Mais de 48 horas após um apagão atingir bairros do centro de São Paulo, moradores relatam que ainda estão sem energia na manhã desta quarta-feira (20). A Enel, concessionária responsável pelo abastecimento da cidade, diz que restabeleceu a luz para todos os moradores atingidos, mas que reparos na rede elétrica subterrânea causaram novos impactos.

Diversos bairros da região central — como Bela Vista, Santa Cecília, Liberdade, Higienópolis, Vila Buarque e Consolação — foram atingidos na manhã de segunda-feira (18) por um apagão. A interrupção no fornecimento de energia elétrica afetou inclusive o funcionamento de hospitais da área, como o Santa Isabel e a Santa Casa.

Na manhã desta quarta (20), a Enel disse que tinha restabelecido a energia para todos os afetados pelo apagão de segunda. Porém, moradores da região informaram que seguem ou com a energia funcionando de forma parcial ou sem luz nenhuma.

Em um prédio residencial da Rua Fortunato, na Vila Buarque, a energia foi interrompida na segunda de manhã e voltou no mesmo dia à noite, porém de forma muito fraca. Em conversa com a CNN, o aposentado Jairo Damaceno, de 66 anos, contou que os moradores passaram toda esta terça-feira (19) sem água, porque como a luz voltou numa fase fraca, a bomba de água não funciona.

Segundo outros relatos de moradores do mesmo prédio, a volta parcial da luz fez com que algumas pessoas tivessem que, por exemplo, levar a geladeira da cozinha para a sala, pois a energia só funciona em alguns comôdos. O uso de eletrodomésticos que demandam força elétrica maior, como máquina de lavar e chuveiro, estão impedidos.

“Nunca vi faltar luz três dias, é um colapso. Nós ficamos reféns”, afirmou o aposentado. Segundo o morador, outros prédios da mesma rua também enfrentam o problema.

Um morador da rua Bela Cinta, na Bela Vista, disse que foi afetado pelo apagão da segunda, mas a energia voltou no mesmo dia. Porém, na manhã desta quarta (20), a luz acabou completamente de novo. Segundo ele, em contato com a Enel, não foi informada uma previsão de retorno.

A CNN questionou a Enel diversas vezes sobre o número de pessoas que ainda estão sem energia, mas não houve retorno.

A empresa se limitou a dizer que normalizou ontem à noite o fornecimento de energia para todos os clientes que tiveram o serviço afetado na segunda-feira, e que a companhia segue trabalhando no local para atender alguns clientes que tiveram o fornecimento impactado ao longo do dia de ontem durante os trabalhos para reparo e reconfiguração da rede elétrica subterrânea que atende a região.

“A empresa está realizando os últimos testes e seguirá disponibilizando geradores para atender alguns clientes, enquanto finaliza os reparos associados a esse trabalho de reconfiguração da rede”, diz a nota.

A Enel também não sabe o que causou o apagão. Num primeiro momento, a empresa disse que o dano foi provocado por uma obra da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Porém, a Sabesp afirmou que mobilizou imediatamente equipes para o local, que não identificaram relação do trabalho da empresa com o ocorrido.

Após a informação da Sabesp, a Enel afirmou que o apagão ocorreu “em função de danos provocados por terceiros na sua rede subterrânea”.

A CNN questionou novamente a empresa sobre os relatos de moradores e aguarda retorno.

Em nota divulgada nesta terça, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que encaminhou um ofício à Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) determinando célere e rígida apuração dos fatos, “bem como responsabilização e punição rigorosa da concessionária, que tem de forma reiterada apresentado problemas na qualidade da prestação dos serviços.”

“A interrupção nesta segunda-feira, se soma a diversas outras falhas na prestação dos serviços de energia elétrica pela concessionária ENEL SP, que tem demonstrado incapacidade de prestação dos serviços de qualidade à população”, conclui a nota.

O Procon-SP também notificou a empresa para que “envie informações detalhadas sobre as diversas interrupções no fornecimento de energia elétrica em diversos pontos da capital paulista, desde a última sexta-feira (15).”