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No segundo turno da eleição de 2022, o presidente Lula foi eleito com 50,9% dos votos válidos, equivalentes a 46,3% dos votos totais do pleito. Considerando as pesquisas nacionais publicadas logo após a eleição, os agregadores de pesquisas JOTA, PollingData, MCR e Ipespe Analítica, de acordo com suas metodologias próprias de compilação e ponderação, detectaram que, em média, a aprovação do governo no mês de janeiro de 2023 gravitava no entorno de 52,3% (6 pontos percentuais maior que a votação) e a desaprovação atingia 39,2%. O saldo entre os dois conceitos era positivo, de 13,1 pontos de percentagem.
Com base nas estatísticas eleitorais do TSE de 2022 pode-se dizer então que o presidente iniciou seu mandato adicionando por volta de 7,5 milhões de eleitores à sua base de apoio, eleitores que não tinham votado nele na eleição daquele ano.
Após dois anos de governo, pesquisas do mês de dezembro do último ano mostram que a situação se inverteu: Lula tem índice médio de aprovação da maneira de governar (45,3%) menor que o de desaprovação (48,1%), exibindo saldo negativo de 2,8 pontos percentuais entre os dois conceitos. Isso significa que não só houve debandada dos 7,5 milhões de eleitores conquistados nos primórdios do novo mandato, como ocorreu perda de aproximadamente 1,2 milhão dos antigos votantes de 2022.
Quando vistos sob o prisma do desempenho do governo no mesmo período (2023-2024), o saldo entre a avaliação positiva (ótimo + bom) e a avaliação negativa (ruim + péssimo) passa de 11,2 pontos percentuais positivos para 0,7 pontos negativos.
Mesmo diante dessa adversidade avaliativa, se observa que os números de apreço e desapreço das pesquisas são relativamente próximos uns dos outros, o que ainda representa considerável apoio de parcela da sociedade ao presidente e à sua gestão, particularmente se vistos sob o ângulo dos padrões atuais de aprovação de governantes no mundo contemporâneo.
Com efeito, na maioria dos países modernos predomina a desaprovação popular ao trabalho dos governantes, e mesmo onde a aprovação supera a desaprovação, os índices mostram-se apenas uns poucos pontos percentuais acima do seu oposto, retratando sociedades literalmente divididas no apoio aos seus mandatários (vide do autor: “Desaprovação de governantes é o padrão”, JC, 5/12/2024).
Os motivos de as sociedades serem atualmente tão críticas ao desempenho de governos e incumbentes quando auscultadas sobre o atendimento de suas expectativas dependem de contextos sociais, econômicos e políticos de cada uma, porém se incorporou à paisagem urbi et orbi a constatação de que os espaços para manifestações consensuais estão cada vez mais estreitos.
Conquanto justificada por se enquadrar na estatística média de desempenhos de incumbentes pelo mundo afora, a performance do presidente Lula captada pelas pesquisas na primeira metade do seu mandato não deixa de ser desalentadora, longe do que se esperava, tanto no que concerne à sua maneira de governar, quanto à avaliação de seu governo.
A empolgação com o compromisso de restauro dos alicerces democráticos do país, com a pacificação da polarizada ambiência social reinante e com o crescimento socioeconômico sustentável foi dando lugar, paulatinamente, à apatia, a um sentimento de desencanto de parte da sociedade com o trabalho do presidente e com a gestão de seu governo. Paira no ar a sensação de certa incompletude de entregas do governo, de certo fosso na agenda acordada do presidente com a população, de certa dissonância cognitiva entre o representante eleito e seus representados.
O fato é que Lula chega ao ano que se inicia com notória diluição do seu capital político e eleitoral transportado da eleição de 2022. Mais ainda: as projeções estatísticas derivadas das pesquisas indicam que o hiato numérico desfavorável advindo das manifestações da sociedade sobre o desempenho do governo tende a se ampliar.
Claro que essa tendência pode ser revertida até o final do mandato, mas é pouco provável que isso ocorra de forma significativa, diante dos atuais obstáculos políticos de governabilidade, dos prospectos negativos da economia e das turbulências do ano eleitoral de 2026.