Correios anunciam fechamento de 44 agências no país; sindicalistas lutam para reverter quadro

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Os Correios anunciaram, na última terça-feira (3), o fechamento de 44 agências CEM (Correios Empresa) em todo o país, com encerramento das atividades programado para janeiro de 2025. A informação foi confirmada ao portal Mais Brasília (MB) pelo Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios, Telégrafos e Similares do Rio de Janeiro (SINTECT-RJ).

As agências CEM são especializadas no atendimento a grandes empresas, responsáveis por contratos de alto valor que, de acordo com os funcionários da estatal, são fundamentais para a sustentabilidade financeira da estatal.

A decisão, justificada pela Presidência da estatal aos servidores foi a suposta baixa rentabilidade das unidades, duramente criticada pelo SINTECT-RJ, que alerta para o impacto negativo na empresa e o favorecimento das agências franqueadas. Somente no Rio de Janeiro, 5 agências serão fechadas.

Sob a gestão de Fabiano da Silva Santos, os Correios enfrentam dois anos consecutivos de prejuízos, totalizando quase R$ 2 bilhões.

Para o SINTECT-RJ, o fechamento das agências CEM aprofunda ainda mais a crise financeira da estatal. De acordo com o sindicato, a decisão enfraquece ainda mais a capacidade de os Correios de competirem no setor, especialmente na captação de grandes clientes. Isto porque, conforme o SINTECT-RJ, com o fechamento das agências CEM, a estatal perde contratos estratégicos e, consequentemente, receitas fundamentais para sua sustentabilidade financeira.

“Fechar essas unidades, que são responsáveis por captar grandes contratos, é uma medida equivocada. Isso vai retirar importantes receitas dos Correios, enquanto as agências franqueadas se expandem no mercado sem enfrentar a concorrência que os Correios poderiam oferecer, afirma o presidente do sindicato, Marcos Sant’aguida.

E argumenta: “Em vez de fechar as agências CEM, a estatal deveria investir em melhorias e ampliar sua presença no mercado empresarial. Defendemos sim é o fechamento das agências piratas, que atuam de forma clandestina, muitas vezes utilizando a estrutura dos Correios e até mesmo plagiando ilegalmente sua logomarca.”

“A atual gestão dos Correios está facilitando o avanço de franqueadas e deixando a estatal cada vez mais vulnerável. É um erro estratégico que coloca em risco o serviço postal que a população precisa, critica Sant’aguida.

O sindicato do Rio de Janeiro também está desenvolvendo uma campanha de sensibilização da sociedade sobre os riscos dessa decisão.

Durante a produção dessa reportagem, o portal MB teve acesso a prints de diálogos em que representantes das ‘agência piratas’, citadas pelo sindicalista, chegaram a entrar em contato com uma cliente antiga dos Correios, de uma das agências de será fechada e encerrará as atividades em janeiro de 2025, oferecendo-se para realizar os serviços que hoje a estatal presta. ‘Agências piratas’, assim apelidadas pelos próprios funcionários dos Correios dentro da estatal, são as integradoras, empresas privadas que utilizam-se de toda a logística dos Correios.

Na mensagem, o representante diz:

“Hoje a senhora é atendida pela agência da Hermes da Fonseca, porém, foi publicado que a mesma irá encerrar os atendimentos até dezembro. Estou entrando em contato para nos colocarmos a disposição para atender a empresa da senhora. Dispomos de veículos e motocicletas e atendemos cerca de 300 clientes aqui em Natal e grande Natal. Podemos agendar uma visita presencial para explicarmos? Nos colocamos a disposição para realizar diárias (quantas forem necessário) e realizar todo suporte em relação aos envios. Fazemos um serviço de acompanhamento até a entrega da encomenda. Se necessário: atuamos com intervenções no Brasil inteiro para que a encomenda seja entregue o quanto antes”.

 

A política das integradoras começou no governo Bolsonaro, ainda com poucas lojas no país, cerca uma dúzia, e ganhou corpo e forma no atual governo, com mais de mil lojas. Sobre a política dos Correios com as atuais integradoras, já existe um inquérito aberto na Polícia Federal (PF), no Distrito Federal, desde janeiro de 2024, de número 1019603-22.2024.4.01.3400.

Em julho deste ano, exato dia 11 de julho (quinta-feira), a Presidência dos Correios mudou a política com as integradoras. No Primeira Hora, publicação oficial dos Correios, a Presidência da estatal comunicou aos funcionários a nova política da estatal para com as integradoras.

À época, o portal MB veiculou o caso com exclusividade. E, como de praxe, à época, para produzir a reportagem, a redação do MB também demandou a assessoria de imprensa da empresa, sem sucesso.

No informativo daquele dia, 11/7, a atual gestão dos Correios, que comanda a estatal desde o final de janeiro de 2023, culpa o governo passado, do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Os Correios não explicaram, porém, porquê demorou-se tantos meses para definir quaisquer mudanças e/ou porque a estatal se posicionou, durante tanto tempo, a favor das integradoras. Durante todo este tempo inclusive há entrevistas de Fabiano [atual presidente dos Correios] na imprensa, com o gestor pontuando que essas integradoras seriam parceiras dos Correios, com foto em que ele aparece junto aos proprietários de integradoras, proprietários estes que encontram-se como denunciados e partes no inquérito da PF.

 

REVERTER FECHAMENTO

Nessa última segunda-feira (7), a Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (FINDECT), que representa cinco sindicatos filiados – Bauru e região, São Paulo, Grande São Paulo e Zona Postal de Sorocaba; Tocantins; Rio de Janeiro e Maranhão – encaminhou um ofício à presidência dos Correios, de nº 467/2024, com objetivo de tentar reverter a situação.

O documento endereçado a Fabiano diz:

“A FINDECT vem por meio deste ofício manifestar sua profunda preocupação e indignação em relação à decisão da ECT de fechar 44 agências CEM (Correios Empresa) em todo o Brasil, com encerramento das atividades previsto para janeiro de 2025.” E continua: “Entendemos que as agências CEM desempenham um papel estratégico fundamental na captação e manutenção de grandes contratos empresariais, que são cruciais para a sustentabilidade financeira dos Correios. Tais contratos não apenas reforçam a posição dos Correios como uma empresa pública competitiva, mas também garantem uma importante fonte de receitas para a estatal. Nesse sentido, o fechamento dessas unidades enfraquece a capacidade dos Correios de competir no mercado, favorecendo diretamente as agências franqueadas, que se expandem sem enfrentar a concorrência adequada da empresa pública.”

O ofício ainda narra os prejuízos que a estatal vem enfrentando nestes dois últimos anos (2023, 2024), que já totalizam quase R$ 2 bilhões.

Para além de tentar reverter o quadro atual da decisão do fechamento das agências e de críticas quanto à gestão, no texto, a federação ainda adianta que “encontra-se a disposição para dialogar e contribuir com sugestões que visem ao fortalecimento da empresa, assegurando sua sustentabilidade financeira e sua capacidade de continuar prestando um serviço público de qualidade à sociedade.”

Ainda durante a produção dessa reportagem, o portal MB demandou a assessoria de imprensa da estatal, sem sucesso. O portal MB encontra-se, como sempre, à disposição da assessoria, das diretorias e/ou da presidência dos Correios para esclarecimento do caso.

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