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Em julho deste ano, participei pela primeira vez do Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Minhas expectativas sobre os debates ambientais no evento eram baixas, mas fiquei positivamente surpresa ao descobrir que a palavra Amazônia foi mencionada 36 vezes na programação.
O evento contou com a presença de grandes nomes do jornalismo amazônico, como Kátia Brasil e Ariene Susui, além de lideranças indígenas como Junior Hekurari e Maurício Ye’kwana, essenciais para a divulgação das denúncias de invasão de terras do povo Yanomami.
Minha surpresa não foi sem razão. Cresci no Tocantins, um estado amazônico pouco mencionado pela grande mídia e que poucos sabem também ser parte da Amazônia.
O jornalismo ambiental é uma área relativamente nova no Brasil. As primeiras reportagens sobre questões ambientais surgiram na década de 1970, mas foi apenas após a ECO-92, há exatos 22 anos, que essas matérias começaram a aparecer com mais frequência na cobertura jornalística.
O aumento na quantidade de reportagens não significou uma melhoria na qualidade. Até pouco tempo, era comum ver indígenas e ativistas ambientais retratados como agressivos, a Amazônia como uma região a ser “ocupada” e as pesquisas e dados da região considerados menos importantes que os embates políticos.
Esse histórico na abordagem resultou em uma população pouco consciente das questões ambientais: um em cada três jovens brasileiros não sabe em que bioma vive, e o jornalismo é um dos grandes responsáveis por isso.
Só a título de curiosidade, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) é maciçamente mais procurado pela imprensa durante a estação seca, em agosto e setembro, quando tem ocorrido os recordes de queimadas na Amazônia. Essa constatação, por si só, expõe a necessidade de uma cobertura ambiental presente em todas as editorias do jornalismo brasileiro, o ano inteiro. A Amazônia não pode ser notícia apenas quando a fumaça das queimadas chega a São Paulo.
No congresso da Abraji, me enchi de esperança. Naquela grande cidade que abriga a maior parte da mídia brasileira, percebi que talvez estejamos diante de uma mudança na cobertura jornalística.
A cobertura ambiental ainda enfrenta muitos desafios, como encontrar informações sobre quem queima e desmata a floresta, acessar territórios com segurança e garantir a presença dos fatos científicos sem afastar o leitor. Uma maior aproximação entre jornalistas, cientistas e comunidades locais pode ajudar a superar esses desafios.
O terceiro setor brasileiro possui uma expertise única sobre a Amazônia e sua relação com as questões climáticas. Aproximar-se daqueles que estudam e preservam os biomas facilita a correlação entre o local e o global, uma das principais estratégias de conscientização sobre a crise climática.
É também no terceiro setor que se discutem estratégias para “adiar o fim do mundo”. Antes de se tornar um mecanismo internacional, o REDD+ (Redução das Emissões do Desmatamento e Degradação Florestal, Conservação e Manejo Sustentável de Florestas e Aumento dos Estoques de Carbono Florestal) foi uma proposta de pesquisadores como Paulo Moutinho, um dos fundadores do IPAM. Além disso, a construção e aplicação de políticas nacionais importantes, como o Código Florestal, são assuntos diários para aqueles que protegem a floresta.
A expansão e aprimoramento do jornalismo ambiental podem impedir o avanço da desinformação climática e ajudar o Brasil a se tornar uma verdadeira potência ambiental. No entanto, há um longo caminho a percorrer, e muitos passos precisam ser dados. Fico feliz que a Abraji esteja disposta a dar alguns deles.