está cara. Tinha a domingueira, tarifa de R$ 1. Domingo, parques estavam lotados, igrejas lotadas —palavra dos pastores e padres. Tinha movimento na cidade domingo para beneficiar a família de baixa renda. E 30 mil famílias atendidas entre titulação de imóveis e moradia própria, a maior oferta de casas populares da história de Curitiba. Eu recebia comitivas de prefeitos do Brasil inteiro. Vinham olhar programas sociais, iam ao IPPUC [Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba], iam no Meio-Ambiente, admirados com a limpeza da cidade. Terminavam no meu gabinete: “Conta o que você faz para ter essa aprovação altíssima?”. Não tem receita, cada um tem o seu jeito. Eu encaro o povo, cuido, descentralizo. Mas cuido do cumprimento das tarefas. E inicia colocando pessoas qualificadas. Se me pedissem uma única coisa, eu resumiria: gestão democrática. Respeito às pessoas através da inovação que fiz, a audiência pública. Passava um carro anunciando a presença do prefeito, numa paróquia, num ginásio. Eu ia de peito aberto, escutava o povo e transformava na prática a gestão num orçamento participativo. E ali tinha diretrizes, baseadas no que eu via. Saber que um bairro precisa de creche, o outro de uma linha de ônibus, outro, uma roçada de um terreno.
E qual é o principal problema da cidade hoje?
Área social. Não tenho medo de errar. A cidade está coalhada de morador de rua… em situação de rua. Na minha época, não tinha. Zero! Aparecia um, aparecia outro que veio de outra cidade. Era rapidamente abordada pelo resgate social, muitas vezes com minha mulher, pessoalmente, até à noite. Eu levava lá para o resgate social, onde tinha uma estrutura que dava roupa para a pessoa, comida, banho e ligava para a família. Para tentar uma reinserção na família. Tinha todos os cuidados. E hoje é voz corrente: a área social, acabou em Curitiba. Porque é muito fácil, né? Ficar lá no conforto do ar-condicionado do gabinete ouvindo música clássica. Eu ficava nos bairros.
Sobre a saúde em Curitiba, quais as propostas?
Nós temos que avançar bastante. Está precária. Está todo dia na Globo: fila nas unidades de saúde, nos hospitais superlotados, sobrecarregados. Então, ampliar, como eu já fiz. Fiz mini-hospitais 24h, 20 unidades de saúde, reforma e ampliação de outras tantas. E bons programas na área de saúde. Fizemos aí —o Luciano [Ducci] que inaugurou. Eu, como prefeito, tentei fazer, tinha um financiamento com o governo [do estado] que foi cortado. Aí, como governador, eu fui lá, fiz a obra que me foi negada, com o Luciano Ducci, prefeito: o Hospital do Idoso. Primeiro hospital de Curitiba do idoso, lá no Pinheirinho. A maior escola de ensino especial, Tomás Edison de Andrade Vieira, lá no Pinheirinho também. Então, a saúde é um grande desafio, sempre foi, no Brasil inteiro. Tem que ter vontade política, tem que ter proposta, e nós vamos apresentar as propostas para melhorar a saúde em Curitiba.
O senhor citou o Ducci no caso do Hospital do Idoso. Ele nos disse que uma das propostas é reduzir a terceirização e quarteirização na saúde. Como o senhor vê isso?
Sim, estão terceirizando tudo! Não dá para entender. Tem que valorizar os servidores públicos. Eu sempre valorizei. Curitiba tem dos servidores públicos mais qualificados do Brasil. Por isso que entra gestão, sai gestão, pode piorar um pouco, melhorar um pouco, mas os funcionários levam bem o serviço, atendem bem a população. Tem um dos quadros de servidores mais qualificados do Brasil, digo sem medo de errar. E sempre foram valorizados por mim. Eu acredito que não há essa necessidade desenfreada de terceirizar serviços.
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E para a educação?
Nós tínhamos o melhor Ideb do Brasil em algumas faixas. Eu fiz 10 mil vagas em creche, inaugurei muitas escolas. É um desafio abrir mais vagas em creche, que é uma demanda permanente. E melhorar o atendimento das escolas, valorizar os professores. Ainda estou em fase de formulação do plano de governo, e em todas as minhas eleições eu costumo registrar em cartório no plano de governo, para a população poder acompanhar os compromissos e a execução e cumprimento de cada um deles.
Os professores e os sindicatos ainda criticam muito o senhor pela repressão em 2015.
Aquilo lá foi armado, um movimento manipulado. O que mais tinha ali era MST, CUT, as entidades estudantis, UNE, tudo manipulado pela esquerda para me criar dificuldade política. Eu cheguei num ponto que falei: “As demandas não podem ser infinitas e insaciáveis”. Eu dei 146% de aumento para os professores estaduais. Contra uma inflação, no período de 7 anos, de 55%. Ou seja, quase 100% de ganho real. Então foi um troço manipulado para me ferrar politicamente. Já tinham invadido a Assembleia duas vezes.
E como foi o episódio dos professores com a PM?
Ninguém saiu deliberadamente batendo em professor, em manifestantes, nunca fiz isso. Eu sou da paz. Já tinham invadido a Assembeia duas vezes. Aí o presidente da Assembleia, junto ao Tribunal de Justiça, conseguiu uma liminar para cercar a Assembleia e garantir o funcionamento de uma instituição democrática. Os policiais cercaram, e eles tentaram invadir pelo Tribunal de Justiça, contíguo. E aí eles foram para cima dos policiais. Então gerou esse atrito, sim. Lamento profundamente o ocorrido. Mas até a presidente do sindicato, para fazer o sucessor dela, fez um vídeo para convencer os professores dizendo das grandes conquistas da gestão dela. Ascensão horizontal, nível A, que era 6 mil, foi para 9 mil. Todos os avanços. Nós pegamos o vídeo dela [gesto de carimbo] na testa: “Governo Beto Richa”. Eles reconhecem, entre quatro paredes. Para fora, eles fazem a politicagem, né? Foi lamentável. Mas eu acho que o bom governante é aquele que, quando é necessário, toma medidas impopulares. Demagogia custa caro. E eu nunca fui demagogo.
Seu segundo governo ficou marcado por ajustes. O que houve?
Eu estava fazendo um ajuste fiscal. Eu fui o primeiro governador no Brasil a fazer a reforma da Previdência. Apanhei da grande imprensa. Depois, não! Na hora que alguns deputados do PR votaram contra a reforma da Previdência em Brasília, foram execrados pela mesma mídia que me batia! Porque eu fui o primeiro. Pelo ineditismo, pelo pioneirismo, eu apanhei. Eles diziam que iam perder as aposentadorias. Então alguns vieram furiosos. Detalhe: era o fundo financeiro da previdência mais capitalizado do Brasil. E o fundo financeiro estava sangrando, e o dinheiro represado lá. “Vamos usar o fundo previdenciário”. E daí deu certo. Fizemos um grande ajuste fiscal. Eu deixei R$ 7 bilhões no caixa. Eu costumo carregar o extrato do Banco do Brasil: 6 bilhões e 700 milhões em caixa. E canteiro de obras no Paraná inteiro. Qualquer cidade que você liga para o prefeito e ele te conta, de qualquer partido. Um dia, um repórter virou para mim: “Sua competência como gestor público é inquestionável. O que gerou um ponto de interrogação [ele foi até educado] foi a questão moral do que fizeram com o senhor”. Eu até gostei da avaliação que ele fez.
Mas o senhor reconhece que houve algum erro de controle ou houve algum erro…
Nenhuma omissão.
Não houve nenhum erro?
Zero.
O senhor não cometeu nenhum erro naquela situação?
Fui o político mais perseguido do Brasil. Uma perseguição implacável e obsessiva. Implacável. A operação Quadro Negro das escolas? Quem denunciou foi o nosso gabinete. A gente recebeu a denúncia de uma escolazinha, Amâncio Moro, no Jardim Social, por coincidência a que eu voto, por isso que tenho na memória o nome, que tinha um pessoal da APPF, dos professores e pais de alunos: “Opa, esse muro aqui não pode custar tudo isso!”. Nós mandamos na hora investigar na Secretaria de Educação. “Opa, parece que a coisa é um pouco maior que isso!”. Mandamos para a polícia. Foi para a polícia especializada para investigar. O nome Quadro Negro não foi o Ministério Público que deu, foi a polícia do governo. As pessoas foram presas no meu governo. Todas as medidas, toda a investigação, [mandei]: Ministério Público, Tribunal de Contas e Corregedoria do Estado.
E quem estava por trás dessa perseguição?
Não sei dizer até hoje. O [ex-senador, Roberto] Requião já me fez essa pergunta: “Quem você imagina que armou tudo isso para você?”. Agora, para as principais lideranças do estado, foi conveniente eu ser uma peça retirada do tabuleiro político. Perseguição implacável. Eu sempre ajudei o Ministério Público. Palavras deles. Limpando o escritório do meu pai, quando morreu, achei o ofício do MP: o único político que tem o título de promotor honorário chama-se José Richa. Eles reconhecem que meu pai ajudou eles, como governador, e depois senador constituinte: “As grandes prerrogativas que nós temos na Constituição, o principal líder e artífice foi o seu pai”. Me tratavam assim, viviam no meu gabinete. Aumentei o percentual de participação no orçamento. Não justifica o que fizeram. Os mais equilibrados, os mais idosos, se comoveram, alguns pessoalmente se solidarizaram comigo. Lembro que promotores têm autonomia, cada promotor é uma instituição à parte. Não existe hierarquia funcional. Lava Jato atrás de holofote, eu dei os holofotes que eles queriam. Eu pergunto: “Que pré-requisito eu preenchia pra ter minha casa invadida a 20 dias da eleição, e ser sequestrado com a minha mulher?” Eu não era mais governador há seis meses, praticamente. Nenhum! Me tiraram a eleição. Não tinha inquérito instaurado. Eu não fui chamado pra depor. Até hoje. Foi anulado tudo agora [pelo STF]. Nunca fui depor. Nenhuma condenação em primeiro grau dessas acusações todas. Então, foi uma armação terrível.
Mas essas denúncias continuam sendo a primeira coisa que as pessoas de Curitiba lembram quando perguntamos do senhor.
Sim, claro. É normal.
E em uma Curitiba lava-jatista, o senhor acha que é possível limpar a sua imagem?
Seis, sete anos apanhando fartamente na imprensa. A minha absolvição e anulação de todos os processos foi dada durante um dia. Então, além de tudo, a minha candidatura vai me dar oportunidade de conversar com as pessoas, ter uma boa mídia gratuita. Na Globo, na imprensa toda, emissoras de televisão, de rádio. Vou ter debate entre os candidatos, sabatina nas entidades, vou participar de todas. As pessoas me conhecem. Os que me conhecem me apoiam, sabem que nós sempre fomos muito decentes na vida pública, uma conduta íntegra, retilínea, sempre cuidadoso com tudo. Foi uma armação diabólica que eu sofri. E hoje a Justiça brasileira reconhece a minha inocência.
E as provas…
Bom, primeiro que não tem nada. Todas as minhas entrevistas eu desafiava: “Quero que me apontem meia prova contra mim!”. É a palavra de um delator pressionado na cadeia pra falar do Beto Richa. Pressionado na cadeia.
Mas há provas de que houve irregularidades.
Não. Contra mim nenhuma.
Nas obras houve.
Que governo não tem? O detalhe é que eu não varri nada pra baixo do tapete. Quadro Negro, quem denunciou fui eu! Aí prenderam o sujeito e vem aquela pressão pra usar o meu nome. Pode falar o que quiser. A lei da delação premiada é clara: só se homologa uma delação acompanhada de provas. Dei centenas de entrevistas ao longo desses cinco anos. E desafiava: “Qual é a prova contra mim?”. Ninguém sabe dizer. Não tem. Os processos estavam parados, inclusive. Meus advogados nem chegaram a atuar. Não sabiam por onde começar. Eles tinham uma gana de me ferrar, sangue nos olhos. Mas prova, mesmo, não tinha. Então, eu sempre disse: um dia isso aí vai cair. Porque não tem como sustentar isso aí. E a prova que ajudou a embasar a minha defesa jurídica, com todos os argumentos, que ajudou a complementar, foram os diálogos [Spoofing]. Tá tudo ali: armação. Mas armação grosseira. Distorcendo fatos. Com deboche, inclusive. A conversa entre eles, muitas vezes, terminava com “kkkkk”. “Ah, manda pra cadeia e tem que raspar o cabelo dele”. Tá tudo ali a prova da armação. Tanto é que na decisão do Supremo está escrito lá: conluio processual e manipulação dos fatos.
Esse grupo da Lava Jato hoje está na direita. De certa forma, também apoiando o ex-presidente Bolsonaro. E em cidade que foi tanto pra direita quanto Curitiba, o senhor acha que foi necessário fazer esse movimento à direita também, se aproximando do PL. O senhor considera que esse é o caminho pra vencer aqui?
Claro que Curitiba é majoritariamente de direita. Eu posso dizer isso com conhecimento de causa. Todas as minhas eleições eu venci em cima do PT e do Requião. Todas. Prefeito, eu venci o Vanhoni. Na reeleição eu venci a Gleisi [Hoffmann]. Pra governador, o PT resolveu se unir ao Requião e apoiaram o Osmar Dias. Venci o Osmar no primeiro turno. E depois, na minha reeleição, eu enfrentei o Requião e a Gleisi de novo.
O senhor está querendo dizer que sempre foi de direita?
Sim. Eu enfrentei a esquerda aqui. Eu sou de centro. Mas sempre enfrentei nas minhas eleições a esquerda. Até uma situação com o PL que alguns me indagaram. Mas qual a estranheza? Muitos deputados eram do PSDB que estão no PL. E os que não eram me apoiaram em todas as minhas gestões, tanto na minha eleição quanto na governabilidade, na Assembleia.
Mas talvez o que chame a atenção não seja o PL em si. O senhor citou com muito orgulho o seu pai, que foi um grande ator na Constituinte, na redemocratização do país, nas Diretas Já.
O primeiro comício foi aqui em Curitiba.
Ele foi governador, depois senador constituinte, nessa construção da redemocratização. E o senhor agora estava negociando com um apologista do regime militar, que é o Jair Bolsonaro.
Mas você não tem como fazer coligação com um partido que pensa igual, exatamente como você. Dentro do seu próprio partido tem opiniões divergentes, que dirá um partido diferente! Se não for assim, você não monta a coligação. Você vai ficar sozinho. Então, eu nunca pedi atestado de identidade ideológica para ninguém que queira me apoiar. É uma construção de alianças. Se estão me apoiando, confiam no meu projeto. Concordam com o meu projeto.
O senhor falou sobre sabatinas, debates. Mas o tempo de TV mesmo, pelo PSDB, é pequeno. É possível alguma aliança?
Estou tentando ainda. Eu não posso declinar o nome dos partidos. Se não, eles vão em cima. Até que o PL conseguir manter um mês em sigilo. Com alguns partidos menores que sobraram.
Hoje o PSDB não tem vereador…
Nós estamos na federação com o Cidadania. Tem um. Temos duas deputadas estaduais, mais um, do Cidadania. Federal só eu.
E a chapa para vereadores?
Está completa. 39 candidatos. O Cidadania ajuda a preencher também.
Qual a perspectiva de vereadores?
Eleger dois, dando tudo certo, três. Mas isso não é preponderante na campanha majoritária. Se não a Raquel Lira não saía governadora.
Mas precisa de gente trabalhando nas bases. Isso o senhor ainda tem?
Tem. A Fernanda vai dar uma grande contribuição com as lideranças de bairro aqui. Gostam muito dela. Muitos se lembram dos feitos que a gente realizou em cada um dos bairros da cidade. Asfaltei bairros inteiros. E, como governador, R$ 600 milhões a fundo perdido para o atual prefeito. Acho que foi o maior repasse que um governo já fez para prefeitura de Curitiba. Eu acho que a política pública tem que passar para frente, fazer proposta. O que me despertou a vontade também de disputar foi quando eu vi a pesquisa. Botaram meu nome. Eu não falei que era candidato. Não tenho feito reunião nos bairros ao longo desses cinco anos. Fiquei cuidando da minha defesa. Me afastei da presidência do partido para cuidar da minha vida.
Mas a rejeição nas pesquisas também é grande.
Então, meu desafio é a rejeição. Com essa presença, com essas sabatinas, estando nos bairros. Muitas pessoas garantem que não sabem, como você falou, que eu fui absolvido de tudo. A pancadaria era todo dia aqui. Ao longo de anos. Agora, um dia só, talvez por obrigação dos veículos de noticiar a absolvição, foi um dia. Mas na campanha vão saber.