Na reta final, Trump ganha fôlego na busca por um segundo mandato nos Estados Unidos

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Com o fim do ciclo eleitoral municipal se aproximando no Brasil, as atenções no nosso debate público já deviam estar voltadas aos resultados das eleições presidenciais e legislativas dos Estados Unidos. Isso porque o principal fator desestabilizador da política nacional nos últimos 10 anos inspira-se no seu irmão estadunidense. O trumpismo está para os Estados Unidos tal como o bolsonarismo está para o Brasil, ainda que por estas bandas o seu grande inspirador—o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)—esteja com sua liderança contestada. 

Segundo agregadores de pesquisa, faltando 15 dias para a eleição, o retorno do republicano Donald Trump à Casa Branca é o cenário mais provável depois que o presidente cresceu nas intenções de voto nacionais e nos chamados estados-pêndulo, que são aqueles cruciais para o resultado da eleição. Nos Estados Unidos, a eleição presidencial não é decidida pelo voto popular, mas pelo colégio eleitoral, cujos 538 eleitores sobrerrepresentam estados menos populosos e mais rurais—e, portanto, conservadores e republicanos.

A atual vice-presidente Kamala Harris, que sucedeu o incumbente Joe Biden como candidata presidencial pelo Partido Democrata após a desistência dele em buscar a reeleição, depois de uma série de gafes que evidenciaram suas limitações físicas e cognitivas para seguir governando Estados Unidos num eventual segundo mandato, vem perdendo terreno semana após semana.

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O que surpreende na disputa americana é a inexistência de vantagem para o campo democrata mesmo com performance econômica superior a apresentada por Trump durante seu governo, de 2017 a 2021. Trump enfrentou a Covid-19, mas o pior momento econômico dos últimos anos deu-se sob Biden e Harris, com o aumento da inflação em meio à ruptura das cadeias globais de valor e escassez de produção doméstica como resultado do necessário controle da circulação de pessoas para evitar ainda mais mortes na pandemia.

Dito isso, durante a administração Biden-Harris os salários cresceram mais rapidamente em média do que a inflação. Num país de dimensões continentais como os Estados Unidos, isso pode não ser nada se em alguns estados ou regiões a colheita desses frutos não ocorreu ou ainda está em processo. Assim, a hipótese mais provável para a inesperada desvantagem democrata reside nas disputas identitárias nas quais se alicerçam o trumpismo 

Convencionou-se a rotular de identitária apenas a defesa de minorias, sobretudo as raciais — como negros e latinos. Nada mais equivocado na medida em que, embora Trump também conte com a crescente simpatia de não-brancos, sua candidatura defende de modo cada vez mais explícito um supremacismo cristão e branco. Make America Great Again significa, acima de tudo, a recuperação de uma nação branca, anglo-saxã e protestante.

Assim, mesmo em meio a uma situação econômica relativamente melhor que aquela encontrada no começo do mandato de Biden, os democratas—inclusive na corrida para o Congresso—enfrentam dificuldades que Harris não consegue superar mesmo tendo escolhido um vice-presidente branco, o governador de Minessota, Tim Walz, que tem grande capilaridade e apelo junto ao eleitorado rural.

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Uma segunda presidência Trump implicaria em maiores perdas materiais e simbólicas para as minorias nos Estados Unidos. Já no Brasil, o governo Lula deve enfrentar grandes dificuldades, pois a oposição bolsonarista e da direita em geral — fortalecida pelo resultado das eleições municipais — vai se sentir encorajada a desestabilizar o governo até 2026 para fazer o presidente sangrar e derrotá-lo com maior facilidade em sua disputa por um quarto mandato. 

Em suma, esqueçam os mercados: é a identidade e não mais a economia que rege os desígnios de democracias diversas, como é o caso de Brasil e Estados Unidos, para não citar o Ocidente em geral, duramente impactado pela migração e os discursos demagógicos contra ela, alimentados por figuras como Trump e outros membros da extrema-direita.

Mesmo sem ondas migratórias fortes, o Brasil parece seguir o mesmo destino com base numa guerra cultural, em grande parte desenhada pela mudança religiosa de um Brasil de maioria de católicos não-praticantes para evangélicos duramente engajados na política. Seja no mundo desenvolvido, seja aqui no Brasil e outras partes do Sul Global, residem nessa mistura entre identidade e política os desafios mais cruciais que a democracia vem enfrentando neste século.

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