G20: as visões do braço empresarial para IA, transição energética e futuro do trabalho

Spread the love

O B20, braço empresarial do G20 que conta com a participação de mais de 1.200 empresas de mais de 40 países, divulgou recomendações para cinco grandes áreas durante o B20 Summit, que ocorreu nos dias 24 e 25/10, em São Paulo, por ocasião da presidência brasileira do grupo das vinte maiores economias mundiais. 

Além das recomendações, o grupo elaborou ações para atingir os objetivos propostos, bem como indicadores de desempenho para medir o progresso nas questões. As recomendações foram entregues ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no final de agosto, e muitas delas foram incorporadas nas declarações finais dos grupos de trabalho do G20. Ao todo, são 24 recomendações, que podem inspirar novas regulações e ações governamentais, dentro das seguintes áreas: comércio e investimento, emprego e educação, transição energética e clima, transformação digital e mulheres, diversidade e inclusão.

“São propostas acionáveis e mensuráveis, com indicadores projetados para mensurar o impacto real das medidas propostas para gerar mudanças duradouras. Esse é o programa de legado do B20 Brasil, ao tentarmos garantir que o impacto vá além do curto prazo”, disse Dan Ioschpe, chair do B20 e presidente do Conselho de Administração da Iochpe-Maxion, multinacional brasileira que produz rodas automotivas, durante o primeiro dia de evento. 

“As recomendações do B20 sobre comércio e investimento convergem perfeitamente com o G20”, disse Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, que participou do segundo dia de evento e também recebeu as recomendações do B20. Alckmin também citou que medidas regulatórias para a transição verde são prioridades. “O setor empresarial pode liderar na inovação e implementação de soluções sustentáveis”. 

“Gostaria que a gente saísse desse B20 sem o mundo das teorias e diagnósticos”, disse Luiza Trajano, presidente do conselho de diretores do Magazine Luiza, que participou de mesa no primeiro dia de evento. “Gostaria do mundo de fazer acontecer, sabemos o que tem que ser feito, e só a união entre governo, empresas e sociedade vai trazer mudança, mas não ainda conseguimos isso”. 

Comércio e investimento

Para a área, o B20 recomenda a reforma do Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) da Organização Mundial do Comércio (OMC) até 2026, de forma a garantir maior participação do setor privado e das pequenas e médias empresas, com meta de que esse segmento aumente sua participação no comércio global em 20% até 2026. A reforma de órgãos multilaterais é uma das pautas prioritárias escolhidas pelo Brasil durante a sua presidência, uma agenda historicamente cara ao presidente Lula. “A OMC precisa funcionar para todas as economias”, disse Alckmin. “Mas alguns ainda dependem ainda mais dela”. 

Assine gratuitamente a newsletter Últimas Notícias do JOTA e receba as principais notícias jurídicas e políticas do dia no seu email

O grupo de empresários também indicou o incentivo de parcerias para soluções de rastreabilidade e certificação ambiental até 2025 como prioridade, com a elaboração de metodologias de contabilidade de carbono até 2026, um ponto de ainda considerável dissenso internacional que barra avanços no mercado global de carbono. O B20 propõe como meta que o Investimento Direto Estrangeiro (IDE) alcance 95% de conformidade com práticas sustentáveis até 2026.

Emprego e educação

Com vista nos impactos tecnológicos no mundo do trabalho, o B20 selecionou a atualização de currículos educacionais para incluir habilidades digitais e sustentáveis, com parcerias empresariais, até 2025, com foco em competências para IA, energias renováveis e STREAM (Ciências, Tecnologia, Leitura, Engenharia, Artes e Matemática). Para isso, um dos indicadores é alcançar 84,7% dos professores com formação mínima em competências digitais até 2028.

A outra prioridade, em requalificação Digital e Verde, prevê programas de requalificação implementados até 2026 para jovens e grupos sub-representados, com meta de participação de 25% da força de trabalho global até 2028. Para isso, propõe que 50% das empresas participantes do B20 tenham programas de requalificação até 2026. 

Além da transformação tecnológica e verde, a força de trabalho brasileira também está vivendo uma revolução geracional, disse Fausto Augusto Júnior, presidente do Conselho Nacional do Sesi (SESI) no primeiro dia de evento. “A pirâmide etária está mudando e precisamos olhar com bastante atenção o lifelong learning, o ambiente produto também precisa ser alterado para lidarmos com os 60+”, disse. 

Transição energética e clima

A primeira recomendação do B20 para a área é triplicar a capacidade instalada globalmente até 2030, focando em energia solar, eólica e hidrogênio verde para descarbonização, e a segunda gira em torno de promover o mercado de NCS (Nature Climate Solutions, ou soluções baseadas em natureza) até 2030.

Para atingir esses objetivos, o grupo propõe o estabelecimento de mercado regulado de carbono até 2030 — atualmente, um projeto para um mercado brasileiro está no Senado, mas também há desafios internacionais para um mercado global previsto no Acordo de Paris. As metas defendidas pelo B20 incluem a redução de 2,9 bilhões de toneladas nas emissões globais até 2030, e desmatamento zero de florestas nativas até 2030.

Transformação digital

“Precisamos ser ousados e responsáveis”, disse Fabio Coelho, CEO do Google no Brasil, durante painel sobre inteligência artificial, um dos hot topics do evento. Segundo o empresário, o alto nível de ditalização do Brasil faz com que adotemos IA antes da regulação — “e a regulamentação deve ser boa o suficiente para continuar com a evolução que temos”, segundo o executivo. 

Conheça o JOTA PRO Poder, uma plataforma de monitoramento político e regulatório  que oferece mais transparência e previsibilidade para empresas

As recomendações na área de IA são um dos legados mais esperados do G20, e o B20 sugere a harmonização dos Padrões de IA e Dados, com o desenvolvimento de uma regulação internacional para o uso ético de IA e proteção de dados até 2027. Os padrões se alinhariam ao conceito de “Livre Fluxo de Dados com Confiança”, uma abordagem proposta pelo grupo que propõe que os dados possam circular entre países sem barreiras excessivas, mas com regulamentações que protejam a segurança, privacidade e confiança do usuário.

“Está acontecendo, a regulação está vindo, e, de novo, os europeus estão na frente”, disse Fariba Wells, vice-presidente de assuntos globais da Kryndryl, uma das maiores provedoras de serviços de infraestrutura de tecnologia da informação. “Qualquer um que não se preparar para isso está sendo no mínimo negligente”. 

Além de IA, o B20 recomenda como prioridade garantir cobertura de conectividade de 90% em áreas rurais e urbanas até 2026, com redução de tempo de resposta a acidentes cibernéticos e estabelecimento de padrões internacionais de segurança digital até 2026, reduzindo o tempo de resposta a incidentes de 277 para 200 dias.

Mulheres, diversidade e inclusão

A primeira recomendação do B20 nesse âmbito é exigir programas obrigatórios de diversidade e inclusão em todas as empresas participantes até 2025, com foco na criação de ambientes de trabalho que combatam assédio e discriminação. A segunda é focada em aumentar a representatividade feminina e de minorias em cargos executivos e de liderança, com incentivos fiscais para empresas participantes que promovem diversidade.

As ações para esses objetivos envolvem estabelecer compromissos setoriais para reduzir disparidades salariais de 12% para 7% até 2030, e a meta de 40% de mulheres em cargos de média e alta gerência até o mesmo ano, com parcerias que ofereçam financiamento e mentoria para empreendedores sub-representados.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *