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Durante anos, a relação entre o jurídico e o escritório terceirizado foi atribulada e baseada em formalidade, tensão e comprovações constantes. Por um lado, o jurídico interno guardava um sentimento de melhor pertencimento e de domínio do tema. De outro, a ideia de que esse sentimento se transbordaria em controle do desenvolvimento da atividade intelectual do escritório e limitaria, desvalorizando, a qualidade do serviço prestado. No entanto, essa dinâmica está evoluindo para uma parceria mais colaborativa e integrada.
A confiança deve ser a base dessa relação – agora mais informal – e fundamentada em alguns pilares como: escolhas, integração, interlocução, alinhamento, apresentação de resultados e avaliação. Serão esses pilares fundamentais para que haja sinergia entre o jurídico interno e o escritório, a fim de que um seja extensão do outro; somos parceiros e esse deve ser o lema.
Cabe ao jurídico interno gerir a melhor escolha de parceiro, que não seja apenas apto para solução de demandas, mas também com maturidade profissional e capacidade de entregar qualidade, volume e diversidade de matérias. Do mesmo modo, o escritório parceiro deve ter uma gestão ativa, bem estruturada e focada em atender o cliente, de forma ágil e efetiva tanto nos assuntos críticos quanto nos ordinários.
Ambos devem fazer escolhas para armazenamento de informação, utilizando ferramentas tecnológicas e valorizando a retenção de talentos. O armazenamento e a gestão de informações são primordiais para pavimentar o caminho para consultas futuras e facilitar a integração entre as equipes.
Por concreto, o trabalho conjunto de jurídico interno e o escritório terceirizado depende de escolhas dos seus gestores, que proporcionem a facilidade da compreensão da engrenagem, permitindo o resgate de históricos, com o gerenciamento de documentos eletrônicos e de sistemas e a gestão de conhecimento entre os times, não só, tornando automática tomadas de decisões recorrentes, como melhor forma de proporcionar a integração.
Integração, por certo, é o principal pilar da conexão total entre jurídico interno e escritório e possivelmente a grande chave do sucesso de estruturas complexas e bem resolvidas.
Falamos de integração como contribuição efetiva, não como limitação ao desenvolvimento criativo e intelectual do escritório, mas, sim, como conhecimento, compreensão e validação propositiva de teses, confiança em profissionais e suas impressões, contribuição na organização de esforços e na percepção de cases que devem atrair tratamento individualizado, bem como na sensibilidade de traçar metas e prognósticos possíveis.
Somando escolhas, com a integração em ambiente fluído, nos desdobraremos na necessidade de uma excelente interlocução (e compreensão) entre jurídico interno e escritório externo. Essa interlocução deve ser, sempre, clara, compreensível, objetiva e de conhecimento comum, ou seja, devem ser criadas formas de horizontalização da interlocução para aumentar a sinergia entre as equipes.
Não se pode olvidar da necessária existência de coordenação e de criação de um focal point, em ambos os lados, mas há que se permitir comunicações diretas para assuntos específicos, encurtando distâncias, pois o compartilhamento de informações entre os interlocutores aumenta a sinergia entre jurídico interno e escritório terceirizado, permitindo, inclusive, a criação de mecanismos de comunicação do escritório terceirizado com outros setores da empresa que não propriamente o jurídico – há que se entender o escritório terceirizado como continuidade do jurídico interno, não como um puro e simples prestador de serviço, mas sim, enquanto um poderoso recurso que deve ser acionado e não limitado.
A relação, aqui descrita, é como uma bateria de escola de samba, muito bem ensaiada, todos devem saber seus movimentos, ter seus passos marcados, compassados e ritmados, porquanto, um só que esteja desalinhado e destoe do grupo coloca em risco o sucesso, seja no resultado jurídico de um processo, seja na Sapucaí.
A metáfora é perfeita e o alinhamento é, portanto, o quarto pilar, pois, o jurídico interno, mantendo uma boa interlocução entre as partes, deve marcar os passos e ritmar a relação com seu parceiro. E o faz sendo preciso, transparente e retransmitindo ao terceirizado de forma clara e efetiva o intuito da parceria, ao passo que assim, o escritório conhecendo, bem, as metas e as expectativas da companhia para o jurídico não fique fora do tom.
Se foram feitas boas escolhas, há uma boa integração entre as equipes, a interlocução é perfeita, todas as mensagens são passadas e absorvidas e as expectativas foram alinhadas. Então, cabe ao escritório munido de informações da relação e da sua atuação, compartilhá-las de forma estratégica e antecipada. O jurídico interno sempre deve estar abastecido com as informações que precisa. Em caso de um questionamento da alta diretoria e, por certo, deve haver proatividade no compartilhamento de informações pelo escritório.
Aqui citaremos o quinto pilar, que é a apresentação de resultados, para além de uma importante rotina de reunião entre os times, facilitada pelas novas tecnologias, o escritório para ter sucesso na relação deve ser proativo e compartilhar resultados de forma simples (e de fácil compreensão). Ou seja, deve apostar em formas de comunicação visual, criação de linhas do tempo, linguagem simples e direta, bem como administrar bem as informações que são valiosas para o cliente, em detrimento daquelas que são irrelevantes. Uma boa apresentação não precisa ser lúdica, ela deve ser prévia, portanto, antes de ser questionada, precisa, efetiva e periódica.
Os cinco primeiros pilares se encaixam e se complementam, proporcionando o desenvolvimento do trabalho jurídico, e permitirá a criação de métricas para escolhas objetivas do gestor do jurídico Interno. Por exemplo, percebendo, dentre as apresentações de resultado, que uma certa matéria é mais sensível aos tribunais, ou que o histórico dela, recente, não vem sendo favorável, o jurídico pode alinhar com escritório uma atuação menos contenciosa, voltada para composição, ou em caso de sucesso de um tema, pode-se propor uma atuação mais combativa, na expectativa de melhores resultados.
O último dos pilares é a avaliação de desempenho, o feedback construtivo do jurídico interno, sempre é oportuno ao escritório para que se identifiquem problemas, que serão repassados ao time que atua na ponta da operação e orientará o desenvolvimento futuro, garantindo o alinhamento com os objetivos do negócio.
Por outro lado, a avaliação, em outro contexto, deve ser, também, feita por parte do escritório. Aqui, ele identifica as fragilidades do cliente a qual representa e demonstra uma atuação propositiva por sua parte, buscando soluções de problemas que sequer foram vislumbrados pelo jurídico interno ou mesmo antecipando mudanças de paradigmas. O que se quer agindo assim é a condução à uma atuação global da empresa em caminho que gere resultados operacionais e diminua prejuízos legais.
Em resumo, a cooperação entre o jurídico interno e o escritório externo é essencial para o sucesso de todas as operações jurídicas. Cada um dos pilares mencionados anteriormente desempenha um papel crucial nesse processo. Ao promoverem uma relação baseada em confiança, transparência e comunicação eficaz, as partes podem, sem dúvidas, alcançar resultados excepcionais.
Assim, ao investir na integração, alinhamento e avaliação contínua, o jurídico e o seu parceiro podem não apenas enfrentar desafios, mas também aproveitar oportunidades para oferecer o melhor suporte jurídico possível. Essa parceria sólida é fundamental não apenas para resolver questões legais, mas também para promover o crescimento e o sucesso duradouro da empresa.