No mundo atual, a percepção das dificuldades não pode mais se dissociar do remanejamento dos quadros funcionais.
Pensando mais a longo prazo, a percepção das dificuldades possibilita uma melhor visão global dos métodos utilizados na avaliação de resultados.

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Assim mesmo, a complexidade dos estudos efetuados ainda não demonstrou convincentemente que vai participar na mudança dos métodos utilizados na avaliação de resultados.

DeepSeek: a baleia que está desafiando os gigantes

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A inteligência artificial tem sido dominada por um seleto grupo de empresas ocidentais, como OpenAI, Google DeepMind e Anthropic. No entanto, o surgimento da DeepSeek está mudando essa realidade. Fundada em julho de 2023, a startup chinesa rapidamente se consolidou como um dos principais players no setor de IA, desafiando gigantes e oferecendo um modelo alternativo altamente eficiente.

O modelo de IA DeepSeek R1 oferece um desempenho comparável ao ChatGPT-o1 da OpenAI, mas com um custo significativamente menor. A capacidade do DeepSeek de operar com menos recursos computacionais e a escolha pelo código aberto tornam essa IA uma alternativa viável para desenvolvedores e pesquisadores ao redor do mundo.

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Diferenciais técnicos: eficiência, código aberto e acessibilidade

A grande revolução do DeepSeek-R1 está em sua abordagem inovadora de treinamento. Enquanto modelos tradicionais, como os da OpenAI e Google DeepMind, dependem amplamente de supervisão humana e de conjuntos de dados rotulados para aprendizado, a DeepSeek seguiu um caminho distinto: o aprendizado por reforço (Reinforcement Learning), um método que permite que o modelo aprenda com suas próprias interações e se aperfeiçoe de maneira autônoma​.

Essa abordagem foi implementada por meio do DeepSeek R1-Zero, um precursor do R1 que foi treinado exclusivamente com aprendizado por reforço, sem qualquer refinamento inicial com dados supervisionados. O resultado não poderia ter sido melhor: o modelo aprendeu a raciocinar de forma independente, desenvolvendo padrões lógicos e soluções complexas sem precisar de humanos para rotular suas respostas.

Isso contradiz a tese de que habilidades avançadas de raciocínio surgem apenas em modelos de grande escala, demonstrando que uma arquitetura eficiente pode mitigar limitações computacionais.

O diferencial do DeepSeek-R1 não está apenas no uso de RL, mas na maneira estruturada e progressiva com que essa técnica foi aplicada. O treinamento começou com um modelo-base (DeepSeek-V3) e passou por múltiplos estágios de refinamento, incluindo:

  1. Treinamento inicial sem supervisão: o DeepSeek-R1-Zero foi exposto a uma ampla variedade de problemas matemáticos e lógicos, incentivado a buscar soluções e corrigir seus próprios erros sem interferência externa;
  2. Refinamento com aprendizado por reforço: o modelo foi ajustado com um sistema de recompensas, que priorizava respostas mais coerentes e detalhadas. Essa etapa permitiu que o modelo aprimorasse sua estrutura de raciocínio sem precisar de rótulos explícitos; e
  3. Correções com amostragem de rejeição e ajuste supervisionado: apenas após as etapas iniciais, foram adicionados pequenos conjuntos de dados rotulados para guiar o modelo a evitar respostas inconsistentes e aprimorar a legibilidade dos textos gerados.

Essa combinação de técnicas permitiu que o DeepSeek-R1 alcançasse um nível de raciocínio comparável ao do ChatGPT-o1 da OpenAI, mas utilizando uma quantidade significativamente menor de poder computacional. Esse feito ficou evidente nos testes matemáticos do MATH-500, nos quais o modelo atingiu 97,3% de precisão, e nos desafios de programação da plataforma Codeforces, onde superou 96% dos competidores humanos​.

Essa eficiência tem implicações significativas para a escalabilidade e acessibilidade da IA. Modelos convencionais como o GPT-4o da OpenAI exigem uma infraestrutura massiva, composta por milhares de GPUs especializadas e caras, tornando seu uso restrito a grandes corporações e laboratórios de pesquisa. O DeepSeek-R1, por outro lado, foi projetado para operar de forma eficiente mesmo em máquinas menos potentes, o que significa que pode ser executado localmente, sem necessidade de conexão constante com servidores.

Essa flexibilidade operacional traz vantagens significativas para empresas, governos e pesquisadores que desejam usar IA avançada sem depender de serviços de nuvem. Com o DeepSeek-R1, organizações podem rodar modelos diretamente em seus próprios servidores ou até mesmo em laptops de alto desempenho, garantindo maior privacidade e controle sobre os dados processados. 

Contudo, modelos de código aberto podem facilitar o uso indevido da IA, pois não há um controle rígido sobre como a tecnologia será empregada. Além disso, há preocupações com segurança cibernética, pois qualquer entidade – incluindo governos, empresas ou agentes mal-intencionados – pode modificar e ajustar o modelo para finalidades específicas, como desinformação ou espionagem digital.

A resposta às sanções tecnológicas

A ascensão da DeepSeek não pode ser analisada apenas pelo prisma técnico. Ela ocorre em um momento de tensão crescente entre Estados Unidos e China, especialmente no setor de inteligência artificial. As sanções impostas pelos EUA para restringir a venda de chips avançados à China buscavam limitar o avanço da IA no país asiático, mas a resposta chinesa veio na forma de inovação eficiente.

A DeepSeek encontrou maneiras de contornar as restrições de hardware, otimizando seu modelo para rodar com menos poder computacional e utilizando chips Nvidia A100 adquiridos antes das sanções. Essa estratégia mostrou que a corrida pela IA não será vencida apenas pelo acesso a mais hardware, mas sim pela inteligência no uso dos recursos disponíveis.

Em paralelo, os Estados Unidos também estão reforçando sua posição estratégica. O governo de Donald Trump anunciou recentemente o projeto Stargate, uma parceria com OpenAI, Oracle e SoftBank, que visa criar uma infraestrutura massiva para dominar o setor de inteligência artificial​. Com um orçamento inicial de US$ 100 bilhões, podendo chegar a US$ 500 bilhões, esse movimento representa uma tentativa de centralizar a tecnologia nas mãos de um pequeno grupo de empresas e governos.

Fato é que o avanço da IA não é isento de riscos. Um dos principais receios da comunidade internacional está no potencial de espionagem e manipulação da informação. Como a DeepSeek é um modelo de código aberto, qualquer pessoa ou organização pode adaptá-lo para suas próprias necessidades. Isso pode ser benéfico para inovação, mas também pode facilitar o uso da IA para desinformação e ataques cibernéticos​.

Por outro lado, o modelo centralizado defendido pelos Estados Unidos também tem suas armadilhas. A aliança entre o governo e gigantes da tecnologia pode resultar em um monopólio da IA, onde um grupo seleto de empresas determina quem pode ou não acessar as ferramentas mais avançadas. Isso pode levar a um cenário em que o poder computacional se torna um privilégio de poucos, aumentando a desigualdade tecnológica – e econômica – entre nações e corporações.

No campo da privacidade, há ainda o risco do uso indiscriminado de IA para vigilância em massa. Modelos como o DeepSeek-R1, quando combinados com ferramentas de reconhecimento facial e monitoramento de redes sociais, podem ser utilizados por governos para rastrear dissidentes políticos e controlar populações. Em regimes autoritários, essa tecnologia pode se tornar uma arma contra a liberdade de expressão.

Além disso, há a preocupação com a militarização da IA. Grandes potências já demonstraram interesse em usar modelos avançados para operações militares, guerra cibernética e automação de sistemas de defesa. O próprio projeto Stargate dos EUA pode ser um indício de que a IA será cada vez mais integrada a operações estratégicas globais.

Quem vencerá essa corrida?

O DeepSeek-R1, sem dúvida, representa um avanço notável na inteligência artificial, provando que eficiência pode ser tão poderosa quanto acesso a grandes infraestruturas computacionais. Seu desenvolvimento desafia o status quo e mostra que a inovação pode surgir até mesmo em contextos de restrição.

No entanto, o cenário atual demonstra que a corrida pela IA não será apenas uma disputa técnica, mas também um embate político e geopolítico. De um lado, temos a China adotando uma abordagem mais descentralizada e eficiente. Do outro, os Estados Unidos tentam centralizar a IA em torno de seus interesses estratégicos.

O grande desafio será encontrar um equilíbrio entre inovação e controle, garantindo que a IA continue sendo um instrumento de progresso e não uma ferramenta de dominação tecnológica. Se não forem estabelecidas regras claras de governança e transparência, corremos o risco de ver a inteligência artificial se tornar não apenas um avanço para a humanidade, mas também uma das maiores ameaças do século 21.

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