Em busca de uma mensagem: PT testa discursos diferentes na reta final nas capitais

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Empatado em Fortaleza e com alguma chance de surpreender em Cuiabá e Natal, o PT pode sair do segundo turno, domingo, com três capitais ou continuar sem nenhuma. O resultado final mostrará qual o efeito dos discursos diferentes, e até opostos, adotados pelos candidatos petistas. E pode apontar um rumo para os próximos passos do partido.

Enquanto candidatos de direita, em diferentes graus, tiveram na crítica a impostos, nas pautas de costumes e no empreendedorismo temas que mobilizam eleitores em cidades de todo o país, a esquerda testou mensagens em cada lugar. Na prática, um tipo de teste A/B, modulado pela força da direita e pela característica dos adversários.

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É uma inversão em relação aos tempos em que o “jeito petista de governar” era o atrativo comum de um partido em ascensão: orçamento participativo, IPTU progressivo e combate à corrupção.

Os anos no poder federal, que deram ao PT a grande bandeira dos programas sociais, diluíram os outros temas e jogaram a corrupção para a coluna de pontos fracos na percepção dos eleitores. Mais dependente de um só líder e de conquistas sociais já institucionalizadas, o PT encara a falta de um mote nestas eleições e um eleitor com demandas diferentes daquelas de anos atrás. A votação do primeiro turno mostrou desgaste da transferência de voto dos beneficiários das bolsas e as pesquisas guiam quando vale se associar a Lula.

Para o petista Lúdio Cabral, em Cuiabá, não vale. Ele é o caso mais extremo de uma campanha inconcebível para um candidato do partido na década passada. Da cor branca ao destaque para a fé e a crítica ao aborto e à legalização das drogas, o deputado estadual se adapta o máximo possível a bandeiras levantadas pela direita nas últimas eleições e ganha espaço ao centro. Contra um bolsonarista dos mais estridentes, tenta vencer como a voz da moderação e da gestão, jogando para o adversário a pecha de extremista.

Em Fortaleza, Evandro Leitão também tenta pregar o selo de ultradireita no bolsonarista André Fernandes, mantendo-se mais para a esquerda. Recém-chegado ao PT e tendo se imposto à pré-candidatura da ex-prefeita Luizianne Lins, mais progressista, ele mostra Lula com moderação, em uma cidade vencida pelo presidente em 2022. Liga-se mais ao ministro Camilo Santana, o político mais popular do estado. Se acena à direita ao propor pelotões da Guarda Municipal nos bairros e se apresentar como cristão, o centro de sua campanha são promessas para os mais pobres, como uma bolsa para estudantes.

Duas campanhas vitoriosas no primeiro turno jogaram recuadas. As prefeitas petistas reeleitas de Contagem e Juiz de Fora focaram em temas locais e nas conquistas de duas gestões bem avaliadas, sem destaque para temas que marcaram a trajetória das duas, ex-líderes sindicais.

A deputada petista Maria do Rosário tentou o mesmo em Porto Alegre, sem sucesso. Identificada com a defesa dos direitos humanos, ela se tornou desde 2018 alvo frequente da direita, por choques passados com Bolsonaro sobre a dignidade do tratamento de presos. Chamada de defensora de estupradores, ela tentou de tudo para mudar a imagem: usou branco, adotou apenas o nome Maria, votou contra as saidinhas. E nada adiantou para reverter uma derrota anunciada, mesmo contra um prefeito criticado pelo papel na enchente deste ano. É um sinal de que há limites para mudar a mensagem sem mudar o mensageiro. E, por fim, a carta do bolsonarismo pouco colou em Sebastião Melo (MDB), um político tradicional da centro-direita que se aliou taticamente ao ex-presidente.

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A deputada federal, Natália Bonavides, que em outras campanhas se apresentou como feminista, ativista dos direitos humanos e advogada do MST, não abjurou o passado e nem o vermelho, mas mudou a ênfase. Colou-se em Lula como nenhum outro candidato, mas falou do presidente, popular em Natal, mais como uma possível fonte de recursos. Já João Campos (PSB), o popular prefeito de Recife, foi mostrado por ela como exemplo de gestão jovem e dinâmica. Natália ainda fala de pautas sobre mulheres e defesa de projetos da cultura, mas também de bases móveis da Guarda Municipal e apela à periferia com propostas de integração das passagens de ônibus, em busca de um novo tom de vermelho.

Ainda que fora do PT, Guilherme Boulos (PSOL) foi o candidato com apoio mais explícito do presidente. E, se não hesitou em se colar a Lula, tampouco construiu uma marca clara. No primeiro turno, amenizou a própria imagem, no tom de voz, nos sorrisos, e priorizou propostas para a periferia, associadas à vice, Marta Suplicy. Acabou sem crescer nas áreas populares e, impactado pela força de Pablo Marçal (PRTB), veio com propostas para o empreendedorismo no segundo turno. Sem convicção: trata os empreendedores como precarizados que precisam de uma mão do Estado, longe da mensagem de potência individual do ex-coach. E, para polarizar com Ricardo Nunes (MDB) e pintar o prefeito como bolsonarista, acabou desfazendo parte da suavização que cultivou por meses, o que acabou aumentando a sua rejeição a níveis impeditivos de vitória.

Para Boulos, há uma disputa dentro da disputa: superar a marca de quatro anos atrás, quando conquistou 2,16 milhões de votos (41%). Mas o principal desafio vai além dos números; é a chance de se consolidar como um candidato pragmático e viável para futuras disputas.

Já para o PT, analisar os sucessos e os fracassos das abordagens diferentes será fundamental para encontrar uma forma de se comunicar com os eleitores daqui para frente. Porque se trata não só de uma questão de comunicação, de oferta, mas de demandas da população, cada vez mais distantes do que é tradicionalmente oferecido pelo partido. Confrontado com o resultado, em votos, será mais difícil apelar a novas racionalizações.

E absorver lições de eventuais campanhas vitoriosas pode livrar o partido do risco de, usando todas as mensagens ao mesmo tempo, não ser identificado com nenhuma.

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