Citricultura abriga mais de 300 espécies da fauna silvestre

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Pesquisa desenvolvida em parceria entre a Embrapa e o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) identificou mais de 300 espécies de animais silvestres no chamado cinturão citrícola brasileiro, que compreende o estado de São Paulo e parte de Minas Gerais (sudoeste e Triângulo Mineiro).

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Foram encontrados, principalmente, aves e mamíferos circulando ou vivendo em ambientes de produção de cinco fazendas produtoras de laranja. O trabalho de investigação científica estimou também cerca de 36 milhões de toneladas de carbono “aprisionadas” nas laranjeiras, no solo e nas áreas de vegetação nativa.

O projeto foi selecionado pelo Fundo de Inovação para Agricultores da empresa Innocent Drinks, do Reino Unido, que investiu recursos no estudo. Esse fundo oferece financiamento para fornecedores em iniciativas voltadas à transição para agricultura de baixo carbono, incremento da biodiversidade e práticas agrícolas justas.

“Hoje, os estímulos às boas práticas agrícolas, o manejo sustentável e a manutenção da cadeia produtiva de citros, com a preservação dos recursos naturais, são práticas essenciais e indispensáveis, não apenas para a fauna, mas ao ecossistema como um todo, favorecendo esta e as próximas gerações. O estudo desmitifica a relação da citricultura e o desmatamento e mostra como fauna e flora caminham juntas”, afirma Antonio Juliano Ayres, gerente-geral do Fundecitrus.

“O trabalho demonstra que existe uma grande riqueza de animais vertebrados silvestres convivendo dentro das propriedades citrícolas. Podemos dizer que a citricultura está promovendo biodiversidade de fauna e convivendo muito bem com ela”, adianta o pesquisador José Roberto Miranda, da Embrapa Territorial (SP).

“A fauna silvestre pode explorar muitas coisas dentro de um sistema agrícola, em especial em um sistema arbóreo, como é o da citricultura, que oferece locais para construir ninhos. Além disso, várias espécies se alimentam de laranjas, sem que isso se torne um prejuízo para o agricultor”, complementa.

O pesquisador pontua ainda que muitos insetos, inclusive os transmissores de doenças para a citricultura, são capturados por aves.

“O avistamento de animais silvestres dentro dos pomares de laranja tem sido cada vez mais frequente”, testemunha o coordenador da PES/Fundecitrus, Vinícius Trombin. Além do ambiente favorável criado pelos pomares, ele credita a presença da fauna às áreas de vegetação nativa nas propriedades.

São quase 160 mil hectares dedicados a esse fim nas propriedades citrícolas, de acordo com levantamento do Fundecitrus, com base nos dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e em metodologia da Embrapa Territorial.

Cinturão citrícola guarda milhões de toneladas de carbono

Além de abrigar a fauna silvestre, o território de 560 mil hectares do cinturão citrícola guarda cerca de 36 milhões de toneladas de carbono “aprisionadas” nas laranjeiras, no solo e nas áreas de vegetação nativa. Esses dados também são resultado do trabalho de pesquisa feito pela Embrapa e o Fundecitrus. 

Para calcular os estoques de carbono nas áreas de produção, os pesquisadores foram a campo, em três fazendas, e avaliaram 80 laranjeiras, das variedades Pera e Valência, com idade a partir de três anos. Elas foram medidas e depois separadas em partes: tronco, galhos, folhas e raízes. Cada parte foi pesada em campo, fresca, e, posteriormente, enviada ao laboratório para secagem e nova pesagem. No laboratório, as amostras foram analisadas para determinar a quantidade de carbono na biomassa.

Além das avaliações das 80 árvores, foram também coletados dados biométricos de aproximadamente 3.500 laranjeiras, espalhadas por milhares de fazendas em todo o cinturão citrícola. Esse levantamento possibilitou a extrapolação dos dados obtidos na amostragem de carbono. Os cálculos matemáticos realizados com base nessas informações apontaram que há 47% de carbono armazenado na biomassa de cada laranjeira do cinturão citrícola.

À frente dessa etapa, o pesquisador Carlos Cesar Ronquim, da Embrapa Territorial, destaca o ineditismo do trabalho. “Conseguimos avaliar uma boa quantidade de plantas adultas e não apenas a parte aérea, mas também as raízes. Isso gerou dados robustos que mostram um acúmulo considerável de carbono em uma cultura lenhosa, que fica no campo por 20 anos ou mais”, conta. “Saber o quanto cada planta e a área de produção citrícola estocam, nas condições brasileiras, é um passo importante também para pensar em outras métricas, como o balanço de carbono”, acrescenta.

Em média, uma laranjeira tem 50 kg de carbono. Esse resultado permitiu extrapolar os dados para o cinturão citrícola como um todo. São 170 milhões de plantas acima de três anos inventariadas pelo Fundecitrus. “Nós chegamos ao valor de 8,2 milhões de toneladas de carbono só nos pomares”, anuncia o pesquisador Lauro Nogueira Júnior, da Embrapa Territorial, líder do projeto.

A estimativa do carbono total estocado no cinturão precisou considerar também o solo, um dos principais reservatórios do planeta. Para fazer esse cálculo, foi utilizado o Mapa de Carbono Orgânico do Solo.

Já o levantamento dos estoques nas áreas de preservação ambiental das fazendas utilizou dados do Inventário Nacional de Gases de Efeito Estufa e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Essas propriedades estão situadas em áreas de Cerrado e de Mata Atlântica. Isso significa que há diferença de biomassa, de estoque de carbono, para essas diferentes situações de vegetação”, explica Nogueira Jr.

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