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Vivemos em uma sociedade que aprendeu desde cedo, pela sabedoria popular, que “contra fatos, não há argumentos”. No entanto, também convivemos com um outro ditado popular que diz que “percepção é realidade”. Ou seja, a forma como cada pessoa interpreta e compreende o mundo forma sua realidade.
Embora ambos os ditos populares estejam equivocados em sua plenitude (e quem quiser entender melhor deve estudar filosofia), quando uma pessoa interpreta o que acontece ao seu redor, os fatos se transformam em sua percepção de realidade.
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Essa interpretação tem o poder de transformar suas vidas, ajudando-os a passar por momentos difíceis. O dr. Lair Ribeiro, em sua fase motivacional, já dizia: “À medida que você modifica sua percepção, você modifica a realidade. Porque percepção é realidade, tudo o mais é ilusão”, quando incentivava cada um a construir a sua própria visão de experiência de vida, de modo a alavancar o seu desenvolvimento pessoal ou o seu potencial interior.
O primeiro ditado também traz elementos positivos ao nosso dia a dia. Quando se fala que contra fatos não há argumentos, a frase implica em se preparar analisando fatos para uma tomada de decisão devidamente embasada, fundamental para qualquer objetivo de vida que se queira alcançar.
No entanto, a postura que pode nos ajudar a se desenvolver como pessoa, pode vir a constituir obstáculo ao considerarmos uma comunidade como um todo. Quando discutimos qualquer assunto dentro do âmbito de uma comunidade, argumentos podem ser utilizados para guiar a interpretação de fatos e criar diferentes percepções da realidade.
E uma vez formada uma determinada percepção, temos o que pode ser chamado de senso comum que, a depender sobre como os fatos foram apresentados, tem um grande potencial para criar conflitos que não são produtivos a própria comunidade.
Esse conflito se faz particularmente onipresente em mercados que exigem conhecimento técnico, como é o caso do uso de produtos fitossanitários na agricultura, que iremos tomar como exemplo.
Produtos fitossanitários foram denominados no Brasil, por força de lei, como “agrotóxicos”, palavra composta pelo prefixo “agro” do latim “ager”, que significa “campo” e pelo sufixo “tóxico”, do latim toxicum, “veneno” e, portanto, define tais produtos como “venenos do campo”. Na época em que se discutia a lei, debateu-se a impropriedade do termo, apresentando-se como fatos a denominação destes produtos em outros países com termos mais adequados ao seu propósito final de controle de pragas ou proteção de plantas.
Assim foi com “Pesticides”, adotado em países de língua inglesa e o seu equivalente em língua hispânica “Plaguicidas”, até “Produto fitofarmacêutico”, adotado em alguns países europeus como Portugal, França e Bélgica (Produits phytopharmaceutiques), Grécia (Fytoprostateftikón) e Eslováquia (Fitofarmacevtskih), dentre outros[1].
No entanto, o termo agrotóxico ganhou força não por sua correção vernácula, mas sim por uma questão subjetiva – seus defensores alegavam que ele serviria de alerta quanto à toxicidade desses produtos ao meio ambiente e às pessoas. Ou seja, não bastasse a rotulagem desses produtos a alertar sobre os cuidados a serem tomados, a denominação “Agrotóxico” seria fundamental para educar todos os usuários.
Em resumo – não venceram os fatos e sim a percepção de risco/perigo que estava incutida em nossos legisladores. Afinal, melhor prevenir, do que remediar. Resultado: o Brasil passou a ser o único país a adotar este termo. Com a evolução da ciência, atualmente temos produtos biológicos que, apesar de sua baixa toxicidade e origem natural – incluem extratos de plantas, microrganismos vivos ou inativos e metabólitos secundários, como enzimas e feromônios, também são denominados agrotóxicos.
Outro exemplo de que o senso comum de nossa aversão ao risco interfere em nossa avaliação racional é o que acontece com os alimentos orgânicos, por exemplo, quando comparados com os alimentos oriundos da agricultura convencional.
Para simplificar, a legislação brasileira considera produto orgânico, aquele que é obtido em um sistema orgânico de produção agropecuária, isento de contaminantes em função da não utilização de práticas e insumos que possam pôr em risco o meio ambiente e a saúde do produtor, do trabalhador ou do consumidor.
Ou seja, trata-se tão somente de um sistema de produção em que o agricultor escolhe adotar práticas específicas de condução do cultivo, devidamente normatizadas. Assim como quando esse agricultor escolhe produzir alimentos seguindo práticas de agricultura biodinâmica, familiar, regenerativa, de cultivo mínimo, de rotação ou intercalação de cultivos, dentre outras. Todos têm o direito de implementar as práticas que acreditam serem as mais adequadas a sua realidade.
No entanto, para justificar o preço mais alto dos alimentos orgânicos, a sua propaganda mostra, com frequência, que produtos de origem orgânica são mais nutritivos e saborosos que os de origem convencional, o que é cientificamente provado não ser verdadeiro[2].
Além disso, condenam o fato de produtos de origem na agricultura convencional, apresentarem resíduos de insumos químicos usados em seu manejo. Desta maneira, o agricultor que adota os insumos necessários para garantir que a sua produção, fruto de seu trabalho, chegue ao consumidor final, a um custo mais acessível, fica relegado a um segundo plano.
Para piorar a situação, em nosso subconsciente, produtos mais baratos são de pior qualidade. E o senso comum – barato é de pior qualidade e alimentos convencionais tem resíduos, terminam por se reforçarem mutuamente, em crenças equivocadas, para as quais qualquer fato apresentado não surte efeito algum. Muito pelo contrário, como veremos a seguir.
Os pesquisadores norte-americanos Jason Reifler e Brendan Nyhan, estudam o comportamento das pessoas perante falsas crenças há alguns anos. Em suas pesquisas, eles identificaram que entre as pessoas com convicções fortes e consolidadas, os fatos têm um surpreendente baixo valor quando divergem dessas crenças e opiniões mais arraigadas. E o que é pior, concluíram que os novos fatos apresentados somente as faziam refletir sobre argumentos favoráveis à sua própria convicção.[3,4]
Portanto, em discussões sobre temas que envolvem diferentes percepções de realidade, como exemplificado acima, o foco exclusivo em fatos pode não ser o caminho mais eficaz para resolver conflitos ou influenciar decisões. Quando se trata de confrontar crenças profundamente enraizadas, a mera apresentação de dados e informações objetivas muitas vezes reforça a resistência da outra parte, em vez de promover um entendimento mútuo.
Por isso, é essencial que profissionais que lidam com conflitos, como advogados, negociadores ou líderes, deem mais atenção à forma como a outra parte enxerga o problema em questão. Isso implica reconhecer e respeitar suas percepções, em vez de insistir exclusivamente em provar que estão “certos” ou “errados” por meio de evidências. Até mesmo porque a verdade acaba sendo uma questão subjetiva e plenamente possível de ser validada a partir do momento em que você consegue justificar o que se pretende.
Agora, quando a percepção da outra parte é validada, cria-se um ambiente de diálogo mais aberto, onde o outro se sente ouvido e respeitado. Escuta ativa e respeito são elementos essenciais em uma sociedade civilizada que busca o progresso. Negociações pautadas nestes princípios são prósperas e equilibradas, privilegiam a estabilidade, possuem visão progressista e fomentam um ambiente de negócios próspero para os setores e as pessoas.
Essa abordagem, focada na empatia e na compreensão da realidade subjetiva de cada um, pode desarmar resistências e abrir espaço para soluções mais colaborativas. Em vez de insistir em “vencer” uma discussão com argumentos técnicos ou factuais, o profissional jurídico pode buscar formas de integrar diferentes perspectivas e construir uma solução que atenda aos interesses de ambos os lados. Isso não só facilita a resolução do conflito, como também contribui para um resultado mais duradouro e satisfatório para todas as partes envolvidas.
[1] Almeida, Sergio L. “A nota de 200, agrotóxicos e o sexo dos anjos”. Linkedin. https://www.linkedin.com/pulse/nota-de-200-agrot%25C3%25B3xicos-e-o-sexo-dos-anjos-sergio-luiz-de-almeida/?trackingId=XvwGGAS7SAGUn%2BMSKJ8pAw%3D%3D. Acesso em 28/08/2024.
[2] Vital, Nicholas. Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo. 1ª edição. Ed. Record, 2017.
[3] Idoeta, Paula A. “Por que nem sempre adianta apresentar fatos contra notícias falsas”. BBC News. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-44686833#:~:text=Pesquisador%20de%20universidade%20brit%C3%A2nica%20que%20estuda. Acesso em 28/09/2024
[4] Nyhan, Brendan, and Jason Reifler. “When Corrections Fail: The Persistence of Political Misperceptions.” Political Behavior, vol. 32, no. 2, 2010, pp. 303–30. JSTOR, http://www.jstor.org/stable/40587320. Acesso em 3/10/2024.