O imposto está em todo lugar

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Após 25 anos trabalhando na área tributária, ainda tenho certa dúvida se quando falo do tema para quem não é dá area se estão realmente entendo o que estou falando ou, simplesmente, pensam em suas mentes: OK, esse tema é muito chato e complexo, confio em você, vamos para o próximo tema. Isso acontece com qualquer nível hierárquico ou classe social. 

No cotidiano, as pessoas preferem delegar a declaração do imposto de renda (IR) para um parente ou um contador em quem confiam e morrem de medo do Leão.  Já no mundo corporativo, dada a alta complexidade de certos assuntos, muitos devem pensar: esse cara é louco ou, legal, mas é muito complexo essa ideia, vamos deixar “on hold”.

A verdade é que, às vezes é melhor ser um “ignorante” tributário, pois quando você entende do tema e descobre os “pedaços da pizza” que o governo come é assustador!

Pare e pense: quanto efetivamente da sua renda fica no seu bolso e quanto fica com o seu maior acionista (governo)?

Vejamos: impostos sobre seu salário – imposto de renda e INSS entre 20 e 25%. Mas fique tranquilo, você pode abater R$ 1.800,00 do gasto anual com a escola do seu filho.

Impostos sobre o que você consome: Energia elétrica e telecomunicação – 40%. Isso porque itens essenciais deveriam ter tributação reduzida. Vestuário: 37%, ok, roupa não é essencial, podemos andar nus. 

Conta rápida = 25% do salário + 40% do consumo = 65%. Deu para entender qual foi o tamanho da mordida na pizza? Pois é, não é à toa que o Brasil é conhecido como o país dos impostos.

O imposto está em todo lugar, quando você nasce, na conta do hospital tem imposto. Quando você está dormindo, sua geladeira fica consumindo energia e sobre essa energia você paga imposto. Quando você acorda e vai ao banheiro lavar o rosto, aquela água tem imposto. Quando você vai para o café da manhã, pães, o cafezinho, a manteiga, tudo com imposto. Quando você coloca a ração do seu PET, imposto. Quando você vai para o escritório, independente do meio de transporte, imposto. Chegou a hora do almoço com os colegas do escritório, imposto. Você morreu, alguém vai comprar seu caixão, imposto. Irão providenciar uma lápide para visitas sobre uma mensalidade amigável, mesmo morto, imposto!

Quem transpira tributos no mundo corporativo, sabe que acompanhar tudo o que acontece e dar visibilidade dos impactos para o negócio de uma forma simples, ágil e assertiva não é tarefa fácil, só para os “loucos” mesmo. Você passa uma mensagem no primeiro dia do ano e, após algumas semanas, precisa bater na porta da alta liderança e dizer: sabe o que é, aquela estimativa que eu fiz a semana passada mudou, seríamos impactados em 10x, mas agora virou 20x. Como passar credibilidade desse jeito? Imagine explicar isso para um estrangeiro que veio de um país “normal”.

Quantidade de regras tributárias? 

ICMS são 27 legislações diferentes, ISS são 5.568 legislações municipais, impostos federais são centenas de legislações, totalizando 38.540 normas tributárias no país. Substituição tributária para frente e para trás, regime monofásico, subvenção para investimento, preço de transferência diferente do resto do mundo, imposto de renda anual, mas paga antecipado mensalmente e se pagar a mais depois você pede de volta.

Mas calma que agora, não exatamente agora (daqui a dez anos), teremos a tão sonhada reforma tributária (música que escuto desde a época em que eu empinava pipa), que simplificará todo o sistema e todos serão felizes para sempre. Rezo para que realmente seja aprovada buscando a simplificação e que deixem de lado o “toma lá da cá” do setores que estão dentro do governo fazendo lobby.

Quer um humilde conselho: continue sendo um “ignorante tributário”. Quem esperou até agora, espera mais uma década. Como dizia Churchill, leis são como salsichas, é melhor você não saber o que tem dentro delas.

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