Leilão de Reserva de Capacidade em Baterias: armazenando futuro?

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A crescente participação de fontes renováveis na matriz elétrica brasileira tem consolidado a posição do país como protagonista mundial da transição energética.

A oferta hidráulica, associada ao incremento expressivo das fontes eólica e solar na geração de energia elétrica, assim como da biomassa, contribuíram para que a matriz energética brasileira se mantivesse em um patamar renovável de 49,1% em 2023, muito superior ao observado no resto do mundo e nos países da OCDE.

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No caso da energia elétrica, a participação de renováveis na matriz ficou em 89,2%, tendo a oferta interna de energia solar fotovoltaica atingido 50,6 TWh (geração centralizada e MMGD), e a sua capacidade instalada alcançado 37.843 MW, representando uma expansão de 54,8% em relação ao ano anterior. E a geração de energia eólica atingido 95,8 TWh e a sua potência instalada 28.682 MW, expansão de 20,7% em comparação ao ano anterior, segundo dados do Balanço Energético Nacional de 2023.

No entanto, o país ainda enfrenta desafios importantes relacionados à geração de energia a partir de fontes renováveis, como aqueles ocasionados pelos crescentes eventos de curtailment, nos quais a geração de eletricidade é limitada por determinações do Operador Nacional do Sistema (ONS) devido ao excesso de oferta em determinados momentos do dia e/ou restrições na rede de transmissão do Sistema Interligado Nacional (SIN).

A exploração de sistemas de armazenamento de energia se destaca como uma solução promissora para mitigar os desafios enfrentados pelos segmentos de geração de energia eólica e solar. O armazenamento de energia em baterias, como as estacionárias de lítio ou íons de sódio, permite que a energia gerada em momentos de baixa demanda a partir de fontes intermitentes (e renováveis) seja utilizada em períodos de demanda elevada, aumentando a eficiência e confiabilidade do SIN.

No último mês de setembro, o Ministério de Minas e Energia deu um passo importante rumo ao fomento de soluções de armazenamento de energia no SIN, com a abertura da Consulta Pública 176/2024 para a coleta de contribuições da sociedade sobre a contratação de energia elétrica a partir de sistemas de armazenamento, a partir de Leilão de Reserva de Capacidade na forma de Potência (LRCAP), previsto para junho de 2025. Os empreendimentos contratados no LRCAP terão o compromisso de fornecer até quatro horas diárias de potência, com possibilidade de despacho adicional a critério do ONS. 

Segundo a International Energy Agency (IEA), a capacidade global de sistemas de armazenamento deverá aumentar de menos de 200 GW em 2023 para mais de um terawatt (TW, equivalente a mil GW) até o final da década e a quase 5 TW até 2050, para que sejam atingidas as metas do Acordo de Paris quanto às emissões líquidas de carbono. A projeção ressalta a relevância de iniciativas como o LRCAP no Brasil, que não só facilita a transição energética, mas também alinha o país com as metas climáticas globais.

A exploração de sistemas de armazenamento em baterias representa uma solução possível aos eventos de curtailment e alternativa à expansão da geração de energia a partir de fontes renováveis no setor elétrico brasileiro. Ao permitir um melhor equilíbrio entre oferta e demanda, esses sistemas não apenas aumentam a eficiência no uso da capacidade instalada do SIN, mas também fomentam necessária a adoção de fontes energéticas limpas para um futuro de baixo carbono. A abertura do LRCAP é um passo importante neste caminho. Dois coelhos em uma cajadada só. 

Brasil. Empresa de Pesquisa Energética – EPE. Balanço Energético Nacional 2024: ano base 2023. Rio de Janeiro, 2024.

Brasil. Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE. Relatório Anual de 2020, São Paulo, 2021.

Brasil. Ministério do Meio Ambiente – MMA. Contribuição Nacionalmente Determinada do Brasil, Brasília – DF, 2016. 

International Energy Agency. World Energy Outlook 2023, Paris, 2024. 

International Renewable Energy Agengy – IRENA. Electricity storage and renewables: Costs and markets to 2030, Abu Dhabi, 2017. 

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