No mundo atual, a percepção das dificuldades não pode mais se dissociar do remanejamento dos quadros funcionais.
Pensando mais a longo prazo, a percepção das dificuldades possibilita uma melhor visão global dos métodos utilizados na avaliação de resultados.

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Assim mesmo, a complexidade dos estudos efetuados ainda não demonstrou convincentemente que vai participar na mudança dos métodos utilizados na avaliação de resultados.

O que está por trás da onda anti-ESG que tem surgido?

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Recentemente, algo que parecia impossível tem se apresentado como uma realidade emergente em nível global: uma onda anti-ESG que questiona o inquestionável. Por que afinal é importante que grandes empresas, em todo o mundo, com faturamento de bilhões cresçam economicamente, atentando para os princípios Ambientais, Sociais (incluindo Diversidade) e de Governança?

Alguns exemplos dessa onda: o artigo sob o título “A tirania DEI”, de Ana Maria Diniz, empresária e conselheira do Todos pela Educação e Parceiros pela Educação, publicado no Valor Econômico; em outro momento, Elon Musk postou no X (antigo Twitter) a frase com o trocadilho “D&I – Must DIE”, como uma reprimenda direta às iniciativas de diversidade, isso porque está tendo de lidar com as críticas crescentes de que a plataforma está amplificando conteúdo antissemita e de propagação de ódio. Por fim, o vídeo “A Face Oculta da Agenda ESG”, produzido e publicado pelo Brasil Paralelo, canal de conteúdo sobre política e história com viés conservador e de extrema direita.

Como diria Aldous Huxley, autor de Admirável Mundo Novo, “em tempos difíceis o óbvio precisa ser reforçado” e, ainda, citando Simone de Beauvoir: “Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida”.

Nesse ponto, tomo a liberdade de acrescentar que o direito de todos os grupos minorizados está sendo questionado. Por isso, eu, com 20 anos de carreira em ESG em grandes empresas, um mestrado em Políticas Públicas e após atuar por anos com estratégia de sustentabilidade e diversidade corporativa, mitigação e gestão de riscos, multas milionárias, entre outros, em projetos no Brasil, na América Latina e nos Estados Unidos, afirmo com convicção que as companhias que desconsideraram fatores ambientais, sociais e de governança – premissas básicas essenciais para qualquer negócio – em algum momento, cedo ou tarde, verão a conta chegar, inevitavelmente!

Falando de valores financeiros, lembremos que a Vale S.A informou, em setembro de 2023, que a Controladoria-Geral da União (CGU) manteve a multa de aproximadamente R$ 86,3 milhões no âmbito de processo administrativo de responsabilização sobre o rompimento da barragem da empresa em Brumadinho (MG).

Em 2017, a Zara teve que pagar multa de R$ 5 milhões por trabalho escravo e recebeu um Termo de Ajustamento de Conduta constando 27 obrigações, com multa de R$ 10 mil para cada obrigação descumprida e de R$ 3.000 por cada trabalhador prejudicado. Em 2021, o Carrefour concordou em pagar R$ 115 milhões de multa pela morte de João Alberto, homem negro assassinado por um segurança no estacionamento de uma de suas lojas.

Além disso, o impacto na reputação das empresas é incalculável. Embora a sociedade brasileira pareça ter memória curta, basta algum escândalo com qualquer uma dessas empresas ocorrer para que todo esse histórico venha à tona e volte a repercutir na mídia e nas redes sociais. É o chamado “telhado de vidro”. Não é fácil fazer a gestão de uma grande empresa, sabendo que a qualquer momento sua marca poderá ruir e perder valor de mercado.

Por fim, embora não devesse ter que relembrar, por trás disso tudo temos os valores humanos e sociais que constroem e perpetuam uma sociedade justa e perene. Como pode uma única empresa, a fim de obter lucros para um grupo restrito de acionistas, poluir o único rio de uma cidade inteira? Destruir uma cidade? Como é possível uma empresa perpetuar desigualdade social, econômica e financeira em uma determinada população? Como normalizar que alguns grupos achem certo terem seus direitos e facilidades garantidos perpetuamente, em detrimento de outros?

Atuamos para fortalecer o conceito da diversidade como um direito essencial aos seres humanos e como um valor universal, independentemente de suas características e singularidades. Por isso, reforço com muita propriedade, sem medo de falhar, pois vivemos sob a luz da Constituição da República Federativa do Brasil, que é, de fato, a Constituição da cidadania. Seu preâmbulo, ou seja, parte preliminar que traz os valores e ideais da Constituição, não deve ser esquecido, já enuncia o porquê de ela ser tão solidificada entre nós, mesmo que inconscientemente, como o documento da liberdade, da dignidade, da democracia e da justiça social no Brasil.

Os argumentos dos que são contrários ao ESG e à D&I são sempre tão incipientes que chegam a ser vergonhosos. No vídeo “A Face Oculta do ESG”, o interlocutor afirma que a agenda ESG aumenta o preço dos itens, diminui a livre concorrência de mercado e que algumas poucas pessoas não eleitas estão decidindo o futuro da humanidade.

Uma inversão grotesca que volta a exaltar o “business as usual”, ou, como diria Milton Friedman, “business of business is business”. Impossível pensar que, em 2024, após tantas catástrofes e crises envolvendo grandes empresas, com tantas derrocadas de grandes corporações por conta de má governança, após uma pandemia com impactos globais, o único negócio das empresas é o negócio. Desconsiderando as pessoas e o meio ambiente. Ignorando práticas básicas de governança como transparência, accountability, equidade e responsabilidade corporativa.

Estamos fazendo o que o empresariado mais abomina, perdendo tempo, tendo que voltar a discutir valores primordiais e universais já comprovados por estudos e alvo de consensos há décadas pela humanidade.

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