Medrosos, criteriosos ou democratas?

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As notícias sobre os depoimentos dos comandantes das Forças Armadas brasileiras nas investigações sobre a trama do 8 de janeiro renderam a interpretação de que de fato havia intenção de um golpe de Estado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. A discussão em torno da elaboração da minuta do golpe parece ter sido ampla no alto escalão do poder nacional, incluindo os militares.

Os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica, respectivamente, general Marco Antônio Freire Gomes e tenente-brigadeiro Carlos Baptista Júnior, teriam se negado a participar das ações, enquanto o ex-comandante da Marinha, o almirante de Esquadra Almir Garnier Santos, teria topado a participação. Se a recusa dos dois primeiros seria um motivo pelo qual ainda vivemos em uma democracia hoje, nos cabe avaliar porque não participaram da trama proposta.

Há ao menos três hipóteses possíveis. A primeira se associa a uma declaração do ex-ministro da Casa Civil e da Defesa durante o governo Bolsonaro e seu candidato a vice-presidente em 2022, general Walter Braga Netto. Segundo documentos levantados pela Polícia Federal, Braga Netto teria escrito usando seu celular: “A culpa pelo que está acontecendo e acontecerá e [sic] do Gen Freire Gomes. Omissão e indecisão não cabem a um combatente”.

Braga Netto queria que o comandante do Exército tivesse pulso e se lançasse na investida contra a democracia tal como lhe era apresentada. Nestas mensagens ainda, o ex-ministro teria chamado o chefe militar de “cagão”. Como bem se vê, por esta hipótese, teria faltado aos ex-comandantes coragem para fazer o que era preciso e levar adiante os planos tramados pelo ex-presidente. Seria a fraqueza ou o medo destas pessoas o responsável pela manutenção dos processo democráticos no Brasil.

Como uma segunda hipótese, os ex-comandantes prezariam pela democracia e teriam entendido a gravidade do que se propunha. Repetir 1964 não seria uma decisão correta a ser encaminhada. As consequências para o país da ruptura do regime não compensariam um possível governo petista. Neste interpretação, os ex-comandantes teriam agido como democratas, defensores do regime, ao não se envolverem com o que estava sendo tramado e agora, inclusive, atuam como testemunhas das intenções do governo anterior. Os seus olhares e suas ações estariam na preservação da democracia tanto lá, quanto agora.

Por fim, a terceira possibilidade é a de que os ex-comandantes estariam dispostos a romper com o regime democrático, fossem outras as condições. Ainda que entendessem que um possível futuro governo petista seria muito ruim para o país, o problema não estaria em acabar com o regime democrático em nossas terras, mas a de interrompê-la conduzindo ao poder alguém que julgaram não ser capaz de ocupar o posto máximo em um regime autoritário. Ou seja, interromper a democracia no país não seria um problema em si, não fossem as evidentes (in)capacidades do ditador de plantão. Teriam sido criteriosos e ponderaram as ameaças em cada cenário e entenderam que o plano não poderia culminar numa ditadura bolsonarista no Brasil. Mas fosse outro o líder, quem saberia dizer?

Não acredito que saberemos ao certo qual a posição real dos ex-comandantes. Para cada uma das hipóteses apresentadas, a imagem pública de nossos militares seria bastante diferente. Certamente, eles agora buscarão contar uma história que os coloque na posição de maior valor – talvez a de defensores de primeira hora da democracia do país. Seja por qual razão for, agradeceremos também a eles pela manutenção de eleições livres em nosso país.

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