Em meio ao debate da PEC do Plasma, Hemobrás inaugura nova fábrica para abastecer o SUS

Spread the love

A Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) inaugurou, na tarde desta quinta-feira (4/4), a nova fábrica de Fator VIII Recombinante (Hemo-8r), o medicamento indicado para tratamento da hemofilia do tipo A, no Complexo Fabril, em Goiana (PE). De acordo com a Hemobrás, a capacidade produtiva da fábrica será de 1,2 bilhão de unidades internacionais (UIs) do medicamento por ano.

O anúncio da inauguração foi feito pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, durante uma entrevista coletiva de imprensa com jornalistas em Recife, capital pernambucana, um dia antes (3/4). O novo complexo fabril conclui o Projeto Buriti, correspondente à produção e implantação do Hemo-8r.

A previsão é que o Fator VIII Recombinante chegue ao Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de setembro deste ano, devendo antes passar por um processo de qualificação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para que sejam distribuídos 100% ao SUS até o final de 2025.

Segundo a ministra, a doença atinge hoje cerca de 12 mil pessoas no Brasil. Para ela, a produção nacional terá um impacto ”enorme” na vida das pessoas com hemofilia, que sofrem em função de traumatismos e hemorragias. ”Agora, elas [as pessoas] vão ter a garantia de uma autonomia dessa produção a partir desse trabalho da Hemobrás”, afirmou Trindade.

PEC do Plasma e fortalecimento da Hemobrás

A inauguração da nova fábrica ocorre em meio a discussões sobre a PEC do Plasma, a proposta que permite a comercialização de plasma humano e abre possibilidade para participação da iniciativa privada, em tramitação no Congresso Nacional.  A discussão está paralisada no Senado.

Tanto o Ministério da Saúde quanto a própria Hemobrás e outras entidades da área da saúde se posicionaram contra a comercialização do plasma sanguíneo.

Os parlamentares favoráveis à PEC do Plasma, como a senadora e relatora da proposta na CCJ do Senado, Daniella Ribeiro (PSD-PB), defendem a aprovação do tema sob o argumento de que ”apesar de investimentos robustos na Hemobrás, ainda não é possível produzir no Brasil a quantidade necessária de medicamentos para os usuários do SUS”.

No evento desta quinta-feira que marcou a inauguração do novo complexo fabril, Trindade reforçou a estratégia de defesa que a Hemobrás possui e a importância da inauguração da nova fábrica para diminuir a dependência externa brasileira e a nova possibilidade de produção nacional dos medicamentos.

Ela considera que a nova fábrica possui uma importância estratégica para que o país não seja tão dependente de produtos que ”são especiais em várias situações de problemas de saúde, desde doenças raras [como é o caso hemofilia], a problemas de queimaduras”.

A ministra ainda ressaltou que, do ponto de vista econômico, essa nova fábrica representa uma nova autonomia frente aos medicamentos essenciais, o domínio de tecnologias e capacidade de novas, bem como a redução de custos. ”Quem detém essa tecnologia tem uma vantagem muito grande do ponto de vista não só de mercado, mas de uma competência científica que vai também poder alimentar outros produtos”, declarou.

A ministra também aproveitou a ocasião para reforçar o seu posicionamento contrário à PEC do Plasma. ”Só 5 países detêm a tecnologia que agora o Brasil deterá. Então, é um dia para celebrarmos uma etapa tão importante em defesa da vida, da ciência e da tecnologia, na ideia de que sangue não é mercadoria e está na origem desse processo desde a Constituição de 1988. Reafirmamos essa ideia hoje”, declarou.

Além da ministra, estiveram presentes na inauguração o presidente da Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a governadora do estado de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), da presidente da Hemobrás, Ana Paula Menezes, entre outras autoridades dos governos federal e estadual.

Em seu discurso, o presidente Lula reforçou a importância da inauguração da nova fábrica para o país, com esta representando uma ”resposta concreta” para a estratégia do desenvolvimento econômico do Brasil. ”Nosso objetivo é expandir a produção nacional de itens prioritários para o SUS, além de reduzir a nossa dependência de insumos, medicamentos, vacinas e outros produtos estrangeiros da saúde”, afirmou.

O que é a Hemobrás

A Hemobrás é uma estatal com 100% do Capital Social pertencente ao governo federal. É também uma empresa pública da administração indireta, vinculada ao Ministério da Saúde, que tem como função social garantir aos pacientes do SUS o fornecimento de medicamentos derivados do sangue e/ou obtidos por meio de engenharia genética, com produção nacional.

No ramo de indústria farmacêutica, a Hemobrás trabalha para reduzir a dependência externa do Brasil no setor de derivados do sangue e biofármacos, ampliando o acesso da população a medicamentos essenciais à vida de milhares de pessoas com hemofilia, além de pacientes de imunodeficiências primárias ou erros inatos do sistema imune, queimaduras graves, Aids, câncer, entre outras doenças.

Os medicamentos a serem produzidos pela Hemobrás são destinados ao tratamento de uma ampla gama de doenças e apresentam preço de aquisição elevado devido às condições e à estrutura de mercado existente.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *