O timing do voto: Quando os eleitores decidem em quem votar?

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A pesquisa nacional da Confederação Nacional do Transporte (CNT), realizada em parceria com a consultoria de opinião pública MDA, revela um dado vital de qualquer eleição para as campanhas eleitorais: o momento em que os eleitores decidem em quem votar. Os números aferidos também têm profundas implicações sobre a precisão das pesquisas de intenção de voto, especialmente em disputas acirradas.

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Decisão tardia é exceção

Uma grande maioria de 75,9% – quase 8 de cada 10 eleitores – já havia decidido em quem votar para prefeito nas eleições municipais de 2024 desde o início da campanha. Esse dado, que é geral e não se refere a um município específico, sugere que as campanhas eleitorais têm um papel importante na consolidação da opinião dos eleitores, mas não necessariamente na mudança de opinião.

Mais reforço, menos conversão. O resultado da pesquisa parece confirmar uma tese clássica da ciência política, que considera que as campanhas eleitorais funcionam mais como mecanismo de reforço do que de conversão. Em vez de mudar opiniões, elas tendem a consolidar preferências já existentes. Isso ocorre porque a maioria dos eleitores não começam do zero quando uma campanha se inicia, já tendo sua decisão de voto tomada antes mesmo da campanha começar.

No entanto, ainda há uma parcela significativa de eleitores que decidem em quem votar mais tarde, seja na última semana ou até mesmo no dia da eleição.

Os números da decisão

Pelos números da pesquisa:

  • 76,2% não mudaram o voto ao longo da campanha
  • 75,9% decidiram no início da campanha
  • 9,6% decidiram a um mês da eleição
  • 7,1% decidiram na última semana
  • 6,9% decidiram na véspera ou no dia da votação

Isso significa que aproximadamente 14% dos eleitores fizeram sua escolha apenas na semana da eleição. Esse comportamento pode estar por trás das discrepâncias observadas entre as projeções das pesquisas e os resultados finais, especialmente no contexto das maiores cidades e capitais estaduais.

Relação entre voto no 1º e 2º turnos

No segundo turno, nove em cada dez eleitores (89,6%) que votaram em um candidato no primeiro turno mantiveram a mesma escolha. Entre os eleitores cujo candidato não avançou para o segundo turno, 74,5% escolheram um dos finalistas, enquanto 25,5% votaram em branco, nulo ou se abstiveram.

Entre aqueles que votaram em branco ou nulo no primeiro turno, 90,6% repetiram a mesma decisão no segundo turno. Contudo, é preciso considerar que o número de entrevistados em cidades onde houve segundo turno é de apenas 21,7% – cerca de 440 pessoas – o que representa uma parcela limitada da amostra total para realizar fortes inferências.

Implicações para as pesquisas

Embora a maioria dos eleitores (75,9%) decida seu voto desde o início e mantenha sua escolha (76,2%) durante toda a campanha, 14% decidem apenas na última semana – incluindo véspera e dia da eleição. Esse é um contingente expressivo, especialmente considerando que as pesquisas de intenção de voto geralmente captam apenas 2% ou 3% de indecisos nesse período final.

Dados do TSE mostram que, mais da metade das cidades brasileiras (52%) viram a diferença entre vitória e derrota ser menor que 14 pontos percentuais em 2024. Ou seja, municípios em que a diferença entre o primeiro e o segundo colocados foi inferior a 14 pontos percentuais. Além disso, em 1 a cada 5 cidades (21%), essa diferença foi ainda menor, ficando abaixo de 5 pontos percentuais.

Essa realidade impõe desafios. Em disputas acirradas, a volatilidade dos eleitores indecisos pode deixar as pesquisas tradicionais, baseadas em cenários estáticos, menos eficazes para a tarefa de “prever” o resultado da eleição. Em outras palavras, a discrepância entre as intenções de voto e os resultados das urnas pode exceder a margem de erro, mesmo em levantamentos realizados na última semana antes da eleição.

Portanto, apesar de suas falhas, as pesquisas de intenção de voto conseguem operar verdadeiros milagres ao revelar tendências importantes sobre o comportamento dos eleitores e, muitas vezes, antecipar de forma precisa os resultados da eleição, mesmo em condições tão dinâmicas. Além disso, como uma ciência das estimativas, seus erros são lições que periodicamente ensinam humildade aos praticantes.

Sobre a pesquisa

A pesquisa entrevistou presencialmente 2.002 pessoas em 137 municípios de todas as regiões do Brasil, entre 7 e 10 de novembro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para os resultados gerais. No estudo sobre a decisão de voto nas eleições municipais, a amostra considerou apenas os 77,4% dos entrevistados que afirmaram ter votado em algum candidato nas eleições.

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