O que define a dimensão da autenticação do dom pessoal?

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Em que consiste a autenticação? É como gravar, marcar de forma definitiva, indelével o que as percepções trouxeram. Existe diferença entre reconhecer e autenticar.

O reconhecimento se dará quando, após cada prática de vida, percebemos os sentimentos, efeitos e causas que se fazem em nós.

Já autenticar é detectar, nas várias experiências de reconhecimento, características que se repetem e verificar de qual característica da nossa humanidade provêm tais traços.

Os dons pessoais

Descobrindo a sua origem é que chegaremos à conclusão dos atributos que estão intrínsecos em nós; a partir daí, tomaremos como particular identidade, assumiremos de si os dons específicos que temos.

Créditos: by Getty Images / monkeybusinessimages/cancaonova.com

Por exemplo: se uma pessoa gosta de manifestar seu carinho pelas pessoas às quais tem apreço sempre com um presente ou amar com gesto concreto e material, poderá identificar que seu perfil é o de ser provedora. É essa sua personalidade que o impulsiona a proceder em presentear. Por meio do gosto por presentear, que é apenas uma característica do dom, ela poderá chegar à conclusão de que tem um perfil de provedor autenticado em si.

Outro detalhe é que ninguém nunca alcançará a verdadeira autenticação de si julgando ter algo ruim em sua natureza, pois fomos criados todos no bem, tudo em nós tem uma estrutura originariamente vinda da bondade. “E viu (Deus) que tudo era muito bom” (Gn 1,31). São Tomás de Aquino diz que “o homem, ao seguir qualquer desejo natural, tende à semelhança divina, pois todo bem naturalmente desejado é uma certa semelhança com a bondade divina”.

Ainda citando São Tomás de Aquino, ele diz: “O pecado é desviar-se da reta apropriação de um bem”. Isso significa que todas as nossas faculdades humanas, em princípio, foram criadas no bem, mas se algo em nós é inclinado ao mal, é porque estamos lidando com um traço da nossa personalidade criado para o bem, que, porém, durante a história pessoal, foi habituado na forma de pecado e não de virtude.

Facilidade em comunicação

Um exemplo disso: uma pessoa que tem uma grande habilidade de comunicar-se pode canalizar esse dom para levar a Boa Nova, e então ela desenvolve-a com técnicas de oratória, estudando conteúdos diversos, especializando-se na Sagrada Escritura, ou essa pessoa pode se estagnar, direcionar essa força para a atitude de fofoca, na maledicência e no boato.

Enquanto o indivíduo atribuir à sua natureza algo que seja ruim, ele não chegará à autenticação do dom pessoal, pois os pecados e erros, mesmo os constantes, são condições adquiridas no percurso de vida, e não traços intrínsecos no ser. Essas fragilidades até dão uma pista da grandiosa característica que a pessoa tem, mas, de modo algum, é sua mais profunda realidade.

Ato conjugal é o dom do amor

E o que está na essência do ato conjugal e, ao mesmo tempo, no âmago do ser humano? Qual característica é entranhada, primeiramente, na pessoa e manifesta a sublimação do indivíduo em suas ações e, consequentemente, também na união sexual, como expressão nobre de si? É o dom do amor. “Deus criou o homem por amor, também o chamou para o amor, vocação fundamental e inata de todo ser humano. Pois o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, que é amor” (CIC, 1604). Portanto, o sexo, sendo entrega do todo do indivíduo, deve estar sempre íntimo e permanentemente ligado ao dom do amor.

Como a pessoa poderá, através da vida ativa sexual com seu cônjuge, autenticar sua identidade mais profunda? Somente por meio do amor. Se o indivíduo se entrega no ato conjugal com amor e por amor, conseguirá identificar em si a capacidade do bem, e só assim alcançará uma boa impressão de si mesmo.

Pela grandiosa força que a união íntima exerce em nós, o marco da presença de amor em nossa alma e coração será de igual modo muito poderoso, confirmando e atualizando tal natureza. Além de tal efeito, a cada união íntima, promove-se o desejo de crescer no amor, numa doação cada vez maior, que se traduz nos outros momentos de romantismo, mas também no cotidiano, em ocasiões em que um necessita ser amparado pelo outro.

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Vida sexual

A boa vivência conjugal, incluindo a dimensão sexual, conforme os desígnios do Senhor, dentro da graça, no sacramento do matrimônio, vai convencendo a pessoa de que ela é capaz de produzir o amor e o bem, e de que essas duas virtudes estão impregnadas em seu ser, por isso se faz natural a pessoa acreditar nela mesma em outros âmbitos de sua humanidade. Isso autentica o dom do amor na alma do indivíduo. O lar, a atmosfera que circunda o casal acabam sendo um ambiente regido pelo dom do amor.

Nisso, concluímos que só por atitudes de amor a pessoa pode se reconhecer, e pelo mesmo amor que existe em sua mais pura essência, o indivíduo pode autenticar sua impressão de si como algo real a seu respeito.

E sua dimensão sexual tem uma forte representatividade em sua estrutura humana. Numa relação sexual, quanto mais se busca o bem do cônjuge, quanto maior for a entrega em expressar o melhor de si, não em desempenho, mas em afeto, melhor será esse momento.

A consciência da vida sexual

Por isso mesmo que o sexo tende a não ser canal de tamanha virtude quando praticado por um falso amor ou por pura paixão, quando ainda não é um comprometimento de vidas em totalidade, portanto, lícito só dentro do sacramento do matrimônio.

Sem essa consciência da importância do amor e de que na vida afetiva a pessoa deve se doar por amor, este indivíduo vai se acostumando e impregnando em si outras impressões de si mesmo. Passa a acreditar que seu prazer é sua felicidade, embora, nos momentos de solidão e tristeza, não encontre sentido e busque novamente as satisfações de momento. Não acreditará que no compromisso definitivo existe preenchimento existencial e vai, aos poucos, aliciando seu coração a paixões circunstanciais. Vai esmorecendo, arrefecendo dentro de si o dom do amor.

Notemos que, em tudo que relatamos sobre o ato conjugal, se consumado com amor, edifica os cônjuges, tanto nas dimensões da pessoa para consigo mesma quanto no conhecimento do outro e, ainda, no bom êxito do relacionamento.

O afastamento da essência

Já a busca do prazer como forma de bem próprio, por si só, não eleva a pessoa à sua totalidade, mas a afasta de sua essência e a fragmenta, e como já relatamos antes, em algum momento, esse afastamento do amor será sentido na forma de falta de sentido existencial. Ou seja, na não autenticação de seus valores, a pessoa verá se repetir suas características deturpadas. E se consumado com sentimentos negativos de raiva, indignação ou qualquer tipo de violência, o ato sexual, igualmente, alimentará tais sentimentos.

Contudo, neste modelo que estamos apresentando, em que os esposos entendem a união íntima como dádiva da benevolência existente desde sempre em si mesmos e que é transmitida ao cônjuge, concluímos que a união íntima do casal, de forma alguma, deve estar destituída ou isolada de uma vivência plena e satisfatória de outras práticas de amor e cumplicidade. Veja que, na “Teologia do Corpo”, São João Paulo II cita: “o homem e a mulher, unindo-se entre si (no ato conjugal)”, ou seja, apesar de se tratar da união íntima dos esposos, o saudoso Papa refere-se à “união” de uma unidade que deve acontecer em tudo na vida.

Quanto mais amarmos, mais donos de nós mesmos seremos, num reconhecimento e autenticação do que em nossa natureza temos de mais elevado. Só o amor confirma e autentica a pessoa.

Trecho extraído do livro “Ato Conjugal – Beleza e transcendência”

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