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Ao confirmar ser pré-candidato a prefeito de Curitiba, o deputado estadual Goura Nataraj (PDT) ressalta que não está fechado ao diálogo com outros candidatos de oposição ao prefeito Rafael Greca (PSD), que pensam nele como vice. Sua candidatura não se trata, segundo ele, de um “dogmatismo”. A escolha da palavra é significativa. Em sua tese de mestrado, sobre o filósofo Arthur Schopenhauer, ele diz que o verdadeiro problema do mundo é o mundo “ele mesmo”, não o mundo construído na cabeça de cada um por “dogmas e sistemas de pensamento que não se conectam ao mundo”.
Ao mesmo tempo, ele diz que a Curitiba inovadora que está na cabeça de muitos é hoje só uma ideia. Uma representação do passado mantida viva pela propaganda.
Nascido Jorge Brand, o deputado adotou o nome Goura ao se aprofundar em doutrinas indianas e se destacou como ativista pelo ciclismo e meio ambiente. Está no segundo mandato de deputado estadual e foi o segundo colocado para a prefeitura em 2020, derrotado no primeiro turno por Greca.
Nesta entrevista, parte de uma série com pré-candidatos à prefeitura de Curitiba, o pedetista tenta não se identificar como candidato de esquerda. Filho da classe média, foi mais votado nos bairros centrais, mas coloca o foco das propostas nas periferias. E tenta conectar pautas como ciclismo, cannabis e parto humanizado com o mundo de preocupações concretas das pessoas mais pobres.
O senhor realmente é pré-candidato? Há outros partidos contando com o senhor para vice.
Eu sou pré-candidato, isso é fato. A gente só é candidato a partir das convenções. Então, todo o nosso esforço, a nossa energia, a nossa dedicação aqui está para construir essa pré-candidatura. Isso já teve lançamento oficial do partido aqui em Curitiba. Tem o aval, o apoio do nosso presidente, ministro Carlos Lupi [do Trabalho], do deputado federal André Figueiredo [do Ceará, presidente em exercício do partido] e da executiva nacional do PDT. Eu creio até nas palavras do presidente Lupi: a nossa pré-candidatura aqui em Curitiba é uma das prioridades do PDT nacional. Eu fui candidato em 2020, a gente ficou em segundo lugar.
Bem à frente do PT, não é?
Ficamos com mais de 110 mil votos, enquanto o candidato bolsonarista, que era o grande nome da direita ali, ficou com 50 mil apenas, que foi o delegado Fernando Francischini. Aqui em Curitiba, a minha pré-candidatura é um fato. Pelo PDT isso está pacificado. O que a gente tem em curso? São diálogos com alguns outros partidos. Com a federação do PT, PCdoB e PV, que tem também alguns nomes como pré-candidatos, principalmente nomes do PT. A gente está dialogando também com a Rede, com o PSOL, com a federação dos dois partidos. Dialogando também com o PSB, com o deputado Luciano Ducci, ex-prefeito. E com alguns outros partidos que eu vejo que talvez seja mais difícil a gente compor.
No caso do PSDB existe também o diálogo?
Existe. Mas o ex-prefeito e ex-governador Beto Richa está se colocando também. A gente tem um campo de diálogo que tem críticas à atual gestão, do prefeito Greca, e quer apresentar um projeto para a cidade. O que posso colocar com certeza: primeiro, da minha parte, a pré-candidatura é um fato; segundo, a gente tem esse diálogo e não existe da nossa parte um dogmatismo, porque temos que avaliar a conjuntura. A eleição muito provavelmente vai ser de dois turnos, diferentemente de 2020, que foi em meio à pandemia. Agora a gente observa uma fragmentação, principalmente do campo da direita, com quatro, cinco candidaturas, e sem franco favoritismo. Entendo que a gente não pode fechar portas nem destruir pontes entre os partidos, mas ter uma visão estratégica para a melhor decisão que vai ser tomada ali no mês de julho, perto das convenções.
Qual é o principal argumento que o senhor tem para que, primeiro, o senhor seja esse candidato da esquerda e, segundo, para que o senhor seja eleito prefeito de Curitiba? Qual é o seu argumento central?
Eu não quero ser o candidato da esquerda, quero ser o candidato de Curitiba. Fui vereador, estou no segundo mandato de deputado estadual e toda a minha atuação política, mesmo antes da política partidária, sempre foi pautada na discussão da cidade, mobilidade, ecologia urbana, discussões centrais para o dia a dia na cidade. Há 20 anos discuto Curitiba, os problemas e as soluções possíveis. E, mais do que um projeto individual, a gente representa um projeto coletivo de construção da cidade. Curitiba já foi uma cidade referente no urbanismo, na mobilidade, e hoje em dia é uma cidade referência na propaganda falsa de uma realidade que não existe. É uma das cidades mais violentas do Brasil, é a capital com a tarifa do transporte coletivo mais cara, com maior relação de automóvel por habitante. E tem gravíssimos problemas de habitação, gravíssimos problemas ambientais e sociais. Nossa pré-candidatura está colocada na perspectiva de recuperar o que a cidade já teve como grande virtude, que era a prioridade do urbanismo pensado para as pessoas. Estamos envolvendo pesquisadores, universidades, trazendo representantes das associações de bairro, movimentos sociais. E temos que falar de pontos centrais, políticas de moradia, mobilidade, economia, geração de emprego, cultura. Então, creio que a minha principal prerrogativa e qualificação para querer ser prefeito de Curitiba se baseia nesse histórico de atuação centralizada no urbanismo, junto com o processo de escuta, de participação, e de envolvimento de muita gente para pensar soluções para os problemas complexos que a gente tem.
O senhor avalia a gestão atual de uma forma bem crítica. Agora, as pesquisas mostram uma grande aprovação às gestões municipal e estadual. E ambas vão apoiar a candidatura do vice-prefeito Pimentel. Como o senhor pretende convencer as pessoas a mudar um grupo no poder que elas estão aprovando?
O governador e o prefeito têm aceitação popular, apesar de vários desastres na administração pública que parece que não colaram na imagem deles. Curitiba foi referência no transporte coletivo e hoje é referência de como não administrar o transporte coletivo. A primeira ação do prefeito foi extinguir a tarifa mais barata aos domingos. Agora, ano de eleição, ele disse que vai reativá-la. A gente já está enfrentando grandes máquinas de propaganda, de poder político e econômico, mas a nossa principal virtude é a possibilidade de mostrar que Curitiba, que é uma grande cidade, com qualidade de vida muito boa, pode ser ainda melhor se a gente tiver processos de participação e de priorização dos serviços. Por exemplo, Curitiba, que se diz cidade educadora, a mais inteligente do mundo, tem 7.500 crianças sem creche, uma situação calamitosa na educação, com professoras e professores adoecendo, porque não há concurso, não há plano de carreira. Temos de pensar o desenvolvimento de forma descentralizada. Curitiba tem 75 bairros, mais de 2 milhões de habitantes, e a prioridade da gestão está no centro-norte, na Regional Matriz. Os bairros mais populosos, na região sul, são esquecidos em vários aspectos da infraestrutura, educação, saúde, transporte coletivo. Faremos uma campanha pautada em mostrar que essa cidade, que já foi referência, pode se tornar ainda melhor, e que a gente quer qualidade de vida do Batel para toda a cidade, para quem mais precisa do poder público, principalmente a população que não aparece no cartão postal da prefeitura.
Na eleição de 2020, a sua maior votação foi exatamente na zona central, na 177ª zona eleitoral. E a sua menor votação foi na zona mais ao sul, que foi a única zona em que o ex-deputado bolsonarista Fernando Francischini ficou à sua frente. Como levar essa mensagem de inclusão para as zonas em que o senhor foi menos votado, é menos conhecido?
A gente está fazendo isso com diálogo, com participação. Eu tenho visitado os bairros, principalmente da CIC [Cidade Industrial de Curitiba], do Sítio Cercado, do Sabará, os bairros da região sul, conversando com lideranças, com vereadores, para a gente fortalecer essas demandas. Eu sou nascido aqui no centro de Curitiba, na Regional Matriz, cresci próximo ao estádio do Couto Pereira, onde vivo, no bairro do Alto da Glória. Tenho 44 anos, sou pai de duas meninas, e minha vida particular se deu principalmente nesta região. Então, é natural que seja onde eu sou mais conhecido. Eu creio que esse é um desafio, que eu mesmo me coloco, de conseguir fazer esse diálogo com a população, principalmente da região sul, mas com a população que, assim… Em geral, que às vezes não acompanha a política, não sabe do que está acontecendo, mas que vai ser impactada pelas decisões políticas, pelas eleições. Curitiba não é a exceção, a gente tem compra de votos, tem uma forma muito desigual de se fazer política, pautada no dinheiro, no poder econômico que se sobrepõe, e a gente vai ter esse enorme desafio de trazer a importância desse debate para a população, principalmente para a população mais carente, que é a população que mais depende dos serviços públicos.
Ao mesmo tempo a sua imagem está ligada a pautas como o ciclismo, canabidiol. Esse tipo de pauta, independentemente dos méritos, não podem ser vistas como distantes desses desafios do dia a dia que o senhor está apontando?
É, são pautas que… A bicicleta, por exemplo: é uma pauta que, de certa forma, não é vista pela imprensa como pauta da classe trabalhadora, apesar de ser. Há um imenso contingente de trabalhadores que utilizam a bicicleta, de estudantes, e a gente vê em todas as cidades brasileiras a completa falta de infraestrutura, principalmente nos bairros mais carentes, que carecem de ciclovias e ciclofaixas.
Normalmente são vistas como amenidades de bairros mais ricos.
Exato. E, na verdade, o que a gente defende é que o grande investimento de ciclovias e ciclofaixas tem que se concentrar na região sul da cidade, na conexão sul-centro. Porque é o principal contingente populacional, é a área onde a cidade é mais plana, em que há um fluxo enorme de trabalhadores e estudantes que usam a bicicleta, mas onde não se veem ciclovias nem um projeto ousado para garantir mais segurança e estimular que mais pessoas usem a bicicleta. Eu entendo que existem algumas pautas que, aparentemente, soam como distantes da realidade das pessoas, mas que impactam o dia a dia de todos nós. Seja falar do acesso ao medicamento de cannabis ou do fortalecimento do Sistema Único de Saúde como um todo, falar da mobilidade de forma ampla — a gente está falando da bicicleta, mas a nossa pré-campanha é a única que está falando da necessidade de reduzir o preço da tarifa do transporte coletivo, da ter ações de integração temporal, cartões diários, semanais…
Sobre isso, há pré-candidatos, como a deputada Carol Dartora [PT], falando em tarifa zero. Qual é a sua proposta para a tarifa do ônibus?
A gente tem falado da tarifa zero. Já são mais de 100 municípios brasileiros com tarifa zero. Na região metropolitana, já tem Rio Branco do Sul, Quatro Barras, e no estado temos Paranaguá, com mais de 100 mil habitantes. A nossa visão do transporte coletivo, desde vereador, é priorizar a função social do transporte e a redução da tarifa para os usuários, com melhoria da qualidade, aumento da frota e modernização dos serviços. A prefeitura nos últimos meses anunciou que finalmente os terminais vão poder recarregar cartões. É absurdo, em 2024, não ter essa possibilidade. Entramos na Justiça contra lei do prefeito Greca que prevê o confisco de créditos do transporte não utilizados após um ano. A prefeitura anunciou por diversos anos o aumento da tarifa com pouquíssima antecedência, e entramos na Justiça contra isso. O que queremos é um transporte que priorize os usuários e não o lucro dos empresários. E a próxima gestão vai ser responsável pela nova licitação do transporte. Queremos a participação da população, para termos um contrato moderno, que priorize a redução da tarifa, o horizonte da tarifa zero, multimodalidade. Pouca gente atentou para um detalhe: é possível prorrogar por mais 10 anos o atual contrato. E tenho certeza de que, se esse grupo que está na prefeitura conseguir ser eleito, vai manter o contrato. Nós faremos uma licitação com amplo controle, mecanismos que garantam a inovação e a redução da tarifa.
Em relação às suas propostas para a educação, o senhor tem falado muito sobre a questão das creches, então eu queria ouvir as suas propostas para a educação, tanto do ponto de vista de creche, quanto do ponto de vista dos primeiros anos do ciclo escolar.
A gente tem que reconhecer que tem uma crise da educação em Curitiba, e enquanto a gente negar a existência dessa crise, não vamos conseguir dar conta desse enfrentamento. Vamos primeiramente zerar o déficit das creches, com convênios, garantindo orçamento. São 7.500 crianças sem vaga. Em 2019, a prefeitura implementou o cadastro online, que funciona com precariedade. Às vezes, a família consegue vaga num bairro muito distante de casa. E há fechamento de creches. Isso impacta a renda das famílias, a educação, o desenvolvimento das crianças. O segundo ponto é um diálogo com o magistério e servidores para atualizar o plano de carreira e formação continuada. Isso foi interrompido pelo prefeito. E educação em tempo integral, bandeira do PDT que a gente quer trazer para Curitiba, junto com projetos interrompidos pelo Greca. A exemplo do que fez Medelín, a gente quer investir pesadamente nas áreas de maior vulnerabilidade, pensar a escola como centro de excelência, de integração, do esporte, cultura, educação, cidadania, segurança alimentar. Também é prioritário o bem-estar das professoras e professores. Há relatos de adoecimento da saúde mental. Um profissional para dar conta de salas com 30, 40 estudantes. E tem a situação gravíssima da inclusão de crianças com autismo, que não está acontecendo de forma adequada. Curitiba deve voltar a ser a cidade à frente no ranking do IDEB, não só pelo ranking, mas pela importância à educação num processo de desenvolvimento da cidadania. E integrar uma política transversal de educação, com prioridade ao acesso às escolas, com ciclofaixas, calçadas, áreas calmas, a presença da educação ambiental, educação climática.
E na área de saúde?
Além de fortalecer a estrutura do atendimento à saúde para a população que mais precisa, temos que falar da atenção primária, da promoção da saúde. Curitiba tinha mais de 1.200 agentes comunitários de saúde, de controle de endemia, e atualmente tem pouco mais de 500. A gente vive uma epidemia de dengue. Então, a prefeitura precisa tratar como prioritária essa questão, com a contratação imediata de agentes. Fortalecer também os investimentos nas áreas mais vulneráveis, aumentar o horário de atendimento dos postos, a valorização dos profissionais, bem como as parcerias, com universidades, com o governo do estado. Outro ponto: a população parece que esquece, mas o Greca fechou a UPA da Regional Matriz, no Hospital de Clínicas. A gente vai retomar a UPA da Matriz e ampliar o atendimento descentralizado da saúde em toda Curitiba, reabrir a maternidade do Bairro Novo, também fechada pela gestão Greca/Pimentel. A maternidade era referência no parto humanizado, que combate a violência obstétrica. E vamos fazer casas de parto — a gente não tem nenhuma! — e trabalhar esse bem nascer, o fortalecimento das políticas da maternidade como um todo. E pensar na região norte, que carece de um hospital, um pronto-socorro, principalmente para trauma. Eu tenho uma visão transversal de promoção da saúde: não podemos pensar uma secretaria da doença, tem que pensar uma Secretaria da Saúde. Então, atendimento de saúde nas escolas, promoção de bons hábitos alimentares, garantia da segurança alimentar, promoção de bons hábitos de esporte e combate ao sedentarismo vão ter impacto direto na saúde.
São muitas propostas para a saúde, educação, transporte. Todas com custo, impacto no orçamento. Cabe tudo isso dentro do orçamento de Curitiba? Vai ser preciso remanejar, despriorizar alguma área que está sendo priorizada hoje?
A gente vai priorizar justamente as funções mais necessitadas, garantir que as pessoas que mais precisam do orçamento público sejam atendidas. A gente vê um gasto enorme da prefeitura de Curitiba com questões que eu diria supérfluas ou desnecessárias. A gente gastou 12 milhões de reais, por exemplo, para fazer um evento de cidades inteligentes aqui, sem licitação nenhuma…
O senhor atribui a esse gasto o prêmio que Curitiba ganhou de cidade inteligente?
Eu fiz essa denúncia desde o início. A prefeitura, com exceção dos anos de pandemia, comprou os direitos de realizar esse evento, se não me engano, nas quatro edições. Deu um total de R$ 11,8 milhões. E é um evento privado, que tem seu mérito, obviamente não sou contra a ideia de pensar uma cidade inteligente, mas é muito curioso que, com alguns anos em que a prefeitura gasta esse dinheiro significativo sem licitação, ela ganhe um prêmio de cidade mais inteligente do mundo. O que reafirma a ideia de que a gente investe muito em propaganda e não no enfrentamento efetivo das questões que a gente tem. O orçamento que Curitiba destinou para ciclovia, para ciclofaixas, no ano de 2024, R$ 4 milhões. O orçamento que Curitiba destinou para o evento Cidades Inteligentes Expo foi R$ 4,2 milhões, se eu não me engano. Ou seja: a gente não está tratando como prioridade a mobilidade ativa. Por exemplo, Greca/Pimentel estão querendo comprar agora 70 ônibus elétricos, num custo de centenas de milhões de reais — de novo, sem licitação — quando isso deveria ser obrigação das concessionárias, por obrigação contratual. Não faz sentido a prefeitura comprar essa frota, a não ser que a gente tenha uma frota pública, o que não é o caso, porque essa frota vai ficar para as empresas. A gente poderia estar investindo esse recurso em áreas muito mais emergenciais, saúde, educação. Então, eu acho que é uma questão de prioridades.
O senhor pode dar um exemplo?
Curitiba é uma das cidades mais ricas do Brasil, com orçamento de mais de R$ 11 bilhões, e a gente tem que destinar esse recurso para as pessoas que mais precisam do poder público. É uma cidade que recentemente foi reconhecida como uma das cidades menos desiguais do Brasil. No entanto, quem vive aqui sabe que, talvez, se a gente ficar sempre nessa comparação com outras cidades, a gente pare de ser sensível à situação das desigualdades que aqui estão. Temos mais de 200 mil pessoas vivendo em situação de vulnerabilidade, mais de 450 áreas de ocupação irregular, e o enfrentamento da questão da moradia, que não acontece na atual gestão. Ao elencar prioridades, acho que, assim como foi feito nos anos 70, precisamos trabalhar com projetos de inovação de verdade. Quando o Jaime Lerner decide criar o BRT, junto com a equipe dele, não foi só porque era uma situação interessante do ponto de vista técnico, foi também uma opção financeira, porque não tinha recurso para fazer o metrô, para investir num transporte de alta capacidade. Então, havia a possibilidade, já prevista no plano diretor de 1963, de ter vias exclusivas para o ônibus. Ou seja, uma solução inovadora, inteligente de verdade. E é isso que a gente quer resgatar, essa tendência à inteligência que Curitiba tem, as possibilidades que o urbanismo dos anos 60, 70, 80, trouxe para a gente, para que a gente construa uma cidade menos desigual, que trate as mudanças climáticas com seriedade, uma cidade que seja de fato educadora e inteligente de verdade, não só na propaganda.
O senhor tem certa proximidade com a família Requião. Agora que o ex-governador Roberto Requião saiu do PT, o senhor está buscando o apoio dele?
A gente tem um amplo diálogo no momento, principalmente com o deputado Requião Filho, Maurício Requião, que é meu colega na Assembleia. A gente tem conversado, ele tem se posicionado de forma bastante descontente ali onde ele está agora, no PT. A gente tem dialogado de uma possibilidade futura, quando tiver a janela [para deputados migrarem de partido, em 2026], dessa construção dentro do PDT. Eu integro o bloco PDT-PT, a minha relação com o PT é muito boa, com todos os deputados, federais, estaduais, vereadores do PT. Não tenho nenhum problema, pelo contrário, é uma relação de construção. E também tenho uma relação muito boa com o ex-governador, ex-prefeito, ex-senador Roberto Requião. O governador Requião é uma grande figura, e a gente quer trabalhar próximo dele. A sua gestão em Curitiba teve o jargão “Curitiba Bela e Justa” e, de fato, a gestão enquanto prefeito foi uma das gestões que mais fez o enfrentamento do transporte coletivo. Ele implantou uma frota pública do transporte de ônibus, avançou muito em programas sociais. Então, eu quero sim conversar com o Roberto Requião. O deputado Maurício Requião já manifestou grande simpatia pela nossa pré-candidatura, esteve presente no lançamento dela. Então eu acho que a gente tem esse diálogo muito positivo com a família Requião.
O senhor seria a favor de uma frota pública de ônibus, da própria prefeitura?
Isso tem que ser muito bem estudado. Nos anos 80, quando o prefeito Requião implantou, era uma frota pequena, em uma cidade ainda muito pequena. Atualmente, é uma cidade complexa, metropolitana. O que não dá é para continuar do jeito que está, onde as mesmas poucas famílias tenham um monopólio da gestão do transporte, recebendo subsídios milionários, sem a redução da tarifa. E perdendo usuários. Então, seja uma frota pública ou uma concessão, com extremo controle social, com fiscalização, auditorias, com a presença efetiva de um conselho de transporte que fiscalize os custos, e que a gente mude também a maneira do pagamento da tarifa. Atualmente, a gente paga por passageiro, quando deveria pagar por quilômetro rodado. Deveria estar pensando em integração temporal, possibilitar que o transporte coletivo volte a ser vantajoso para o cidadão, que ele pense: vou de ônibus porque é mais barato, mais gostoso, e vou chegar mais rápido. E isso é possível. Curitiba, nas suas [vias] estruturais, na sua rede, que vem se aperfeiçoando no decorrer das décadas, pode possibilitar ações efetivas para que a gente busque, de fato, uma tarifa mais barata e uma qualidade maior para a população. Então, o horizonte de uma frota pública não está descartado. O que eu coloco como grande destaque é que o ano que vem vai ter um ponto de virada, a gente pode ter um ponto de transformação efetiva que é o novo contrato. Então, acho que toda a atenção pública, e isso tem que ser pautado nas eleições municipais, tem que ser falar do transporte coletivo, do novo contrato e das possibilidades que a gente pode implantar na cidade.