No mundo atual, a percepção das dificuldades não pode mais se dissociar do remanejamento dos quadros funcionais.
Pensando mais a longo prazo, a percepção das dificuldades possibilita uma melhor visão global dos métodos utilizados na avaliação de resultados.

pensamento do dia

Assim mesmo, a complexidade dos estudos efetuados ainda não demonstrou convincentemente que vai participar na mudança dos métodos utilizados na avaliação de resultados.

Identificando as faces do pecado em nós e no mundo

Spread the love

Aprofundando o assunto:

Em primeiro lugar, devemos considerar aquilo que o próprio Jesus nos revela: “Porque é do coração que provêm os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias” (Mt 15,19). A linguagem bíblica atribui ao coração (hebr. לֵ֣ב, gr. καρδίᾳ) uma conotação mais profunda do que a simples biologia. Com essa expressão, quer-se falar tanto das realidades carnais do ser humano (suas paixões e apetites, por exemplo) como das espirituais (as faculdades da alma — inteligência e vontade — e a inabitação trinitária), por onde identificamos três tipos de “corações” em nós: um carnal, um espiritual e um divino. Este último é gerado pela graça batismal, no centro de nossa alma, ao passo que os dois primeiros têm a ver com o composto humano e estão em constante guerra um com o outro, por conta do pecado original.

É próprio do homem amar, como é próprio da luz iluminar

A partir daqui, citaremos ipsis litteris (nos mesmos termos) de um capítulo da obra “Um olhar que cura: terapia das doenças espirituais” [1], com o fim de esclarecer melhor as sombras que aparecem no nosso interior. 

Essa verdade ressoa em nossos corações como algo evidente e, ao mesmo tempo, difícil de acreditar. Ao ouvi-la, sentimos um forte apelo para alçar voo na arriscada aventura de amar. Mas, dentro de nós – melhor ainda, diante dos nossos olhos –, encontramos a evidência patente de nossa fragilidade: uma espécie de força que nos leva a chafurdar na lama. A grandeza de nosso chamado contrasta clamorosamente com a miséria de nossa situação.

Desde os séculos mais remotos, a humanidade perplexa percebe essas duas tendências contraditórias, mas não consegue explicá-las. Nós, cristãos, no entanto, aprendemos a origem dessa contradição por meio da única realidade que poderia esclarecê-la: a Revelação.

A Revelação nos ensina: o homem é bom, mas está mal

Ou seja, o homem não é uma doença, mas está doente, e seu estado de doença espiritual requer uma cura. Este livro se propõe a ser uma pequena introdução ao conhecimento deste estado doentio e de sua terapia de acordo com a tradição mais antiga da Igreja.

Qual seria então a primeira consequência deste estado doentio? Qual é a mãe de todas as nossas doenças espirituais? Segundo os Santos Padres, especialmente São Máximo o Confessor (580-662), na raiz de todos os pecados está uma doença espiritual chamada filáucia.

De origem grega (philía + autós), a palavra filáucia designa o amor que uma pessoa tem por si mesma, o amor-próprio. A definição etimológica, no entanto, não é suficiente. Ao afirmarmos que a filáucia é sinônimo de amor-próprio, algumas pessoas poderiam ser induzidas a pensar erroneamente que se trata necessariamente de uma espécie de egoísmo. Mas não é assim. O significado originário da palavra filáucia é positivo e trata-se de uma virtude. O amor-próprio não é uma invenção malévola do demônio ou do homem pecador. É isto mesmo: o amor-próprio foi criado por Deus e pertence à natureza sadia do homem, como Deus a sonhou. Por isso não é de se espantar que o próprio Jesus (cf. Mt 22,37-39), depois de apresentar o mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas (cf. Dt 6,5), faça questão de acrescentar o preceito de amar ao próximo tendo como medida o amor por si mesmo: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18).

Ora, Nosso Senhor não canonizaria o egoísmo

É verdade que existe uma forma doentia de a pessoa amar a si mesma, e é a respeito desse amor desordenado que estamos falando. Como então funcionaria o coração de um homem sadio? Como é possível ter um amor-próprio adequado e belo? Antes de tudo, o que se deve constatar é que o amor de si não é o primeiro passo. Se pensarmos em nossa história pessoal com sinceridade e profundidade, concordaremos com São João: antes de qualquer amor surgir em nosso coração, nós fomos amados (cf. 1Jo 4,10). Deus nos amou primeiro e o nosso amor será sempre uma resposta, um segundo passo.

Disso se compreende por que, no coração de um homem sadio, não pode faltar essa resposta. O amor a Deus não é apenas uma das tantas qualidades do coração do homem: é a primeira e mais importante de todas as qualidades, pois é a primeira verdade que Deus revela a nosso respeito. Santo Agostinho (354-430) nos recorda que o ser do homem foi feito para responder ao amor de Deus, quando diz: “Senhor, fizestes-nos para vós e o nosso coração está inquieto, enquanto não repousar em vós”2. Por isto, amar a Deus não é um luxo, um acessório dispensável, e sim a realização de nosso próprio ser. Assim como é natural que uma videira dê fruto ou que uma abelha produza mel, é natural que um homem saudável ame a Deus. O primeiro mandamento – “amar a Deus sobre todas as coisas […]” – não é uma exigência de um Deus ciumento e caprichoso. É o conselho de um Pai amoroso que nos ensina o caminho da felicidade. A consequência é lógica: se amarmos a Deus de todo o nosso coração, estaremos, de modo indireto, amando a nós mesmos, visto que não é possível uma pessoa amar a si mesma e odiar a fonte do seu próprio ser. Seria um contrassenso; uma atitude semelhante a meter a enxada nos próprios pés, ou cortar o galho sobre o qual se está sentado. Ao amar a Deus, a pessoa demonstra que ama a si mesma. 

Em face desse tema, logo é preciso reconhecer, para compreender os reais problemas que temos. Papa Francisco escreveu um livro intitulado: “Sobre acusação de si mesmo – O caminho da humildade” [2]. Assim dizia que acusar a si mesmo implica valentia pouco comum para abrir a porta a coisas desconhecidas e deixar que os outros vejam além de minha aparência. É renunciar à maquiagem, para que se manifeste a verdade. Ainda na obra, escreve o Papa argentino citando outro teólogo (idem, p.13): que a falta de contato com uma objetivação real vai amuralhando tais almas em certa ideologia defensiva. Elas trocam a doutrina pela ideologia, a peregrinação paciente dos filhos de Deus pelo vitimismo do complô que os outros (os maus, os poderosos, os superiores, os membros da comunidade) fazem delas. Acabam enroladas em palavras que as aprisionam, segundo o dito que diz que as palavras que nascem da mente são um muro, e as que nascem do coração são uma ponte (Tomás Spidlik). 

Logo, a primeira coisa que devemos ter conosco é a honestidade

Saber de que barro somos feitos, buscar corrigir-se em nossos gatilhos, aguçar a percepção para que não nos autossabotemos. Hoje, vemos muitos se valerem de teorias que afiançam o próprio pecado, como justificação ou validação de seus atos. E isso não só acontece neste âmbito moral, mas se aplica a toda vivência social em amplo aspecto. Reconhecer-se pecador exige coragem, nobreza de coração e, por isso, honestidade. É assim que se desmarca as faces do mal em nós e no mundo, através da verdade.

Guilherme Razuk – Seminarista na Comunidade Canção Nova

[1] AZEVEDO JÚNIOR, Paulo Ricardo de. Um olhar que cura: terapia das doenças espirituais. 11. ed. São Paulo: Canção Nova, 2010. 159 p. ISBN 978-85-7677-119-7.

[2] BERGOGLIO, Jorge M. Sobre acusação de si mesmo – O caminho da humildade. São Paulo: Ave-Maria, 2016. ISBN: 9788527614542

O post Identificando as faces do pecado em nós e no mundo apareceu primeiro em Formação.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *